SÃO PAULO - Das imagens em preto e branco de Pierre Verger e Jean Manzon ao colorido da produção contemporânea de nomes como as premiadas Bárbara Wagner e Cinthia Marcelle, é possível contar a história de quase 100 anos do Brasil por meio de sua iconografia . Essa multiplicidade de narrativas está distribuída pelas 44 galerias da 13ª SP-Foto, feira aberta ao público anteontem no Shopping JK Iguatemi, e, como não poderia deixar de ser, tudo é devidamente registrado pelos visitantes, celulares em mãos.
— A fotografia é uma linguagem contemporânea por excelência, que atrai um público jovem e familiarizado com o universo da imagem — destaca Fernanda Feitosa, idealizadora e diretora da SP-Foto e da SP-Arte. — É da essência da foto essa capacidade de responder a questões urgentes de forma rápida, e as redes sociais potencializaram este imediatismo.
Dentre estas questões prementes, a que permeia toda a feira é a ambiental. Mesmo com as galerias selecionadas meses antes, é impossível não pensar no noticiário dos últimos dias diante de obras de Sebastião Salgado ; Luciana Magno, que integra o próprio corpo à natureza do Pará; Jean Manzon (1915- 1990) e Luiz Braga, com registros históricos da população indígena e ribeirinha da região amazônica; e Caio Reisewitz, com uma série feita em Altamira (PA), antes e após a construção da usina de Belo Monte.
— Algumas fotos são de uma floresta que existia e hoje está submersa. E outras são de uma área que ainda resiste, mas que imprimi como um negativo, para que as imagens desaparecessem, como acontece com a natureza na região — comenta Reisewitz. — A forma de um fotógrafo gritar contra tudo o que está acontecendo é com o silêncio das imagens.
Além de conectar fotógrafos, galerias e o público, a SP-Foto também traz, há 11 anos, curadores e pesquisadores estrangeiros para estabelecer um diálogo com instituições internacionais. Entre os convidados da 13ª edição, estão Margot Norton, curadora do New Museum, de Nova York; Barbara Tannenbaum, do Cleveland Museum; Tanya Barson, do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA); Sophie Hackett, da Art Gallery of Ontario, no Canadá: e Julieta González, do Jumex, da Cidade do México.
— Já tinha pesquisado muita coisa, mas é diferente ver as obras dentro de um contexto — observa Sophie Hackett. — Estamos em meio a uma revolução digital, onde mais gente está produzindo imagens. Hoje, vemos curadores buscando artistas no Instagram, ou galerias fechando negócios ali. Como historiadora, acho que ainda é cedo para conseguirmos entender todo este impacto.
Tanto a emergência das possibilidades criadas pelos meios digitais quanto uma feira voltada à fotografia eram realidades inimagináveis quando Germán Lorca fez suas primeiras imagens, há 60 anos. Aos 97, o veterano fotógrafo mantém a rotina artística com o mesmo entusiasmo com que recebe colecionadores e admiradores na galeria Utópica, que o representa.
— Tenho duas Leicas digitais e sete analógicas, e fotografo sempre que posso — diz Lorca. — Hoje ficou mais fácil fazer uma foto boa, com todos os recursos. O difícil é criar algo novo, que ninguém tenha pensado.
Nelson Gobbi viajou a convite da SP-Arte