Em 2050, o planeta terá 9,8 bilhões de pessoas, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao ritmo atual de produção e consumo, não será possível sustentar tanta gente – não haverá recursos suficientes nem condições de lidar com a quantidade de lixo descartado. Para lidar com esse desafio, todo o processo produtivo precisa mudar: se o passado era linear, o futuro será circular.
É pensando assim que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) vem realizando uma série de estudos e eventos para divulgar os princípios da economia circular. Afinal, o padrão linear estabelecido pela Revolução Industrial surgiu quando o planeta tinha 1 bilhão de pessoas. Por um bom tempo, funcionou assim: as empresas extraíam e transformavam; os clientes consumiam e descartavam, e depois iam em busca de novos produtos. Hoje as indústrias extraem 40% mais valor das matérias-primas do que há 30 anos. Mas não é suficiente, pois, nesse mesmo período, a demanda aumentou 150%.
Esse modelo linear, que gera desperdício e desgaste do planeta, está com os dias contatos.
“A economia circular consiste na criação de processos que permitam o reaproveitamento não só dos produtos, como dos insumos agregados à produção”, afirma a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg. “É preciso acabar com o que chamamos de lixo, considerando todo material inserido em nossa sociedade como recurso útil e reutilizável.”
Luz como serviço
A economia circular muda a forma de extrair matéria-prima, que se torna mais criteriosa e consciente. Estimula, inclusive, a reciclagem e o uso de resíduos como fonte de novos produtos e o desenvolvimento de maneiras de produzir utilizando menos água, por exemplo, e gerando uma menor quantidade de substâncias poluentes, tudo em contato com a comunidade do entorno.
A nova economia também envolve o consumo consciente e o descarte adequado, de forma a completar o circuito com eficiência e produtividade.
Para a Signify, o nome atual da antiga Philips Lighting, a economia circular está no centro das estratégias de negócio. “Com o crescimento populacional, a economia linear está com os dias contados. É um caminho sem volta”, destaca Sergio Baptista, presidente e diretor-geral da Signify no Brasil. A empresa aposta em um novo modelo de negócios, que transforma a iluminação em serviço. “Não vendemos um produto, vendemos a luz como serviço. Para isso, criamos uma modelagem de negócios que cuida de todas as pontas, desde projetos de iluminação até o uso de novas tecnologias.”
A reciclagem é central para essa estratégia. Todo o processo de coleta e reciclagem da empresa é realizado pela associação Reciclus, que separa os compomentes das lâmpadas (vidro, metal e pó fosfórico, que contém mercúrio) e os reaproveita. O vidro e o pó são utilizados na fabricação de cerâmica e para vitrificação de azulejos; as pontas metálicas vão para a indústria de fundição; e o mercúrio é destinado para institutos de pesquisa. A Signify participa ativamentedesse processo, estimulando seus clientes, principalmente as empresas e indústrias, a fazer o descarte adequado de lâmpadas.
“As empresas mais novas, principalmente as startups, já estão nascendo circulares”, aponta Mônica Messenberg, da CNI. É o caso da brasileira YVY, que cria produtos de limpeza totalmente naturais. “Entendo a economia circular como a única maneira de sobrevivermos neste planeta pelas próximas gerações”, acredita o sócio-fundador, Marcelo Ebert.
“Nossos borrifadores substituem as embalagens plásticas de uso único, e o design de nossas capsulas e embalagens de entrega foi pensado para atender a um programa de logística reversa. Além de colocar 66% menos plástico no meio ambiente, a YVY resgata suas próprias embalagens, que viram plástico novamente e são transformadas em cápsulas e outros utensílios de uso na limpeza”, explica.
Primeiros passos
Muito conhecida nos países desenvolvidos, especialmente nos da União Europeia, a economia circular está dando os primeiros passos no Brasil. Por isso, a CNI vem fazendo um grande esforço para ampliar a adoção e criar um movimento de mobilização, que envolva todas as esferas, incluindo governos, associações e empresas de todos os setores. “É necessária uma articulação maior entre setor produtivo, governo, sociedade e academia para buscarmos novos modelos de negócio que estimulem a economia circular”, afirma Mônica Messenberg.
A entidade defende a adoção de modelos de negócios que valorizem a funcionalidade do produto, a implantação de sistema de triagem de resíduos para reciclagem e a criação de espaços de interação e cooperação entre empresas que operam no mesmo território.
“É preciso criar políticas de estímulo para o reúso, a reciclagem, a gestão de resíduos e a redução de emissões de gases poluentes”, ressalta Mônica. “Afinal, tudo o que é novo precisa de incentivo para se tornar atrativo.”