Edição do dia 27/04/2018

27/04/2018 21h32 - Atualizado em 27/04/2018 21h34

Temer diz que sofre ‘perseguição criminosa disfarçada de investigação’

Para investigadores, dinheiro de propina teria sido usado para pagar reforma de imóveis de parentes do presidente.

Em Brasília, o presidente Michel Temer fez cobranças nesta sexta-feira (27) em relação ao suposto vazamento de informações sobre investigações contra ele. Num discurso, o presidente disse que é alvo de uma perseguição criminosa disfarçada de investigação.

Foi de supetão e às pressas. O presidente Michel temer queria falar. Estava furioso com a notícia do jornal “Folha de S.Paulo” que dizia: “PF vê indícios de que Temer lavou dinheiro em imóveis”. Para investigadores, verba de propina teria sido usada para reformar imóveis de familiares do emedebista.

Foi também uma reação à informação revelada pela TV Globo na quinta-feira (26) de que a filha dele, Maristela Temer, foi intimada a depor pela Polícia Federal.

O presidente negou as acusações e chamou de irresponsável quem, segundo ele, tenta incriminá-lo.

“É uma perseguição criminosa disfarçada de investigação. Fazem-se ilações, as mais variadas. Supõe-se que, achamos que. E o ‘supõe-se que’ e o ‘achamos que’ é divulgado para a imprensa sem que, volto a dizer, a defesa tenha a menor possibilidade de ter acesso aos autos para ali manifestar-se adequadamente. Se pensam ainda, ilusoriamente, que vão derrubar, não irão conseguir”.

Temer falou por 15 minutos. Bateu no púlpito várias vezes. O presidente pediu uma sindicância para saber como a imprensa teve acesso aos dados do inquérito. O presidente supõe que a fonte dos jornalistas seja o presidente do inquérito.

“O ataque não é de natureza institucional. Fosse, eu compreenderia. O ataque é de natureza moral, de pessoas que eu não sei se têm moral para fazê-lo. Esta é a grande realidade. Se pensam que atacarão minha honra, da minha família e vão ficar impunes, não ficarão sem resposta, como esta que eu estou dando agora. Eu até solicitarei para que realmente as instituições possam funcionar regularmente, vou sugerir ao ministro Jungmann que apure internamente como se dão esses vazamentos irresponsáveis. Porque, mais uma vez eu digo, não é a imprensa que vai lá de forma, digamos, escondida, para examinar os autos. Os dados são fornecidos por quem preside o inquérito, quem comanda o inquérito, seja onde for e, naturalmente quando isso chega à imprensa, a imprensa divulga”.

Não é de hoje que o presidente ataca as investigações da Polícia Federal. Quando das denúncias da JBS, Temer também disparou contra a PF. Tanto antes quanto agora, a instituição não se manifestou sobre as críticas.

O delegado Cleyber Malta Lopes, que é responsável pelo inquérito dos portos, também ficou em silêncio. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, determinou a apuração do possível vazamento do inquérito dos portos. Ele disse que a violação do sigilo é passível de punição.

A Polícia Federal divulgou nota dizendo que “cumprindo determinação do ministério da Segurança, instaurou um inquérito policial para apurar o possível vazamento de informações”.

No fim da tarde, a Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal se manifestou sobre as declarações de Temer. Em nota, afirmou que “é necessário serenidade, sobretudo daquele que ocupa o comando do país, para que suas manifestações não se transformem em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal e que reitera que a instituição não protege nem persegue qualquer pessoa ou autoridade pública, apenas cumpre seu dever legal de investigar fatos”.

E destacou que, no caso concreto, vários documentos e peças das diligências estão disponíveis ao público no sistema de processo eletrônico do Supremo Tribunal Federal.

A associação disse ainda que é fundamental que as autoridades policiais tenham a tranquilidade necessária para realizar seu trabalho investigativo e que defende a apuração de supostos vazamentos causados por qualquer das instituições que manuseiam os autos.

E que a entidade seguirá vigilante com o desenrolar dos acontecimentos e não admitirá pressões ou campanhas com a finalidade de desacreditar a atuação dos delegados de Polícia Federal na condução dessa ou de qualquer outra investigação.

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