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Rio Show

Crítica: 'Border'

Bonequinho aplaude de pé: 'Uma história existencial, que passa por drama, suspense e trama policial'
RS - cena do filme "Border" Foto: Divulgação
RS - cena do filme "Border" Foto: Divulgação

O medo e a ameaça podem gerar tanto um filme realista como serem alegorizados e desembocarem num filme de gênero (terror ou fantástico). Cabe ao realizador a pergunta: quais são os monstros e fantasmas que saem da sociedade? Em “Border”, o diretor Ali Abassi, iraniano radicado na Suécia, que assina o roteiro adaptado do conto homônimo de John Ajvide Lindqvist, autor de “Deixa ela entrar”, faz uma interseção desses dois caminhos para discutir a diferença de classes, identidades e gêneros.

Tina é uma agente alfandegária que — graças ao olfato prodigioso, que detecta sentimentos como vergonha, culpa e raiva — é infalível. A sua rotina é abalada quando conhece Vore, um par que tem a mesma “anomalia cromossômica” que ela. Eles se identificam na aparência, e pouco a pouco Vore desperta Tina de uma realidade anestesiada. Uma história existencial, que passa por drama, suspense e trama policial (rede de pedófilos), romance e fantasia. E é surpreendente como Abassi dá conta de tantos assuntos.

Para um amante de Luis Buñel, devoto da realidade grotesca, um conto estranho de Lindqvist era uma escolha perfeita. E ele é certeiro porque consegue exercitar a narrativa fantástica sem segregar a realidade. Força o limite da visão, oferece algo que o espectador não reconhece, que intriga e perturba porque usa sua habilidade de escritor e amplia o repertório da narrativa cinematográfica.

A maquiagem é um espetáculo à parte (perdeu o Oscar para “Vice”) e os atores Eva Melande e Eero Milonoff carregam a “carcaça” com categoria.