Política Bolsonaro

Na premiação da Copa América, Bolsonaro recebe vaia e também aplausos

Presidente havia afirmado que povo diria se ele e ministro Sergio Moro estão certos ou não
Durante a semana, o presidente disse que iria ao gramado do Maracanã ao lado do ministro Sergio Moro se a segurança o permitisse. Ideia era testar a popularidade após divulgação de supostas mensagens do ex-juiz e de procuradores da Lava-Jato Foto: CARL DE SOUZA / AFP
Durante a semana, o presidente disse que iria ao gramado do Maracanã ao lado do ministro Sergio Moro se a segurança o permitisse. Ideia era testar a popularidade após divulgação de supostas mensagens do ex-juiz e de procuradores da Lava-Jato Foto: CARL DE SOUZA / AFP

RIO — O presidente Jair Bolsonaro não cumpriu o plano de descer ao campo de jogo no intervalo da final da Copa América entre Brasil e Peru para fazer uma espécie de "teste de popularidade" de seu governo, mas aceitou o convite para participar da cerimônia de premiação, durante a qual recebeu vaias e aplausos, tanto na entrada como na saída do gramado do Maracanã . Depois de assistir ao jogo ao lado de vários ministros, entre eles Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), o chefe do Executivo uniu-se ao comitê organizador. Ao contrário do que se esperava, não foi o encarregado de entregar a taça à vitoriosa seleção brasileira. O privilégio foi do presidente da Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol), Alejandro Domínguez.

Na comemoração, jogadores brasileiros chamaram o presidente para segurar a taça tirar fotos com o time campeão.

Quando o placar estava 2 a 0 (depois viria o terceiro gol, de pênalti), o presidente e os principais ministros de seu gabinete abandonaram a tribuna preferencial para que Bolsonaro pudesse chegar a tempo ao encerramento da Copa. A intenção do Palácio do Planalto foi, desde o princípio, aproveitar o jogo para fortalecer a imagem pública do presidente e, também, de Moro, nas últimas semanas alvo de várias denúncias sobre suposta interferência nas ações da Operação Lava-Jato.

No intervalo, Bolsonaro não desceu ao campo e preferiu se aproximar de torcedores que estavam em arquibancadas próximas da tribuna preferencial, tirou fotos e abraçou seguidores. O grupo era pequeno e recebeu o presidente com entusiasmo. Dois dias antes da partida, Bolsonaro dissera que pretendia entrar em campo na final da Copa e representantes da organização do torneio declararam que se esse fosse o desejo do presidente seria atendido.

— Sobre a presença do presidente (no gramado), eles vão ao campo, isso é normal. No pré-jogo ou no intervalo, isso é normal – declarou Thiago Jannuzzi, gerente de competições do Comitê Organizador Local da Copa América.

Durante todo o jogo, os mais próximos de Bolsonaro em todo momento foram Moro e Guedes, que esta semana enfrentará dias decisivos na Câmara para a aprovação da reforma da Previdência . O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chegou minutos depois de Bolsonaro ao estádio e demorou um certo tempo em entender onde deveria sentar-se.

Também estiveram presentes o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que recentemente enfrentou questionamentos públicos por parte do vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente que não fez parte da comitiva no Maracanã. Os que sim foram incluídos foram o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Acompanharam o presidente os ministros Osmar Terra (Cidadania) e o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley.

Teste com Moro

O presidente e sua comitiva foram recebidos num clima de alegria no estádio e nas tribunas inferiores vários torcedores tiraram fotos de Bolsonaro. A todos o presidente respondeu com sorrisos e bom humor. No entanto, passados apenas quatro minutos de jogo a imagem de Bolsonaro ao lado de Moro apareceu no telão do Maracanã e as primeiras vaias apareceram.

Na véspera do jogo, uma pesquisa da Datafolha mostrou que entre 63% dos brasileiros que disseram ter conhecimento sobre os supostos diálogos entre Moro e procuradores da operação Lava-Jato e 58% afirmaram que a conduta do ministro foi inadequada. Já para 54% dos ouvidos, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi justa. Com as denúncias contra Moro se intensificando, surgiram especulações sobre a presença do ministro do Maracanã neste domingo e questionamentos sobre a suposta utilização da Copa América por parte do Palácio do Planalto para tentar mostrar-se forte e com respaldo popular.

Uma das críticas mais duras neste sentido foi feita pela Associação de Futebol da Argentina (AFA), após a derrota de sua seleção nas semifinais contra o Brasil. Em nota oficia, a AFA denunciou que a "imprudência na designação arbitral gerou um inevitável ambiente prévio ao encontro, agravado pela presença do presidente do Brasil Jair Bolsonaro no estádio Mineirão, de Belo Horizonte, que não passou inadvertidamente aos jogadores, dirigentes e público em geral, já que foram evidentes suas manifestações políticas durante o desenvolvimento do jogo, não podendo deixar de mencionar que no intervalo ele deu uma verdadeira volta olímpica pelo estádio".

O craque da seleção argentina, Lionel Messi, disse, dias depois, que a Copa tinha sido "armada" para o Brasil.

— Brasil campeão? Creio que não haja dúvida. Lamentavelmente creio que está armada para o Brasil — declarou o craque argentino.

Entre os torcedores, o clima as opiniões estavam divididas. Para Yuri Conde Arrighi, administrador de empresas de 30 anos, "a presença de Bolsonaro, Moro e vários ministros é algo normal, todos os presidentes fazem isso".

— Não vejo utilização política alguma nem o governo tentando se beneficiar da Copa América. Todos os presidentes se vinculam ao mundo do futebol, Lula não fez diferente — comentou.

O técnico em material cirúrgico Igor Pereira também considerou "normal" a presença e os gestos de Bolsonaro durante os jogos da Copa América. Para ele “é um estilo, não tem nada de utilização política”.

Já Arthur Zico (em homenagem ao craque) Ferreira, que tem 29 anos e trabalha com marketing, disse não ter dúvida de que “Bolsonaro está usando esta Copa. Ele não sabe governar, só fazer campanha”.

— Não gosto do Lula, acho que ele foi a pior coisa que nos aconteceu. Mas também acho que é um perseguido político do Moro e Moro, por esse motivo, não deveria ser ministro — assegurou Artur.

Enrique Silveira, por sua vez, disse que “o presidente pode vir ao estádio, até aí tudo bem. Mas descer ao campo é ultrapassar um certo limite”.