BRASÍLIA — Ao ser oficializado candidato à Presidência pelo PDT no fim da manhã desta sexta-feira, Ciro Gomes fez um aceno à esquerda, prometendo cuidar dos mais pobres, e chegou a se colocar como herdeiro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba há mais de três meses, dizendo que, depois de "tudo o que aconteceu" com o petista, sua responsabilidade aumentou. Ciro defendeu um novo projeto de desenvolvimento para o país, e elegeu a geração de empregos como primeira tarefa para tirar o Brasil da crise.
É isso mesmo? Checamos o discurso de Ciro Gomes em lançamento de candidatura
— Depois de tudo que houve com o presidente Lula nossa responsabilidade aumentou — disse.
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Alijado do processo de aliança do bloco do centrão, que decidiu ontem apoiar o tucano Geraldo Alckmin , Ciro voltou a reconhecer que comete erros porque dorme pouco e tem a palavra como ferramenta de trabalho. Antes de seguir para o auditório, lotado, onde proferiu seu discurso, Ciro fez uma breve fala do lado de fora, no gramado da sede do PDT, onde foi montado um palco. Lá, disse que não é anjo.
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— Não posso concordar com a degradação que aconteceu com a vida brasileira. Isso evidentemente me leva a cometer erros. Não sou superior nem vacinado nem imune a erros. Tenho trabalhado praticamente dez horas por dia e a minha ferramenta de trabalho é a palavra. Posso errar aqui e ali, nunca tive a pretensão de ser anjo — discursou.
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Segundo ele, parte da perseguição que sofre é porque está comprometido em combater os privilégios.
— Quem tem que pagar esse sacrifício na proporção justa e generosa é o governo e o homem mais rico. Vou olhar com uma lupa cada despesa, cada conta, cada gasto de outros privilégios e do desvio de recursos. Não duvidem. Parte das ondas de violência que sofro é porque comigo privilégio vai ser perseguido e encerrado — discursou.
CRÍTICAS AOS 'PLUTOCRATAS'
Ciro ocupou metade de seu discurso para citar os doze pontos de seu programa de governo, que propõe um "novo projeto de desenvolvimento" para o país. Segundo ele, que falou por cerca de 30 minutos, uma preocupação central é de onde virá o dinheiro para dar cabo de suas propostas.
Nesse sentido, o pedetista criticou a "agiotagem oficial protegida pelo governo" que gastou, nos últimos 12 meses, R$ 380 bilhões em pagamento de juros, "entregues à meia dúzia de plutocratas do baronato financeiro".
Segundo Ciro, a situação fiscal do país é "absolutamente deplorável" e é preciso prestar muita atenção à agenda da economia.
— Essa gente quebrou nosso país a pretexto de austeridade. Nunca o Brasil esteve tão fragilizado nas suas contas públicas — disse, citando um déficit previsto de R$ 150 bilhões (diferença entre arrecadação e gastos da União) para este ano.
Ciro também criticou a dívida pública:
— A dívida do setor público alcança já hoje 76% do PIB, que está explodindo — acrescentou. — A sociedade brasileira está devendo a esse baronato mais de R$ 5 trilhões — afirmou, ponderando que há de ser severo, mas sem "desrespeitar os contratos".
Antes disso, o pedetista destacou que a primeira e mais urgente tarefa de seu governo é a geração de empregos, seguida da qualificação das áreas da segurança pública, saúde e educação.
— A primeira e mais urgente tarefa é gerar empregos. Muitos milhares, milhões de empregos, do Rio Grande do Sul à Amazônia, da Bahia ao Mato Grosso do Sul, das grandes cidades ao Brasil profundo do interior — disse.
Como costuma citar em seus discursos, mencionou os quatros setores em que o Brasil compra do exterior insumos que poderiam ser produzidos aqui. São eles: o agronegócio, o complexo de petróleo e gás, a defesa e a saúde.
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Na sequência, falou da qualificação da área da segurança pública, para "devolver a paz e a tranquilidade às famílias. Defendeu um aumento da presença federal na área, tanto na prevenção como na repressão. Citou o controle do tráfico de armas e drogas, a criação de uma polícia sem fronteiras, a implementação de um sistema nacional de inteligência e informação para combater o crime organizado, entre outras medidas.
Na saúde, defendeu a redução da espera para os atendimentos ambulatoriais, consultas especializadas e a realização de exames. Também falou que é "inadiável" reduzir as filas para cirurgias eletivas, e investir nas redes de atendimento, e nas campanhas de prevenção e vacinação, formação de médicos, entre outros pontos.
Ciro emendou o discurso afirmando que educação de qualidade é a "única saída para uma nação se emancipar", e defendeu, sobretudo, o investimento na educação pública, "uma das mais importantes prioridades".
— Só o investimento maciço em educação poderá fazer do Brasil um país justo e desenvolvido, com oportunidades iguais para todos — afirmou, mencionando, entre outras medidas uma política de creche em tempo integral e o aperfeiçoamento da política de cotas nas universidades.
Todas essas medidas, segundo Ciro, só serão viabilizadas com o combate à corrupção, definida como um "câncer que rouba a crença do povo na política", e que desvia recursos de todas as áreas.
O pedetista também se comprometeu a olhar "com lupa" cada conta, despesa e gasto, de olho no corte de privilégios que serão "perseguidos e execrados". Por fim, defendeu o resgate da estabilidade institucional do país e se comprometeu a rodar o país, em diálogo.
Esta sexta-feira marca o início do período de convenção dos partidos. No dia 10 de junho de 2002, última vez em que foi candidato à Presidência, Ciro também foi o primeiro a se lançar na corrida eleitoral, tendo Paulinho da Força, à época do PTB, como vice.
Cerca de 500 delegados do PPS, PTB e PDT formalizaram a candidatura da “Frente Trabalhista”, em um evento em Pindamonhangaba, cidade onde Ciro nasceu, e que contou com a presença de Leonel Brizola, então presidente nacional do PDT. No discurso, feito há dezesseis anos, Ciro concentrou ataques ao sistema financeiro internacional, a quem chamou de "inimigo exterior”.