Por Lara Pinheiro, G1 SP


Saul Dreier, de 94 anos, deu entrevista ao G1.

Saul Dreier, de 94 anos, deu entrevista ao G1.

Com óculos amarelos, baquetas laranjas e fones de ouvido brancos, Saul Dreier poderia até ser um baterista qualquer. Mas, aos 94 anos, o polonês, que sobreviveu ao Holocausto, era tudo, menos comum, quando se apresentou na noite de terça-feira (13) no show beneficente da organização Tenyad, no auditório do Anhembi.

Pela primeira vez no Brasil, ele narrou, alegre, sua história para o público: “eu tenho quatro filhos, nove netos, dois bisnetos. Sobrevivi a três campos de concentração e, há cinco anos, fundei a “Holocaust Survivor Band”, e toco ao redor do mundo”.

Saul Dreier toca bateria aos 94 anos — Foto: Lara Pinheiro/G1

A “Holocaust Survivor Band” é exatamente o que o nome diz: a “banda dos sobreviventes do Holocausto”. (Saiba mais sobre essa história aqui). Na noite de terça (13), o único representante do grupo era Saul, mas a trupe também inclui outros filhos e netos de sobreviventes do Holocausto.

Depois de fundar o grupo, o polonês já tocou em vários países; em São Paulo, ele fez uma participação especial no show do cantor israelense Gad Elbaz, que veio pela terceira vez ao Brasil.

Saul Dreier, de 94 anos, fez participação em um show em São Paulo na terça-feira (13). — Foto: Lara Pinheiro/G1

No repertório, a maior parte das músicas era em hebraico - e incluiu, duas vezes, “Hava Nagila”, música que é tradicionalmente cantada em celebrações judaicas. Outras tinham um toque latino. O público, que lotou o auditório - com capacidade para cerca de 800 pessoas - se empolgou. Ao final da apresentação, as crianças subiram ao palco, cantaram e dançaram com o baterista e o cantor.

Antissemitismo

'Nunca mais', diz Saul Dreier, de 94 anos, que criou uma banda e hoje toca bateria em shows ao redor do mundo. — Foto: Henrique Pinheiro/G1

Em entrevista ao G1, na véspera da apresentação, Saul fez questão de destacar que, apesar de tocar música e entreter as pessoas - sempre com o semblante alegre - a prioridade dele é combater o antissemitismo.

“Nos últimos anos, o antissemitismo tem começado a reviver. É um câncer e eu quero acabar com isso. Eu toco música, eu entretenho as pessoas, mas agora, ultimamente, mas o antissemitismo é a minha prioridade”, afirma.

Quando questionado sobre o motivo, ele diz não saber. “Se eu soubesse, eu diria. As pessoas são muito rudes umas com as outras. Nós deveríamos ter paz no mundo. Nós deveríamos ser felizes com as coisas”, declara.

Saul Dreier, de 94 anos, durante entrevista. — Foto: Henrique Pinheiro/G1

Apesar de não ter todas as respostas, o baterista tem claro o desejo de levar uma mensagem de paz com as apresentações que faz ao redor do mundo. E, principalmente, que o que ocorreu durante o Holocausto não se repita.

“Eu quero me certificar de que judeus ao redor do mundo não passem pelo que eu passei. Eu passei por uma guerra de cinco anos - o que eu passei eu não desejo a um inimigo. Nunca mais", declara.

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