05/12/2011 09h07 - Atualizado em 05/12/2011 12h52

Entenda o que levou à saída de Carlos Lupi do governo

Lupi deixou cargo no domingo (4), um mês após início de denúncias.
Ministro do Trabalho caiu após denúncias, declarações e perda de apoio.

Do G1, em Brasília

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, durante depoimento à Comissão de Assuntos Sociais do Senado (Foto: Dida Sampaio / Agência Estado)O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao depor no
Senado em novembro (Dida Sampaio / Ag.Estado)

Sétimo ministro a ser demitido no primeiro ano do governo Dilma Rousseff, Carlos Lupi deixou o Ministério do Trabalho neste domingo (4), um mês após o início de uma série de denúncias de irregularidades na pasta, declarações polêmicas e perda de apoio entre os próprios colegas de partido do PDT.

A situação de Lupi se agravou após a Comissão de Ética Pública recomendar à presidente Dilma Rousseff a demissão do ministro na semana passada. A presidente, no entanto, pediu à comissão que informasse quais "elementos" embasaram a sugestão antes de viajar para a Venezuela. Na volta da viagem, Lupi pediu demissão alegando sofrer "perseguição política e pessoal da mídia".

Ele também foi acusado de ter acumulado, durante quase cinco anos, entre 2000 e 2005, dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos (Câmara dos Deputados e Câmara Municipal do Rio de Janeiro). Foi apontado ainda como funcionário "fantasma" da Câmara entre 2000 e 2006. A Câmara chegou a abrir sindicância para investigar o assunto, mas Lupi negou fraudes e disse que devolveria o dinheiro.

Após a recomendação da Comissão de Ética e de denúncias de emprego irregular na Câmara, Lupi perdeu o apoio de integrantes de seu próprio partido, o PDT, que passou a admitir a saída do cargo.

CRONOLOGIA DOS FATOS QUE LEVARAM À SAÍDA DE CARLOS LUPI

04/11 - Revista "Veja" denuncia suposta extorsão dentro do Ministério do Trabalho. Segundo a revista, ex-assessores diretos de Carlos Lupi cobrariam propina para regularizar a situação de ONGs fiscalizadas.

05/11 - Carlos Lupi afasta servidor suspeito de envolvimento em cobrança de propina.

08/11 - Em coletiva de imprensa no PDT para explicar as denúncias em sua pasta, Lupi diz que só sairia do cargo "abatido à bala". "Tem de ser uma bala pesada, porque sou pesadão."

10/11 - Em depoimento na Câmara dos Deputados, Lupi pede desculpas pela declaração de que só sairia "abatido à bala" e nega conhecer o empresário Adair Meira, dono de ONGs de Goiània.

12/11 - Revista "Veja" diz que Adão Meira teria acompanhado Lupi e "providenciado" um dos voos do ministro no interior do Maranhão, em dezembro de 2009, num avião particular tipo King Air. No mesmo dia, o ministério divulgou nota dizendo que os deslocamentos foram em avião do tipo Sêneca de responsabilidade do PDT.

15/11 - Jornal do Maranhão divulga fotos de Lupi saindo do avião King Air e em companhia de Meira.

30/11 - Comissão de Ética Pública recomenda à presidente Dilma Rousseff a demissão do ministro.

01/12 - DIlma pede à comissão que informe quais "elementos" embasaram a sugestão de demissão e vai viajar. No mesmo dia, "Folha de S.Paulo" acusa Lupi de ter acumulado, durante quase cinco anos, dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos (Câmara dos Deputados e Câmara Municipal do Rio de Janeiro). A Câmara abre sindicância para apurar.

02/12 - A Comissão promete enviar na segunda, 5 de dezembro, as explicações solicitadas pela presidente Dilma Rousseff. O PDT começa a admitir publicamente a saída de Lupi do cargo.

04/12 -  Carlos Lupi entrega carta de demissão e diz sofrer "perseguição política e pessoal da mídia".

Viagem ao Maranhão
Outra denúncia que atingiu Lupi foi a confirmação de que, em 2009, ele viajou em companhia de Adair Meira, empresário de Goiânia que dirige ONGs beneficiadas posteriormente em convênios com a pasta. Na semana anterior à revelação de fotos e vídeos da viagem, Lupi havia negado, na Câmara, relação com o dono das ONGs.

A revelação de que Lupi viajou junto com Adair foi publicada pela revista "Veja" em 12 de novembro. A reportagem disse que o empresário teria acompanhado Lupi e "providenciado" um dos voos do ministro no interior do Maranhão, em dezembro de 2009, num avião particular tipo King Air.

A viagem teve como propósito lançamento de programa de qualificação profissional no estado. A presença de Meira foi confirmada à revista por Ezequiel Nascimento, então Secretário de Políticas Públicas de Emprego, que integrou a comitiva.

Antes, em depoimento à Câmara, no dia 10 de novembro, Lupi havia negado relação com Meira. "Nunca andei em jatinho de Adair, não o conheço (...) Não tenho nenhum tipo de relação com ele, apenas ter conhecido em algum evento público, isto é normal", disse.

No mesmo dia da publicação da reportagem, o ministro divulgou nota do Ministério do Trabalho, dizendo que os deslocamentos, em aeronaves tipo Sêneca, eram de responsabilidade do PDT.

No dia 15, porém, vieram à tona foto e vídeo mostrando Lupi saindo do avião King Air e em companhia de Meira. Em entrevistas, Meira disse depois que não pagou a viagem, mas apenas recomendou o aluguel do avião ao PDT.

Declarações
A reação de Lupi às denúncias de corrupção na pasta ajudou a desgastá-lo politicamente. Em sua primeira aparição após as denúncias, no dia 8 de novembro, ele disse que só sairia do cargo "abatido à bala". "Tem de ser uma bala pesada, porque sou pesadão", afirmou após reunião do PDT.

Dois dias depois, diante da repercussão da fala, Lupi se desculpou declarando amor pela presidente Dilma Rousseff durante depoimento na Câmara. "Presidente, desculpe se eu fui agressivo, não foi minha intenção, eu te amo", disse Lupi em audiência com deputados.

No mesmo dia, quando questionada sobre a situação do ministro, Dilma negou cenário de crise no Ministério do Trabalho. "O passado simplesmente passou, gente, o passado passou", disse a presidente.

Depois, ao ser homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Lupi atacou a imprensa, dizendo que havia "ladrão" também no jornalismo. Em seu discurso, afirmou que iria acabar com a série de demissões do governo "no grito".

ONGs e sindicatos
As denúncias contra Lupi começaram em 4 de novembro, quando a revista "Veja" denunciou suposta extorsão dentro do ministério. Segundo a revista, ex-assessores diretos de Lupi cobrariam propina para regularizar a situação de ONGs fiscalizadas. Um servidor foi afastado no dia seguinte após a denúncia.

O ministro classificou as acusações como "infundadas" e disse que os problemas na pasta eram de gestão. "Se alguém fez algo no ministério foi individual e que pague. Pedi à Polícia Federal para ir fundo [...] Corrupção dentro do meu ministério e do meu partido não há", disse.

Outras denúncias davam conta de que altos funcionários da pasta cobrariam propina para regularizar sindicatos, segundo reportagem da revista "Istoé". Já os jornais "Folha de S.Paulo" e "O Estado de S.Paulo" noticiaram a autorização do ministro para o registro de "sindicatos-fantasmas", que não representariam de fato categorias de trabalhadores.

Arte ministros demitidos atualiz. Lupi (Foto: Arte G1)
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