Cultura

Leia a íntegra das declarações em que Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, chama movimento negro de 'escória maldita'

A portas fechadas com servidores, Sérgio Camargo xingou Zumbi dos Palmares e ironizou militância
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares Foto: Reprodução/Redes sociais
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares Foto: Reprodução/Redes sociais

RIO — Em reunião a portas fechadas com servidores em 30 de abril, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, xingou Zumbi dos Palmares, um dos símbolos da luta dos negros contra a escravidão, chamou o movimento negro de "escória maldita" e ironizou o Dia Nacional da Consciência Negra. Na mesma gravação, o presidente da Palmares diz que "não vai ter nenhum centavo para macumbeiro". O áudio do diálogo foi divulgado pelo jornal "O Estado de S.Paulo" esta semana e provocou reações. A Defensoria Pública da União (DPU) entrou, na noite de quarta-feira (3), com um pedido de tutela provisória de urgência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender a nomeação do jornalista. Mais cedo, foi protocolado na Câmara dos Deputados, um pedido para que o Ministério Público Federal (MPF) instaure inquérito para investigar a fala de Camargo. Mencionada no diálogo, a líder religiosa Adna Santos (conhecida como Mãe Baiana de Oyá) denunciou o presidente da Palmares por injúria racial, discriminação racial e discriminação religiosa.

Leia abaixo o trecho do áudio da reunião, na íntegra, que foi divulgado pela imprensa.

"Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da Consciência Negra. Aqui não vai ter zero. Aqui vai ser zero da consciência negra (....) Alguém que quer me prejudicar. Invadiram este prédio aqui para me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadiram com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro. Os vagabundos do movimento negro. Esta escória maldita. (...) Tem gente vazando informações aqui para a mídia, vazando para um mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo. Não vai ter nada para terreiro na Palmares enquanto eu estiver aqui dentro. Nada. Macumbeiro não vai ter nem um centavo."

A gravação foi encaminhada à Procuradoria da República no Distrito Federal, juntamente com um pedido para que Sérgio Camargo responda na Justiça por improbidade administrativa.

A Fundação Cultural Palmares foi criada em 1988 para promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. A organização tem entre suas competências a emissão de certidão às comunidades quilombolas. Atualmente, a organização está vinculada à Secretaria da Cultura e, consequentemente, ao Ministério do Turismo.

Mais ataques nas redes

Sérgio Camargo e Jair Bolsonaro Foto: Reprodução/Redes sociais
Sérgio Camargo e Jair Bolsonaro Foto: Reprodução/Redes sociais

Desde que assumiu o cargo, o jornalista Sérgio Camargo coleciona polêmicas. Já declarou que a escravidão foi "benéfica" para os negros, afirmou que as cotas raciais são um "absurdo" e lançou um selo antirracista.  No Twitter, minimizou as manifestações contra o racismo que se espalharam pelos EUA e outros países após a morte de George Floyd.

"Nosso inútil movimento negro tenta importar para o Brasil os atos anarquistas e criminosos do Black Lives Matter, a antifa negra dos EUA".

O presidente da Palmares também tuitou:

"Negros são livres, não uma propriedade da esquerda. Negros não precisam ser vítimas."

No Facebook, Sérgio Camargo também parte para o ataque. No dia 30 de maio, ele postou uma foto do casal de atores Taís Araújo e Lázaro Ramos numa campanha publicitária de uma marca brasileira de laticínios. Na imagem, os atores aparecem segurando, cada um, um copo de leite. O post de Camargo tem um tom de deboche às acusações contra Bolsonaro que, numa live presidencial, apareceu tomando um copo de leite, "uma brincadeira proposta pela Associação Brasileira de Produtores de Leite", segundo justificou o presidente da República. Pesquisadores, no entanto, enxergam uma correlação do gesto com movimentos neonazistas, que adotam o copo de leite como símbolo. Num dos comentários postados ao lado da foto de Taís e Lázaro, um usuário escreveu: "Infelizmente negros sempre à disposição do ridículo!"