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Por Roberto Maleson* — Rio de Janeiro


Reportagem do globoesporte.com faz um mapa das lesões no futebol brasileiro em 2018

Reportagem do globoesporte.com faz um mapa das lesões no futebol brasileiro em 2018

Com a temporada de jogos mais concentrada nos períodos pré e pós-Copa do Mundo, a visita dos jogadores ao departamento médico tende a ser mais frequente em função do aumento de jogos em um período temporal menor que o habitual. Neste quesito, a Chapecoense é quem mais tem sofrido até aqui: já foram 21 baixas clínicas. No time considerado titular, apenas Jandrei, Amaral e Wellington Paulista não se lesionaram neste ano. Além do Verdão do Oeste, o Vitória também tem tido problemas com o DM cheio no ano - são 20 vetos clínicos registrados em 2018.

Por outro lado, o Flamengo, que em 2016 foi o clube com menos lesões, recolocou os holofotes sobre o pequeno número de jogadores que foram tratados pela equipe médica do clube neste ano: cinco. Em seguida, Atlético-MG e Vasco aparecem como os times com menos de dez baixas médicas até aqui. Veja o ranking completo:

Fla, Atlético-MG e Vasco registram menos de dez baixas médicas em pouco mais de quatro meses de temporada — Foto: infoesporte

De acordo com o ex-médico da seleção brasileira e do Flamengo, José Luiz Runco, a estrutura de recuperação e prevenção dos clubes tem influência no índice de lesões, e o tamanho do elenco também interfere nos números.

- Os clubes que têm maior número de jogadores podem fazer rodízio com determinados atletas, o que permite que esse atleta descanse e que seja possível usar outro grupo de atletas. Os que não têm tantos atletas vão ter essa dificuldade - relatou. Atlético-PR, Ceará, Grêmio e Flamengo são exemplos de equipes que rodaram o elenco nas partidas dos estaduais neste ano.

Dr. Runco ainda elogiou a estrutura dos clubes da elite do futebol brasileiro, mas ponderou que a preocupação em ter um departamento médico de qualidade com equipes capacitadas veio tarde.

- Eu acho que a estrutura dos clubes da Sére A em quase todos está muito boa. Os clubes do futebol brasileiro começaram a criar uma estrutura na área médica e física, dando ao atleta uma condição para que ele possa exercer melhor (seu futebol). Mas acho que isso veio tarde, foi empurrado para frente, não se dando o valor necessário.

Para Runco, os clubes da Série A demoraram a investir na área médica, mas já têm uma estrutura atual de qualidade — Foto: Reprodução SporTV

Chefe do departamento médico do Rubro-Negro carioca, Dr. Márcio Tannure contou que o desempenho satisfatório do Flamengo na área médica é recente. Segundo ele, entre 2010 e 2015, o Fla tinha uma média de 80 lesões por ano. Agora, o clube trabalha com a meta de redução constante na quantidade de baixas médicas no time.

- Conseguimos reduzir para uma média de cerca de 30. Para se ter uma ideia, em 2016 fomos o clube com menos lesões no ano, e também o que mais viajou. Naquela temporada, fizemos apenas seis ou sete jogos no Rio de Janeiro. Em 2017, aumentou um pouco, mas ficamos entre os que tiveram menos problemas médicos e fomos o clube que mais disputou jogos (84), por termos chegado a três finais. É um número de jogos considerável. Vale pontuar que há lesões traumáticas, cirúrgicas, que não conseguimos controlar, como foi no ano passado. Tivemos as cirurgias de Berrío, Diego Alves e Diego, além das lesões traumáticas de Réver e Vinicius Junior. Essas não são "evitáveis", e tivemos bastante delas.

Tannure credita o número baixo de lesões à estrutura atual do Flamengo e ao trabalho integrado feito em diversas áreas do clube.

- Tem muita ciência envolvida, um trabalho integrado das áreas de preparação física, fisiologia, fisioterapia e departamento médico. Isso é de fundamental importância para o sucesso desse baixo índice de lesão. A metodologia bem implementada gera um retorno positivo ao clube em geral e ao treinador, porque o atleta fica mais tempo à disposição da comissão técnica do que em processo de recuperação física.

Médico do Atlético-MG e da Seleção, Dr. Rodrigo Lasmar informou que a integração entre as áreas ajuda na redução do índice de contusões.

Rodrigo Lasmar integra corpo médico do Atlético-MG e da Seleção — Foto: Pedro Martins/MoWA Press

- É uma estratégia de trabalho. Essa estratégia é compartilhada pela parte médica, envolvendo a fisioterapia e a fisiologia, e a preparação física, que entende a importância desse trabalho em conjunto. E também é fundamental que tenhamos um treinador que também compartilhe dessa maneira de pensar, para que o trabalho possa ser implementado. Isso é uma filosofia interdisciplinar que envolve todas as pessoas que trabalham no departamento médico, preparação física e a parte técnica.

Procurada pela reportagem do GloboEsporte.com, a Chapecoense preferiu não se manisfestar. O Vitória justificou o número alto de atletas no DM pelo fato de ter disputado mais jogos nestes primeiros quatro meses de temporada e classificou o calendário do time como "maluco".

- A gente vem disputando três campeonatos: Campeonato Baiano, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. E com um elenco que está em formação. O Vitória, entre os clubes da Série A, deve estar entre os três que tiveram mais partidas. Então, os números absolutos [de lesões] precisam estar relacionados ao número de jogos. Tem outra coisa também: chegaram 15 reforços, então é um grupo heterogêneo. E não esquecer que foram dez dias de pré-temporada, então nosso calendário é uma coisa meio maluca - disse o médico Wilson Vasconcelos.

Fred, Bruno Henrique, Jean... as lesões simbólicas do ano

Contratado para ser a solução no ataque do Cruzeiro, Fred sofreu a lesão mais grave de sua carreira. No duelo contra o Tupi-MG, pela semifinal do Mineiro, o centroavante rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito e ficará de seis a oito meses longe dos gramados. Com nove partidas na temporada, o camisa 9 do Cruzeiro marcou apenas um gol nos 668 minutos que esteve em campo em 2018.

Com pior lesão da carreira, Fred pode ficar até oito meses parado — Foto: Reprodução/Premiere

Enquanto Fred vive o drama da lesão grave no joelho, Bruno Henrique passou três meses parado por conta de cinco lesões distintas no olho direito. Destaque do Santos em 2017, o atacante jogou apenas duas partidas este ano: a estreia no Paulistão e o último jogo da equipe no Brasileirão. No entanto, apesar do retorno ao time, o camisa 11 do Peixe deve ficar parado por outras quatro semanas. Ele sofreu uma lesão na coxa esquerda contra o Bahia. No total, Bruno Henrique já perdeu 20 partidas da equipe até o momento.

Com a lesão sofrida no olho, Bruno Henrique passou um período com um óculos adaptado para a prática esportiva — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Com uma partida a mais fora de combate, Jean, peça importante do Palmeiras em 2017, ainda não entrou em campo neste ano. No início de janeiro, o lateral passou por uma artroscopia no joelho direito, após seguidos desgastes na região. Três meses depois, o camisa 2 alviverde foi liberado para trabalhar com o grupo na última semana. Outro jogador que vale destacar a ausência dos gramados por lesão é o atacante Romário Rodrigues, do Ceará. Ainda na pré-temporada, o atleta de 25 anos sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho e também perdeu todas as partidas da equipe no ano: 30.

Critérios e Metodologia

As informações levantadas para esta pesquisa foram retiradas nos sites oficiais de cada um dos 20 times que disputam a Série A em 2018, além do divulgado pelas assessorias no dia a dia dos clubes.

O recorte temporal deste levantamento foi de 01 de janeiro de 2018 até a data da publicação desta matéria: 27 de abril de 2018. Todas as lesões sofridas pelos jogadores fora deste universo temporal não entraram na pesquisa.

O critério para inclusão de um atleta no levantamento foi o veto pelo departamento médico de pelo menos uma partida por motivo clínico. Todos os problemas médicos que impediram a escalação do jogador na equipe para a partida seguinte foram computadas na pesquisa.

*Colaboraram Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Gustavo Pereira, Leandro Silva e Valmir Storti.

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