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Suspeito de ataques hacker diz à PF que passou dados ao The Intercept

Em depoimento, Walter Delgatti negou ter cobrado dinheiro em troca de mensagens
Walter Delgatti Neto, um dos suspeitos preso pela Operação Spoofing Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Walter Delgatti Neto, um dos suspeitos preso pela Operação Spoofing Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

BRASÍLIA - O suposto hacker Walter Delgatti Neto disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que foi ele quem passou para o site The Intercept os arquivos com troca de mensagens entre o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, entre outras autoridades. Delgatti afirmou que decidiu entregar as informações para a revista eletrônica inspirado no exemplo do ex-analista de inteligência Edward Snowden.

Snowden se tornou famoso depois de repassar para os jornais "The Guardian" e "Washington Post" provas sobre espionagem extraídas do serviço de inteligência dos Estados Unidos contra chefes de governo e políticos em vários países, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff.

Delgatti disse à Polícia Federal, na terça-feira, que nada cobrou pelos arquivos. Ele teria passado uma parte dos dados ao Intercept usando o aplicativo Telegram. Depois, criou um mecanismo específico para repassar os arquivos mais pesados.

Em nota divulgada na terça-feira, o Intercept afirmou que "não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas".

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Delgatti não citou em seu depoimento ter tido a intenção de vender as informações para o PT ou para qualquer outro comprador. Em um depoimento ontem, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, outro preso pela Operação Spoofing, disse que Delgatti, seu amigo, manifestara, há três meses, desejo de vender o "produto" para alguém do Partido dos Trabalhadores. Também estão presos Suellen Priscila, mulher do DJ, e Danilo Cristiano Marques.

Remédios para depressão

A polícia considera importante a colaboração de Delgatti, mas entende que é necessário aguardar os laudos periciais e checar alguns dados antes de concluir a apuração do caso. Com histórico de abandono familiar e usuário de remédios contra depressão, Delgatti teria, segundo amigos, propensão para distorcer parte da realidade e, com isso, projetar uma imagem exageradamente positiva dele mesmo. Santos disse que, num determinado momento, o amigo se gabou de estar de posse das mensagens de Moro.

Pelas primeiras informações da polícia, Delgatti teria atacado aplicativos de aproximadamente mil celulares. Entre os alvos do suposto hacker, estavam autoridades de Executivo, Legislativo e Judiciário, inclusive o presidente Jair Bolsonaro. A partir desta quinta-feira, a polícia deverá passar a informar estas autoridades sobre os indícios de que foram alvos de ataques.

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Santos, Suellen e Marques negam envolvimento com os ataques às contas no Telegram. Santos disse que recebeu algumas mensagens de Delgatti e até alertou o amigo sobre os riscos aos quais ele estaria se expondo. Suellen disse que apenas cedia conta bancária para o marido movimentar com recursos obtidos em negociações com bitcoin. Marques atuaria como ajudante de Delgatti, mas sem conhecimento das atividades ilegais do amigo.