BRASÍLIA - O suposto hacker
Walter Delgatti Neto
disse em depoimento à Polícia Federal
(PF)
que foi ele quem passou para o site The Intercept os arquivos com troca de mensagens entre o ministro da Justiça,
Sergio Moro,
e o procurador
Deltan Dallagnol,
entre outras autoridades. Delgatti afirmou que decidiu entregar as informações para a revista eletrônica inspirado no exemplo do ex-analista de inteligência
Edward Snowden.
Snowden se tornou famoso depois de repassar para os jornais "The Guardian" e "Washington Post" provas sobre espionagem extraídas do serviço de inteligência dos Estados Unidos contra chefes de governo e políticos em vários países, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff.
Delgatti disse à Polícia Federal, na terça-feira, que nada cobrou pelos arquivos. Ele teria passado uma parte dos dados ao Intercept usando o aplicativo Telegram. Depois, criou um mecanismo específico para repassar os arquivos mais pesados.
Em nota divulgada na terça-feira, o Intercept afirmou que "não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas".
A polícia considera importante a colaboração de Delgatti, mas entende que é necessário aguardar os laudos periciais e checar alguns dados antes de concluir a apuração do caso. Com histórico de abandono familiar e usuário de remédios contra depressão, Delgatti teria, segundo amigos, propensão para distorcer parte da realidade e, com isso, projetar uma imagem exageradamente positiva dele mesmo. Santos disse que, num determinado momento,
o amigo se gabou de estar de posse das mensagens de Moro.
No começo de junho, a assessoria do ministro da Justiça contou que o
hacker havia invadido o aparelho
. O ministro atendeu uma chamada do próprio número. O invasor acessou seu Telegram e
se passou por ele
. O ministro da Justiça trocou de linha, e a Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.
Raquel Dodge
A procuradora-geral da República,
Raquel Dodge
, está na lista de autoridades que foram
alvos de ataque
do suposto hacker Walter Delgatti Neto, preso desde terça-feira. Em maio, a procuradora recebeu várias ligações do número dela, achou estranho e não atendeu os telefonemas. Mais tarde, foi informada pela Secretaria de Tecnologia da Procuradoria-Geral que um hacker tentou, sem sucesso, acessar o celular dela.
Ministros do STF
Nesta quinta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, foi avisado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, de que ministros da Corte também foram alvos de ataques hackers.
Davi Alcolumbre
O presidente do Senado,
Davi Alcolumbre
estava com o celular fora de área quando o ministro Moro ligou para informá-lo, mas foi avisado de que assessores do Ministério da Justiça ligaram para sua equipe e também na Presidência do Senado.
Rodrigo Maia
No caso de Rodrigo Maia, embora o celular tenha sido invadido, não há indícios de captura de dados, segundo investigadores. No fim da tarde, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia
, divulgou nota dizendo que não usa o aplicativo Telegram e que teve conhecimento do suposto hackeamento pela imprensa.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, teve o celular hackeado na noite de 22 de julho, segundo a assessoria do Ministério da Economia. À noite, o telefone do ministro entrou para o aplicativo Telegram. Guedes disse ao colunista Lauro Jardim que foi alvo de
"bandidos"
.
25 procuradores do MPF
A Procuradoria-Geral da República (
PGR
) afirmou na noite desta quinta-feira que 25 membros do
Ministério Público Federal
(MPF) de todo o país foram alvos de ataques hackers —
inclusive a chefe dos procuradores, Raquel Dodge
. A apuração interna do órgão constatou que menos da metade dos celulares foram efetivamente comprometidos.
Presidente do STJ, João Otávio de Noronha
O presidente do Superior Tribunal de Justiça,
João Otávio de Noronha
, confirmou nesta quinta-feira que recebeu um telefonema do ministro da Justiça,
Sergio Moro,
para lhe informar que seu nome estava na lista das
autoridades hackeadas
pelo grupo preso na Operação Spoofing, da Polícia Federal.
Joice Hasselmann
Líder do governo no Congresso, a deputada do PSL relatou pelas redes sociais que
teve seu telefone celular clonado
em 21 de julho. Ela contou ter recebido ligações do seu próprio número e pediu prisão para os invasores. Segundo ela, mensagens foram enviadas a partir de sua conta no Telegram ao colunista do GLOBO, Lauro Jardim.
Deltan Dallagnol
O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato teve o celular e a conta no Telegram invadidos. Segundo a coluna de Lauro Jardim, o procurador contou a amigos que hacker ficou pelo menos dois dias
com livre acesso à conta
no aplicativo e baixou arquivos. Dallagnol disse a pessoas de sua confiança que identificou uma tentativa de invasão a seu e-mail.
A juíza, que substituiu Sergio Moro (incluindo na primeira instância da Lava-Jato) por um tempo após ele deixar 13ª Vara Federal de Curitiba,
foi alvo
de hackers. A Justiça Federal informou que o fato foi "comunicado à Polícia Federal" e que a juíza não verificou exposição de "informações pessoais sensíveis".
Rodrigo Janot
No começo de junho, um hacker tentou seguidas vezes invadir o celular do ex-procurador-geral. O invasor não teve sucesso porque Janot se recusou a atender
as insistentes ligações
e a acessar os códigos. No final de abril, um hacker invadiu o celular de Janot e tentou acessar redes e até contas bancárias dele por mais de dez horas.
Ex-auxiliares de Janot
Dois procuradores, ambos ex-auxiliares de Rodrigo Janot, relataram ao GLOBO também terem sido
vítimas de ataques
de hackers, mas pediram para não terem os nomes publicados. Em maio, um hacker tentou invadir o celular de Ronaldo Queiroz, ex-chefe de gabinete substituto do ex-procurador-geral.
Abel Gomes
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) informou que o desembargador federal, relator dos processos da Lava-Jato do Rio em 2ª instância (Calicute, Cadeia Velha, Furna da Onça),
sofreu uma tentativa de invasão
a seu celular e à sua conta no Telegram. Assim que percebeu o ato, ele acionou a Polícia Federal.
Juízes do Rio e de Curitiba
De acordo com o TRF-2, um ataque hacker também foi dirigido também ao juiz federal Flávio de Oliveira Lucas, que atuou no gabinete do desembargador Abel Gomes e, em período de férias, o substituía. Flávio Lucas é hoje titular da 18ª Vara Federal cível do Rio de Janeiro. O GLOBO informou em junho que juízes do Rio e de Curitiba
foram alvos
.
Ataques de hackers se estenderam a integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato de ao menos três estados (Rio, Paraná e Distrito Federal). Entre os alvos, estiveram os procuradores Januário Paludo, Ronaldo Pinheiro de Queiroz, Danilo Dias e Andrey Borges de Mendonça.
Eduardo El Hage
Outro alvo dos ataques, o coordenador da força-tarefa no Rio, Eduardo El Hage, reagiu rapidamente à tentativa de invasão de suas comunicações e impediu que seu celular fosse utilizado pelo invasor.
Paulo Galvão
Em Curitiba, o procurador Paulo Galvão demorou a perceber que estava
sendo vítima de um golpe
. O procurador teria recebido uma ligação do meio da noite e, sem se atentar para o risco, concordou com as sugestões do hacker. Quando se deu conta, o invasor já teria acessado seu celular. Não se sabe se o hacker teve ou não tempo de copiar os dados.
Força-tarefa de São Paulo
A força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo confirmou que dois procuradores sofreram tentativa de invasão de seus celulares em maio, mas o ataque foi percebido e bloqueado. Na época, os dois já não integravam a força-tarefa. A ex-coordenadora Thaméa Danelon também foi alvo: recebeu mensagens de que uma nova sessão do Telegram estava sendo aberta. "Derrubei a sessão quatro vezes", disse Thaméa.
Delegados federais de São Paulo
Reportagem de junho do GLOBO mostrou que o ataque hacker foi mais amplo do que se imaginava e
atingiu o "coração" da Lava-Jato
. Delegados federais de São Paulo também sofreram tentativas de invasão de suas comunicações.
Um hacker entrou em contato com José Robalinho, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores, se fazendo passar pelo procurador militar Marcelo Weitzel, que teve seu celular invadido, como
revelou a revista Época
.
Jornalista do GLOBO
O jornalista do GLOBO Gabriel Mascarenhas, repórter da coluna de Lauro Jardim,
teve sua conta no Telegram invadida
por um hacker em 11 de maio. O hacker, se passando pelo jornalista, enviou mensagens intimidadoras ao procurador regional da República Danilo Pinheiro Dias. O GLOBO comunicou o ocorrido à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Santos, Suellen e Marques negam envolvimento com os ataques às contas no Telegram. Santos disse que recebeu algumas mensagens de Delgatti e até alertou o amigo sobre os riscos aos quais ele estaria se expondo. Suellen disse que apenas cedia conta bancária para o marido movimentar com recursos obtidos em negociações com bitcoin. Marques atuaria como ajudante de Delgatti, mas sem conhecimento das atividades ilegais do amigo.