Por Daniel Silveira, G1


Bento Albuquerque (centro) durante evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro — Foto: Daniel Silveira/G1

Em construção há três décadas e peça-chave da investigação que levou à prisão do ex-presidente Michel Temer, a usina nuclear de Angra 3 deverá ficar pronta em até cinco anos. Foi o que afirmou nesta sexta-feira (5), durante palestra no Rio de Janeiro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

“Vamos iniciar, reiniciar e finalizar Angra 3 nos próximos quatro ou cinco anos”, declarou o ministro no início de sua palestra direcionada a empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Tratada como prioridade na área energética pelo atual governo, Angra 3 já teve mais de R$ 7 bilhões investidos. Para finalizá-la, são estimados mais cerca de R$ 15 bilhões.

Alvo de escândalos de corrupção, a usina de Angra 3 está com as obras paralisadas desde 2015. A usina nuclear está no centro das investigações que chegaram a levar para a prisão o ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco.

Também presente no evento da ACRJ, o atual presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, classificou como “árduo” o caminho a ser percorrido até a conclusão da usina. “Mas está sendo trilhado [esse caminho] e buscamos otimizar”, disse.

Segundo Guimarães, a expectativa é de que o canteiro de obras de Angra 3 seja retomado no segundo semestre de 2020. Os primeiros testes na geração de energia, enfatizou, devem ocorrer em 2025.

Empresas privadas na mineração de urânio

Ao conversar com jornalistas após a palestra, o ministro Bento Albuquerque disse que o governo quer abrir para a iniciativa privada a oportunidade de explorar urânio no país, cuja mineração foi paralisada, segundo o ministro, há cerca de cinco anos.

“Nós temos que viabilizar novamente a mineração do urânio e isso está sendo estudado. Nós estamos considerando inclusive a participação do setor privado nessa retomada”, disse Albuquerque.

Segundo o ministro, o Brasil ocupa atualmente a 7ª posição entre os países que possuem reservas de urânio, mas pode subir ainda mais no ranking se explorar novas áreas.

“A gente já tem evidências de que temos reservas significativas na região Norte do país, que nos levaria para o 3º lugar”, afirmou.

O ministro defende, desde que assumiu o cargo, que o Brasil invista mais em energia nuclear. “Temos o domínio do combustível e temos a vantagem de não necessitarmos nem da tecnologia para explorar e produzir”, ratificou no evento com os empresários fluminenses.

Mudanças na matriz energética

Em sua palestra, o ministro afirmou que “a nossa base hídrica está chegando ao limite do seu aproveitamento” e que isso evidenciaria ainda mais a necessidade do país alterar sua matriz energética com “visão de longo prazo e planejamento”.

Aos jornalistas, ele disse que deverá ser apresentado até dezembro deste ano o Plano Nacional de Energia (PNE), que tende a apontar para a possibilidade de o país construir outras usinas nucleares.

“Eu acredito que o modelo [do PNE] que nós estamos em fase final de elaboração para a conclusão e Angra 3 serão muito importantes para que, independente daquilo que o plano apresentar, aponte para a necessidade de novas usinas”, disse.

Albuquerque afirmou ainda o novo PNE está sendo feito com base “em um planejamento que não é feito a portas fechadas, mas que está sendo consolidado com base em estudos e discussões”, disse.

Sobre a abertura ao setor privado para atuar com energia nuclear, o ministro enfatizou que a produção de combustível tem monopólio estatal garantido pela Constituição. O que o governo quer é contar com agentes privados na extração de urânio das reservas.

“Hoje, as indústrias nucleares do Brasil estão perdendo a sua capacidade de investimento, por ser dependente [do Estado], e as contas públicas estarem do jeito que estão”, disse.

R$ 2,1 trilhões em investimentos

Em sua apresentação, o ministro apontou que o governo espera que sejam investidos, até 2027, R$ 1,47 trilhão em petróleo, gás e biocombustíveis e R$ 550 bilhões em geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Outros R$ 80 bilhões devem ser investidos em mineração até 2022.

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