08/01/2015 14h54 - Atualizado em 08/01/2015 17h54

Após bloqueio em Itajaí, governo admite rever lista de pesca proibida

Bloqueio em SC impediu saída de navio com 2,4 mil pessoas por 30 horas.
Ministro da Pesca disse que protesto ocorreu em razão de 'desinformação'.

Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília

Transatlântico não tem previsão de sair do porto de Itajaí (Foto: Luiz Souza/RBS TV)Transatlântico ficou bloqueado por mais de 30 horas no porto de Itajaí (SC) devido a protesto de pescadores catarinenses (Foto: Luiz Souza/RBS TV)

Após pescadores de Santa Catarina bloquearem por mais de 30 horas a saída de um transatlântico no porto de Itajái (SC) em protesto contra lista do governo federal que restringe a pesca de algumas espécies no estado, os ministros da Pesca, Helder Barbalho, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, admitiram nesta quinta-feira (8), em Brasília, que a portaria que definiu as espécies proibidas para a pesca poderá ser revista.

A portaria número 445, de 17 de dezembro de 2014, reconhece mais espécies como ameaçadas de extinção e impede a captura desses animais. Entre eles, estão peixes como garoupa, namorado, cações, emplasto e arraias. A manifestação que bloqueou a saída do transatlântico no porto de Itajaí foi organizada por sindicatos de empresas da área pesqueira e pescadores que questionam a restrição da pesca na região.

Os ministros se reuniram nesta quinta com representantes do setor pesqueiro e com autoridades catarinenses para tentar encontrar uma solução para o imbróglio. Além dos ministros da Pesca e do Meio Ambiente, participaram do encontro o ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência da República), o prefeito de Itajaí, Jandir Bellini (PP), e o secretário estadual de Agricultura e Pesca de Santa Catarina, Airton Spies.

“A portaria poderá ser aperfeiçoada em função da espécie”, disse a ministra Izabella após o encontro.

No meu entendimento, a desinformação potencializou um sentimento que estava contingenciado"
Helder Barbalho, ministro da Pesca

Durante o protesto na segunda-feira, os mais de 1,8 mil turistas e cerca de 600 tripulantes que estavam no transatlântico Empress não puderam deixar a embarcação. A alfândega não permitiu que eles saíssem do navio porque o embarque já havia sido realizado.

O cruzeiro operado pela empresa Pullmantur deveria ter deixado Santa Catarina às 16h30 de segunda-feira em direção ao Uruguai. O navio foi impedido de navegar por vários barcos de pesca que se posicionaram para formar uma barreira.

Ao final da reunião desta quinta-feira no Ministério da Pesca, Barbalho e Izabella minimizaram a insatisfação do setor pesqueiro de Santa Catarina e atribuíram a motivação do protesto à “desinformação” a respeito da portaria federal que restringiu a pesca de algumas espécies de peixes. “No meu entendimento, a desinformação potencializou um sentimento que estava contingenciado”, destacou o ministro da Pesca.

Para a ministra do Meio Ambiente, “muito foi dito a respeito da [portaria] 445, mas, na verdade, [isso] provocou mais desinformação do que informação”. O dois ministros ressaltaram a disposição do governo em dialogar com o setor.

Dois grupos de trabalho foram criados para debater a portaria 445, que traz a lista de espécies sob ameaça de extinção. Os dois colegiados terão 30 dias para apresentar o resultado das discussões. Um dos grupos é formado por integrantes dos ministérios da Pesca e do Meio Ambiente e o outro inclui representantes do setor pesqueiro.

A lista abrange 475 espécies classificadas por grau de vulnerabilidade, dentro de um universo de mais de 5 mil analisadas. Dessas, apenas 79 espécies, presentes em todo o país, têm uso econômico e, entre essas, 30 são espécies de pesca industrial.

A ministra do Meio Ambiente ressaltou que nem todas as espécies estão proibidas de serem pescadas e que as com baixo risco de vulnerabilidade poderão ser capturadas e comercializadas. 

No entanto, representantes do setor pesqueiro temem que, se as regras de manejo não forem editadas dentro dos 180 dias até a entrada em vigor da portaria, a pesca de todas as 475 espécies estará proibida.

“Questionamos toda a lista. (...) porque a norma é bem clara que, mesmo os vulneráveis, podem, sim, entrar em extinção dentro de 180 dias”, disse Giovani Monteiro, presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi).

Ele afirmou ainda que o setor exige que os estudos sejam refeitos. “As pesquisas foram feitas dentro do escritório, queremos que a pesquisa seja feita com os recursos abundantes no mar.”

Diante das críticas do setor, Izabella Teixeira defendeu a “robustez técnico-científica” da pesquisa que baseou a formulação da lista. “Ela é resultado de um processo de cinco anos de estudos, envolvendo mais de 360 pesquisadores e segue metodologia seguida pela Organização das Nações Unidas (ONU).”

O secretário Airton Spies reconheceu que a portaria coloca o setor sob uma insegurança muito grande. Segundo ele, Santa Catarina é o estado brasileiro que mais produz pescados e, portanto, será o mais impactado pela ampliação das espécies proibidas para pesca.

“É por isso que queremos apressar e agilizar a definição das espécies a partir de estudos já existentes e que podem subsidiar a discussão e a reavaliação da portaria”.

tópicos:
Shopping
    busca de produtoscompare preços de