Mundo

Trump quer retomada da economia dos EUA em três etapas; sete estados prolongam quarentena contra novo coronavírus

Presidente americano anunciou plano que prevê cronograma para reabrir locais de trabalho, lazer e escolas; ele recua no confronto com governadores e reconhece que decisão sobre flexibilização do isolamento é deles
Presidente americano, Donald Trump, em entrevista coletiva diária sobre combate ao novo coronavírus Foto: MANDEL NGAN / AFP
Presidente americano, Donald Trump, em entrevista coletiva diária sobre combate ao novo coronavírus Foto: MANDEL NGAN / AFP

WASHINGTON — O presidente americano, Donald Trump , anunciou nesta quinta-feira um plano em três etapas para a retomada das atividades econômicas e sociais nos Estados Unidos , paralisadas por orientação da maioria dos estados por causa da pandemia da Covid-19 . O chefe da Casa Branca traçou diretrizes gerais que recomendam aos estados o início da flexibilização das medidas de isolamento para conter o novo coronavírus até o início do mês que vem. O plano foi divulgado durante a entrevista diária sobre o combate à doença, mas foi antecipado a governadores nesta tarde.

— Para preservar a saúde dos nossos cidadãos, devemos preservar também a saúde de nossa economia — declarou Trump, completando: — Para entregar comida e suprimentos médicos, temos que ter uma economia funcionando.

Coronavírus: número de mortes nos Estados Unidos passa de 30 mil

Na primeira fase recomendada por Trump, locais como restaurantes, cinemas e academias poderiam voltar a funcionar com regras rigorosas de distanciamento social e seriam permitidas reuniões de até 10 pessoas. Viagens não essenciais e a reabertura de escolas estão previstas apenas para a segunda etapa, quando seriam permitidas reuniões de até 50 pessoas. É também nessa fase que os bares poderão ser reabertos, desde que funcionem com uma capacidade limitada.

Na terceira, as pessoas consideradas vulneráveis — descritas no plano como idosos e pessoas com doenças pré-existentes, como diabetes e câncer — poderiam retomar as interações públicas, desde que mantenham uma distância segura. Visitas a hospitais e clínicas de repouso também voltariam a ser permitidas. O documento também prevê uma futura contratação de funcionários para rastrear novos contágios pelo coronavírus no país, através de testagens.

Críticas: Cientistas veem riscos nas diretrizes da Casa Branca para retomar atividades após coronavírus

Para seguir as orientações, os estados precisariam atender a precondições, como a queda de registros de novos casos da Covid-19 e de pessoas com sintomas parecidos com o da gripe, além da diminuição das internações e o aumento no número de testes. Antes de cada etapa, esses mesmo critérios também devem ser respeitados, disse Trump.

De acordo com uma fonte da Casa Branca que falou à agência Reuters, as diretrizes têm apoio de médicos e especialistas e devem servir como uma orientação aos estados. Os Estados Unidos registram atualmente mais de 650 mil casos da Covid-19, com mais de 34 mil mortes, mas a avaliação é que o pico do contágio já foi alcançado em algumas áreas.

Cortes na OMS: iniciativa de Trump desperta críticas ao redor do mundo

O presidente já havia falado que até o dia 1º de maio deseja retomar as atividades econômicas em algumas regiões hoje sob quarentena. No entanto, no sistema federalista americano ele não tem o direito legal de impor uma retomada aos estados. Por isso, só pode definir diretrizes gerais.

No discurso, Trump reconheceu essa prerrogativa dos governadores e afirmou que os estados terão autonomia para aderir ao plano. Ele também recuou em relação aos atritos entre o seu Partido Republicano e a oposição democrata, afirmando que é bom o relacionamento entre as duas legendas durante a crise.

— Todos estão trabalhando juntos. Democratas, republicanos, independentes, progressistas. Todos devem trabalhar juntos. Isso não tem a ver com partidos, mas com o nosso país — declarou.

Fim do confinamento: OMS recomenda que países esperem duas semanas para cada fase

Na coletiva de ontem, o presidente havia ameaçado suspender o Congresso alegando que os democratas, que têm a maioria na Câmara, o estavam impedindo de fazer nomeações para cargos federais que seriam necessários para o combate à pandemia — a medida é prevista pela Constituição americana, mas nunca foi tomada.

A pandemia foi um alerta vermelho para Trump, que vinha usando a bonança econômica como base de sua campanha à reeleição em novembro deste ano. Nos últimos dois meses, a paralisação do país fez com que mais de 22 milhões de americanos dessem entrada no seguro-desemprego — número que superou a quantidade de empregos criada depois da crise financeira de 2008.

Sete estados prolongam quarentena

Em direção oposta ao discurso de Trump, sete estados do Nordeste dos EUA estenderam o isolamento até 15 de maio nesta quinta-feira. A decisão foi liderada pelo governador de Nova York, Andrew Cuomo , que formou uma aliança com outros seis estados vizinhos —  Nova Jersey, Connecticut, Delaware, Massachusetts, Pensilvânia e Rhode Island.

Na semana passada, Los Angeles já havia estendido as restrições para a mesma data, assim como a capital, na última quarta.

— O que vai acontecer depois disso eu não sei. Vamos ver, vai depender do que os dados dizem — disse Cuomo, cujo estado é o mais atingido pela Covid-19.

Auxílio: Trump ordena que seu nome apareça impresso nos cheques de ajuda aos cidadãos

Já outros sete estados dos EUA, principalmente do Meio-Oeste, disseram nesta quinta-feira que trabalharão em conjunto para retomar as atividades econômicas. São eles:  Michigan, Ohio, Wisconsin, Minnesota, Illinois, Indiana e Kentucky — juntos, representam cerca de 16% da produção econômica total do país.

"Estamos ansiosos para trabalhar juntos para mitigar a crise econômica que esse vírus causou em nossa região", disseram os governadores desses estados em comunicado conjunto. "Reconhecemos que nossas economias dependem uma da outra e precisamos trabalhar juntos para reabri-las com segurança."