Cinema

Por Célio Silva, Rio de Janeiro

"As mulheres podem fazer qualquer coisa". Essa é a primeira frase que os espectadores ouvem ao começar o novo "As Panteras", que estreia no Brasil nesta quinta-feira (14).

Sobre isso, não há o que discutir. Ainda em um filme que se inspira na popular série de TV que durou cinco temporadas nos anos 1970 e que já tinha rendido duas adaptações ao cinemas estreladas por Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu nos anos 2000.

Por isso mesmo, a nova produção, embora seja divertida e possa agradar boa parte do público (não só o feminino), poderia ter sido melhor trabalhada para que rendesse uma aventura mais interessante.

O problema do filme é que suas falhas, principalmente no roteiro e na direção, ficam cada vez mais evidentes à medida que a trama avança, tornando-o num mero passatempo facilmente esquecível.

Para o público brasileiro, o início do filme desperta uma certa curiosidade já que somos apresentados a Sabina (Kristen Stewart, a Bella de "Crepúsculo") e Jane (Ella Balinska) numa missão no Rio de Janeiro, com direito a uma nova música de Anitta, "Pantera" (feita exclusivamente para a trilha sonora) e um português muito mal falado por alguns atores (incluindo Kristen).

As duas trabalham para o misterioso Charles Townsend, que criou uma agência de investigação de alto nível.

Assista ao trailer de "As Panteras"

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Panteras pelo mundo

Um dos grandes acertos do filme é mostrar que a Agência Townsend usa seus recursos para operar em várias partes do mundo. Cada uma conta com suas próprias Panteras, além de um "Bosley", espécie de agente encarregado de apoiar as heroínas.

Elizabeth Banks interpreta um deles, mas a atriz também dirige, roteiriza e é uma das produtoras do filme.

Com sua ajuda, Sabina e Jane precisam proteger a jovem cientista Elena (Naomi Scott, a Jasmine da versão com atores de "Aladdin"), que se tornou alvo de um grupo criminoso ao criar uma nova fonte de energia sustentável.

Assim, a novata entra no universo das Panteras, com direito a figurino incrementado, armas, disfarces e os mais variados apetrechos para ajudar suas novas amigas a impedirem os vilões. Tudo com muita personalidade e girl power, claro.

Ella Balinka, Kristen Stewart e Naomi Scott em cena de "As Panteras" — Foto: Divulgação

Anjos em sintonia

Outra bola dentro deste novo "As Panteras" é o fato de que o filme não é um recomeço ou uma regravação, algo cada vez mais comum toda vez que é anunciado um projeto inspirado numa franquia que já fez sucesso.

A trama mostra que todos os acontecimentos da série de TV e dos dois filmes anteriores estão valendo, como se fosse, na verdade, uma sequência de "As Panteras Detonando" (2003). Tanto que, num dos momentos mais divertidos da produção, podemos ver outro Bosley, de Patrick Stewart (o Professor Xavier dos filmes de "X-Men"), inserido nas histórias anteriores.

Isso sem falar em diversos easter eggs espalhados em vários momentos da trama, que vão fazer os fãs das Panteras ficarem com um belo sorriso no rosto.

Mas o maior acerto é mesmo a escolha das atrizes para interpretar o trio de protagonistas. Kristen Stewart, que pode causar uma certa estranheza por não ser conhecida por sua fisicalidade, diverte ao dar um ar irônico, meio agressivo e sexualmente ambíguo para Sabina (assim como sua intérprete na vida real).

A novata Ella Balinska transmite bem o jeito durão de Jane, cujo treinamento militar a torna uma pessoa mais fechada, o que contrasta bem com a rebeldia da colega.

Já Naomi Scott encanta com o seu olhar deslumbrado para tudo o que está acontecendo ao seu redor, mas está longe de fazer o estilo "donzela em perigo". As três demonstram uma ótima química juntas e honram as Panteras que surgiram antes.

Elizabeth Banks, a nova Bosley, também dirige, roteiriza e co-produz "As Panteras" — Foto: Divulgação

Potencial desperdiçado

O filme não consegue atingir todo o seu potencial por um motivo bem simples. Embora seja bem intencionada, a diretora Elizabeth Banks não tem pulso firme para fazer uma aventura que realmente empolgue. O acúmulo de funções também não fez bem para ela, que até se esforça, mas deixa claro que ainda não está pronta para fazer tantas coisas ao mesmo tempo.

Banks, que mostrou ser mais do que atriz ao produzir a série de filmes "A Escolha Perfeita" (além de dirigir um deles), não consegue sair do trivial para fazer as cenas de ação, e as coreografias de luta nunca convencem.

Além disso, a montagem picotada das sequências deixa tudo meio confuso, o que pode desconectar os espectadores do que está acontecendo. Quando tudo é meio "feijão com arroz", restam poucos momentos memoráveis.

Para piorar, o roteiro também escrito pela cineasta possui muitos erros de lógica (como o momento em que uma das protagonistas é forçada a fazer algo que não queria pelo bem de uma pessoa que ela mal conhece, como se ela fosse essencial para a sua vida) e a inserção de muitas cenas gratuitas, como uma de dança que não faz o menor sentido.

Isso sem falar nas reviravoltas que, de tão óbvias, chegam a irritar. Era possível trabalhar melhor as situações para que as surpresas fossem realmente satisfatórias.

Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska são "As Panteras" versão 2019 — Foto: Divulgação

Pelo menos, a trilha de canções do filme funciona muito bem. Os fãs de Ariana Grande, por exemplo, não terão do que reclamar, já que há cinco músicas cantadas por ela. Uma delas é o carro-chefe "Don't Call me Angel", em que divide o microfone com Miley Cyrus e Lana Del Rey.

Mas também há espaço para a musa da Disco Music Donna Summer, que ganhou uma versão de seu hit "Bad Girl". Só é um pouco triste a participação tímida da música-tema do seriado, que poderia ter recebido uma roupagem mais empolgante, como nos filmes anteriores.

Projetado para criar uma nova franquia, "As Panteras" versão 2019 pode até conseguir o seu objetivo, já que, mesmo com os problemas, consegue manter o interesse em suas protagonistas e dá vontade de ver novas histórias envolvendo o trio principal. Mas talvez uma direção diferente possa dar mais vigor e energia para as próximas aventuras das personagens nos anos que virão. Afinal, elas merecem.

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