Coluna
José Paulo Kupfer
José Paulo Kupfer, colunista do GLOBO Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Análise: IBC-Br consolida decepção e deixa espaço para corte nos juros

Índice de atividade do BC recua em março e no trimestre, sinalizando menor transmissão das altas do dólar para a inflação

Era imaginável que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), calculado a cada mês pelo Banco Central, apresentaria resultados fracos em março, fechando um primeiro trimestre do ano também de perda de fôlego ante o trimestre final de 2017 e sobretudo ante o suspiro de alta de dezembro passado. O que os analistas não esperavam era um recuo mais intenso como o verificado, mesmo depois das revisões para baixo nos números de janeiro e fevereiro, como os divulgados nesta quarta-feira.

O IBC-Br apurou queda mensal de 0,74% em março, enquanto as projeções apontavam recuo de 0,3%. Em relação a março de 2017, mês de alta na atividade, a queda foi de 0,7%. No trimestre, comparado com o trimestre anterior, de 0,13%. A economia, na métrica do IBC-Br, portanto, deu uma pequena marcha à ré no começo de 2018.

LEIA MAIS:

Bank of America reduz de 3% para 2,1% previsão para alta da economia brasileira em 2018

Já é bem sabido, mas não custa relembrar, que o IBC-Br mede o pulso da economia de um jeito diferente da medição do IBGE para cálculo das variações do Produto Interno Bruto (PIB). Ao apurar o PIB, o IBGE considera os resultados das relações ocorridas entre os setores econômicos, a cada três meses. O objetivo é captar o efetivo comportamento da economia no período. O IBC-Br está estruturado para fotografar as tendências desse comportamento, a partir das pesquisas setoriais mensais do IBGE, visando oferecer subsídios para a execução da política monetária.

Para chegar na retração de março — e, em consequência, nos números também contidos do trimestre — o IBC-Br ponderou o recuo da atividade industrial , a queda nas receitas dos serviços , as indicações dos levantamentos sistemáticos da produção agrícola e o avanço abaixo do esperado do varejo . Quanto à variação do PIB no primeiro trimestre, prevista para ser divulgada em uma semana, as projeções conhecidas até aqui apontam alta de 0,3% a 0,5%.

Confirmado esse resultado, as revisões para a evolução da economia em 2018 tenderão a se acomodar por um tempo na faixa de 2%, consolidando a frustração já estabelecida diante das expectativas para o crescimento econômico entre 3% e 3,5% vigentes no começo de 2018. Os que ainda resistem a reduzir suas projeções para esse nível bem mais baixo enfatizam a redução do endividamento das famílias e, principalmente, o fato de os efeitos da política monetária, hoje estimulativa da atividade econômica. Os de viés mais pessimista, que chegam em alguns poucos casos a prever um PIB abaixo de 2% este ano, enumeram entre seus argumentos o ainda elevado comprometimento da renda das famílias com dívidas, o desemprego alto e as incertezas, internas e externas, que travam os investimentos.

É diante desse quadro, acrescido das instabilidades recentes no mercado cambial, que o Comitê de Política Monetária (Copom) tomará logo mais a decisão sobre os juros básicos para os próximos 45 dias. No que diz respeito a essa decisão, a pressão das cotações em alta do dólar e os riscos de contágio com o recrudescimento da volatilidade nos mercados cambiais nas economias emergentes formam contraponto num quadro em que justamente a atividade doméstica fraca não sanciona a transmissão direta e integral da subida do dólar para os preços.

Assim, embora as curvas de juros futuros estejam sinalizando altas relativamente fortes, são poucos, ainda que em maior número do que há uma semana, os especialistas do mercado financeiro crentes numa interrupção do ciclo de cortes dos juros básicos nos 6,5% ao ano em que hoje se encontram. Para a maioria que acredita numa última poda de 0,25 ponto, para 6,25%, o elemento mais forte de convicção é o de que não promover esse último corte na taxa básica contrariaria a linha de comunicação até agora reafirmada sem ambiguidades pelo BC.

Leia todas as colunas...