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Por G1 — Portland (EUA) - o jornalista viajou a convite da Harley-Davidson


Harley-Davidson LiveWire elétrica: G1 avalia o modelo

Harley-Davidson LiveWire elétrica: G1 avalia o modelo

Por mais de 115 anos, a Harley-Davidson evoluiu suas motos, mas sempre mantendo uma característica fundamental: o ronco dos motores. Como a cor da Coca-Cola ou o sabor do Big Mac, aquele som especial estava lá, tanto que se criou a expressão "barulho de Harley".

Atrás de pioneirismo e de um novo público, a empresa está prestes a lançar sua primeira moto elétrica. Sem marcha e câmbio, ela abandona o som ritmado dos pistões dos tradicionais V2 da Harley. No lugar, tem um zunido que lembra o de um avião, mas bem mais suave.

A LiveWire começa a ser vendida nos Estados Unidos no mês que vem. O G1 foi a Portland, nos Estados Unidos, para experimentar a moto que custa US$ 29.799 — o que equivale a R$ 118 mil na cotação atual.

A expectativa é que a LiveWire desembarque no mercado brasileiro em 2020 por um valor estimado de R$ 120 mil.

Se vier, provavelmente ela não terá concorrentes num primeiro momento. Mesmo nos EUA, são poucas as opções elétricas. O segmento está nas mãos de startups e a americana Zero aparece entre as marcas mais consolidadas.

Harley-Davidson LiveWire e Zero SR/F — Foto: Guilherme Pinheiro/G1
Harley-Davidson LiveWire e Zero SR/F — Foto: Guilherme Pinheiro/G1

Elétricas ainda 'engatinham'

Por que a Harley quis investir nesse nicho? O fator "inovação" foi altamente importante: a famosa marca de motos busca uma nova imagem, mais tecnológica, mas também está atrás de novos consumidores.

Nos primeiros seis meses de 2019, as vendas da Harley-Davidson caíram 6,6% globalmente. Para reverter esta situação, a empresa planeja também lançar um modelo aventureiro e até motos de baixa cilindrada.

Com a LiveWire, a Harley se torna a primeira grande montadora a investir em uma moto elétrica — um mercado que ainda está restrito basicamente a scooters de pequeno porte ou bicicletas elétricas, que têm a China como grande mercado.

Harley-Davidson LiveWire é primeira elétrica da história da marca — Foto: Rafael Miotto/G1
Harley-Davidson LiveWire é primeira elétrica da história da marca — Foto: Rafael Miotto/G1

Motor tem 'pulsação'

Com chave presencial, basta tocar em dois botões do lado direito da manopla da LiveWire, um para ligar a interface da moto e outro para fazer o motor funcionar.

Assim que ela é ligada, silêncio. O que acontece é uma leve pulsação proposital que vem do motor, parecida com um telefone celular vibrando.

A sensação é um pouco estranha, mas é realmente importante para a segurança: serve para saber que a moto está ligada e evitar acelerar sem querer. Essa foi uma das evoluções em relação ao protótipo de 2014, que o G1 também avaliou.

Nesse ponto a moto está pronta para rodar. Como é comum nos veículos elétricos, o torque chega quase instantaneamente. Ao girar o acelerador você já tem disponível os 11,83 kgfm de torque máximo, que se mantém todo o tempo.

Mas a aceleração é bem dosada, na hora da partida. Isso faz a moto ser mais dócil na saída.

É mais uma evolução em relação ao conceito, mesmo a versão de produção sendo mais potente — a moto passou dos 74 cv de 5 anos atrás para 110 cv agora.

Aquelas manobras em baixa velocidade feitas com o uso da embreagem também não são problema na LiveWire. Isso acontece, novamente, graças ao afinamento dado ao acelerador, que permite fazer "slalons" mesmo sem a alavanca no lado esquerdo do guidão.

Mas como é o barulho?

Ao pilotar, a sensação é a de estar em um veículo futurista. A Harley elétrica vai de 0 a 100 km/h em 3 segundos e "pula" para os 130 km/h em mais 1,9 segundo, o que a torna digna de comparação com a Ferrari F8 Tributo.

O zunido que lembra o de um jato de avião foi afinado pela Harley para ser impactante — e realmente chamou a atenção dos passantes nos cerca de 100 km rodados pelas ruas e estradas de Portland.

Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1
Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1

Pode ser que os puristas não gostem desse som, mas ele não deve em nada ao barulho tradicional — com sua característica própria, é claro. Além disso, o som da elétrica não é tão intrusivo como os das motos tradicionais, o que é bem vindo ao meio-ambiente.

Quando a moto para, o silêncio é absoluto, tornando viagens em grupo mais agradáveis. Outra característica essencial é o baixíssimo nível de vibração, algo que está anos-luz à frente de motos movidas à combustão.

Harley esquenta? Não mais com a LiveWire. Era um dia de quase 30 ºC em Portland. Na volta para a cidade, nem o engarrafamento fez a moto esquentar. No máximo, motor e bateria ficam meio mornos.

Uma Harley que gosta de curvas

Claro que a maior expectativa sobre a LiveWire era sobre seu motor por quebrar um paradigma centenário da marca, mas ela vem para romper com outro estigma. É de conhecimento geral que as motos Harley-Davidson não são tão ágeis em curvas.

Isso tem a ver com o peso, que em certos modelos convencionais passa dos 300 kg, e o próprio estilo da marca, focado em motos grandonas, dos segmentos custom e touring.

Mais compacta, a LiveWire é uma verdadeira naked - como são conhecidas motos esportivas, e sem carenagens. Ela é capaz de fazer curvas como nenhuma outra Harley, além de ser a mais ágil da marca também.

Harley-Davidson LiveWire roda pelas estradas de Portland, nos EUA — Foto: Divulgação
Harley-Davidson LiveWire roda pelas estradas de Portland, nos EUA — Foto: Divulgação

Mas ainda é uma moto pesada: são 249 kg. Uma Honda CB 1000R, por exemplo, que é uma naked tradicional movida a combustível, tem 199 kg.

As motos elétricas ainda têm muito a evoluir neste sentido, principalmente por causa das baterias, que são extremamente pesadas. Mesmo assim, a LiveWire é mais leve que a Harley Sportster 883, por exemplo, que tem 256 kg e é a moto de entrada da montadora no Brasil.

Harley-Davidson LiveWire tem suspensões com multiplas regulagens — Foto: Rafael Miotto/G1
Harley-Davidson LiveWire tem suspensões com multiplas regulagens — Foto: Rafael Miotto/G1

Apesar de não poder ser considera leve, a moto tem o peso bem centralizado na bateria e motor, o que ajuda na estabilidade em curvas. Com a ajuda de um sistema de suspensões bem ajustado, a LiveWire não é tímida na hora de inclinar.

Na dianteira, possui suspensão do tipo invertida "Big Piston Fork", enquanto a traseira conta com monoamortecedor — ambos da marca Showa e com múltiplas regulagens.

Harley-Davidson LiveWire rodando pelas ruas de Portland — Foto: Divulgação
Harley-Davidson LiveWire rodando pelas ruas de Portland — Foto: Divulgação

Freio motor ajuda na pilotagem

Com a aceleração brutal durante o trajeto e todo este peso, parar a LiveWire poderia ser preocupante.

O modelo conta com freios ABS, com atuação em curvas, e dois discos de 300 mm, na dianteira, e disco de 260 mm, na traseira. Mas o que faz grande diferença é o freio motor.

Em muitas ocasiões, nem é preciso beliscar os freios antes das curvas, porque o trabalho de reduzir a velocidade é feito ao tirar a mão do acelerador.

Além de tornar a pilotagem mais segura, o recurso ajuda na regeneração da bateria. A aceleração contundente, somada à desaceleração do freio motor e à estabilidade da moto, faz você se sentir como se estivesse nos trilhos de uma montanha-russa, mas extremamente controlada.

G1 avalia a Harley-Davidson LiveWire em Portland, nos Estados Unidos — Foto: Divulgação
G1 avalia a Harley-Davidson LiveWire em Portland, nos Estados Unidos — Foto: Divulgação

Com a ajuda dos modos de pilotagem, que são 7 no total, a experiência ainda pode mudar. Além de alterar o impacto da aceleração, os "mapas eletrônicos" modificam o funcionamento do ABS, controle de tração e até do freio-motor.

Desde o mais esportivo "Sport", até os modos "Rain", para pisos molhados, ou "Range", onde a autonomia é priorizada. Depois de rodar os 100 quilômetros com a LiveWire, metade da bateria ainda estava cheia.

O quanto roda com uma carga?

De acordo com a montadora, a moto é capaz de rodar até 235 quilômetros com uma carga completa da bateria em percursos urbanos. Em uso misto, com ciclos urbanos e na estrada, são cerca de 152 km.

Harley-Davidson LiveWire sendo recarregada — Foto: Divulgação
Harley-Davidson LiveWire sendo recarregada — Foto: Divulgação

Esse foi um problema resolvido em relação ao protótipo, que tinha autonomia de apenas 85 km.

Mesmo assim, ainda não dá para fazer longas viagens com segurança de que a carga vai durar.

A bateria leva 40 minutos para carregar 80% e 1 hora para chegar aos 100%, no sistema de recarga rápida. Em uma tomada convencional, o conjunto de baterias leva 12,5 horas para completar a carga.

A entrada do carregador na LiveWire é do "tipo 2", considerada a mais comum para carros elétricos, o que deve facilitar a operação. Ela é a mesma do Chevrolet Bolt, por exemplo.

Painel da Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1
Painel da Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1

Visual ficou mais equilibrado

Ao avistar a LiveWire depois de 5 anos, o primeiro detalhe a chamar atenção foi ver como o visual mudou. Apesar de manter a essência de 2014, agora a moto parece de fato uma Harley-Davidson.

O farol dianteiro ganhou carenagem que remete a outros modelos da empresa, como recém-chegada FXDR, além de o tanque falso que segue bem o estilo da marca fazer lembrar que ali está uma H-D.

Como era a LiveWire em 2014 — Foto: Peter Reitzfeld / Divulgação
Como era a LiveWire em 2014 — Foto: Peter Reitzfeld / Divulgação

Ainda na dianteira, os retrovisores passaram para cima do guidão, o que melhora a visualização. No protótipo, eles ficavam abaixo da linha do guidão.

Mas as semelhanças com o tradicional começam a parar por aí. Seu estilo é esportivo de uma verdadeira naked. O conjunto óptico traseiro fica em um suporte fixado na roda traseira, o que mostra outra mudança em relação ao protótipo.

Carenagem dianteira da Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1
Carenagem dianteira da Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1

Em 2014, a LiveWire ainda trazia a luz de freio na rabeta, enquanto apenas as setas ficavam abaixo. Apesar de menos revolucionário, o visual ficou mais equilibrado na moto. A nova dianteira serviu para deixá-la mais harmonizada, já que no centro da moto a grande bateria rouba a atenção.

Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1
Harley-Davidson LiveWire — Foto: Rafael Miotto/G1

Concorrente de peso

Como a Harley divulgou por diversas vezes quando lançaria sua elétrica, sua principal concorrente nos Estados Unidos se antecipou.

A Zero Motorcycles, que atua no segmento das elétricas há mais de 10 anos, apresentou no início de 2019 a SR/F, que parece ser uma resposta clara contra a LiveWire.

Zero SR/F — Foto: Divulgação
Zero SR/F — Foto: Divulgação

Como atrativos, a motos traz valor mais acessível, partindo de US$ 18.995, além de uma ficha técnica com alguns dados superiores ao da Harley.

O futuro das motos será elétrico?

Com o lançamento da LiveWire, a tendência é que outras fabricantes de peso mostrem suas motos elétricas em breve. Sua chegada é um ponto de transição na história das motos, que devem seguir o caminho elétrico.

Mas a mudança é ainda maior para a Harley-Davidson, que corre um risco saindo de sua zona de conforto. O resultado foi a criação do melhor modelo já feito pela fabricante em termos mecânicos.

O valor ainda é alto e acaba sendo impeditivo para que a LiveWire se torne uma moto popular, mas essa não é a intenção da Harley. A montadora promete ter toda uma linha de motos elétricas no futuro, com scooter e bicicletas, deixando a moto como seu modelo mais luxuoso desse tipo.

G1 rodou com a Harley-Davidson LiveWire elétrica em Portland — Foto: Divulgação
G1 rodou com a Harley-Davidson LiveWire elétrica em Portland — Foto: Divulgação
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