Rio

'Eu vi a morte do meu neto', diz avó de criança baleada na cabeça no Alemão

Angela Maria de Novaes, avô de Benjamin, ficou abraçada ao carrinho de bebê ainda com o sangue da criança
Tiroteio no Alemão deixa uma criança morta. Na foto, avó da criança morta na porta do Hospital Getulio Vargas Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Globo
Tiroteio no Alemão deixa uma criança morta. Na foto, avó da criança morta na porta do Hospital Getulio Vargas Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Globo

RIO — "Eu vi a morte do meu neto." Desesperada, Angela Maria de Novaes, avó de Benjamin, de dois anos, morto com um tiro na cabeça durante um confronto entre policiais militares e criminosos na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão , na noite desta sexta-feira, ficou abraçada ao carrinho de bebê ainda com o sangue da criança. No Hospital Getúlio Vargas, na Penha, ela e o marido estavam desolados com a morte do menino, e acusam policiais pela morte durante o confronto com os bandidos.

— Eles saíram tacando o dedo nos moradores. Não mataram não foi só meu neto, não. Só inocente, só morador, só trabalhador — disse o avô da criança. Mais dois moradores da região foram mortos no tiroteio e  identificados na manhã deste sábado: José Roberto da Silva, de 58 anos, e Maria Lúcia da Costa, também de 58 anos. A mãe do menino Benjamin, Paloma Maria Novaes, de 29 anos, foi atingida de raspão em um dos braços e também na barriga.

— Eu tentei salvar o meu filho e não consegui. Eles acabaram com a minha vida. Eu vou morrer. Não vou conseguir ficar sem meu filho. Me dá um tiro — disse a mãe do menino, que afirmou ainda, bastante desesperada, em direção a um policial militar — Por que você matou meu filho?

A avó, bastante desolada após a morte de Benjamin, permaneceu durante algum tempo agarrada ao carrinho que levava o neto. O avô da criança, também bastante emocionado, contou que a criança era o seu "único neto homem". Outras duas pessoas foram baleadas no tiroteio.

Benjamin , de 1 ano e 7 meses, morto com tiro na cabela no Complexo do Alemão Foto: Reprodução
Benjamin , de 1 ano e 7 meses, morto com tiro na cabela no Complexo do Alemão Foto: Reprodução

LOCAL DE GRANDE MOVIMENTO

O tiroteio aconteceu em um local de grande movimento, quase na esquina entre as avenidas Itaoca e Itararé, no acesso à comunidade de Nova Brasília, uma das que compõem o Complexo do Alemão. No lugar há pontos de ônibus, lojas e barracas de ambulantes que vendem comida e outros produtos. Na noite quente de sexta-feira, estava lotado de pessoas no momento do confronto.

Na manhã desta sábado, a Polícia Militar divulgou em sua conta do Twitter uma nota em que dá sua versão do caso. Segundo a nota, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Fazendinha estavam em um carro em deslocamento pela avenida Itaoca quando foram atacados pelos ocupantes de um jipe Renegade por volta das 20h30 de sexta-feira, o que provocou o confronto. Ainda segundo a nota, três suspeitos foram feridos, dois dos quais conseguiram fugiram para a Nova Brasília. A PM disse ainda que foram apreendidos, além do jipe Renegade, um fuzil calibre 5.56, um revólver calibre 38, quatro carregadores de fuzil e uma "pequena quantidade de drogas".

De acordo com relatos de moradores, o carro da PM estava no local há algum tempo quando o tiroteio começou. Na troca de tiros com os criminosos, balas foram disparadas para todos os lados, contaram os moradores em redes sociais. Ontem à noite, policiais militares haviam relatado que o confronto começou quando o jipe em que estavam com criminosos foi interceptado pelos PMs ocupantes do veículo da UPP.

Em imagens veiculadas nas redes sociais, moradores da comunidade afirmam que um homem ferido é um trabalhador e pedem que os policiais acionem uma ambulância. Uma moradora, que estava acompanhada da filha de três anos, contou os momentos de pânico vividos durante o tiroteio:

— Eu estava comprando lanche na barraca com a minha filha quando retornei paro o carro e entrei. Era muito tiro, muita gente correndo e carros voltando. Só deu tempo de a minha mãe e minha filha saírem do carro e se abrigarem numa das barracas. Um dos meninos veio correndo falando que uma criança tinha tomado um tiro na cabeça e uma outra pessoa tomou um tiro nas costas. Nunca passei por isso, ainda mais com a minha filha.