Coronavírus

Por Felipe Gutierrez


Enfermeira telefona para paciente de Covid-19, observada por uma estudante, na cidade de Seattle, nos EUA, em 13 de fevereiro de 2020 — Foto: Elaine Thompson/AP

Parte do planejamento para a saída do confinamento de alguns países ou governos em meio à pandemia de Covid-19 inclui a implementação de programas de rastreamento de contato entre as pessoas.

Eles consistem em conversas telefônicas de infectados com agentes contratados. O doente descreve quais foram as pessoas com quem ele esteve no passado recente.

Com essas informações, o servidor vai ligar para toda a lista que foi fornecida e avisar a essas pessoas que elas precisam se manter em quarentena. Dessa forma, interrompe-se a transmissão do coronavírus.

Nova York começa a fazer testes de anticorpos para o novo coronavírus

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O estado de Nova York, nos EUA, é um dos que fazem planos como esse. O governador Andrew Cuomo anunciou que tem planos para contratar agentes que farão o rastreamento de quem esteve em contato com pessoas infectadas.

Após implementar testagem de forma ampla, Cuomo estima que sejam necessários de 5 mil a 10 mil pessoas para fazer o serviço.

Michael Bloomberg, o bilionário que foi prefeito da cidade de Nova York, afirmou que vai pagar parte desse serviço.

O estado de Massachusetts implementou um programa de rastreamento por telefone. O governo do estado contratou mil pessoas para executar o trabalho. Foram empregados US$ 44 milhões no programa.

O Alasca, outro estado dos EUA, também tem plano semelhante. Os restaurantes poderão voltar a funcionar, mas os clientes precisam deixar informações de contato. Se um deles eventualmente foi diagnosticado com Covid-19, os outros serão avisados e precisarão se isolar.

Problemas ligados aos testes

O propósito do rastreamento é cortar a transmissão –quem esteve em contato com uma pessoa infectada, ao tomar ciência disso, começa a se isolar antecipadamente.

Há, no entanto, uma dificuldade para se saber quem foi infectado, afirma a infectologista Ho Yeh Li, da Faculdade de Medicina da USP.

Quem tem sintomas leves pode não ter nível de secreção nasal suficiente que possibilite coletar material que contenha o coronavírus para permitir a identificação como infectado.

Além disso, cada laboratório tem material com sensibilidade diferente para notar a presença do Sars-Cov-2. E mesmo a coleta, transporte e conservação podem ter problemas, ela explica.

“A situação ideal para um programa de rastreamento seria considerar infectadas todas as pessoas que apresentam sintomas, tendo ou não feito os testes. Daí corta-se a transmissão”, afirma ela.

Rastreamento com smartphones

Smartphones podem ser usados para fazer esse trabalho. Como as pessoas os levam para todos os lugares, eles podem fornecer informações sobre com quem elas interagiram --ou seja, de quais outros smartphones eles estiveram próximos.

Imagem de tela de smartphone com aplicativo de rastreamento da Covid-19, em 23 de abril de 2020 — Foto: Paresh Dave/Reuters

As empresas Apple e Google estão elaborando uma forma para que os seus sistemas operacionais possam "compreender" a proximidade um do outro, por meio de sinais de Bluetooth.

Caso o dono de um smartphone seja contaminado em um dia, os donos dos outros aparelhos receberão uma mensagem que os avisará que eles precisam entrar em quarentena.

Há sistemas como esse em Singapura e Taiwan. Na China, o aplicativo de mensagens mais popular traz um sistema de cores que determina qual deve ser a conduta de cada pessoa --não está claro, no entanto, qual o critério usado para determinar quem não pode sair à rua.

Rejeição do rastreamento por smartphones

A empresa de tecnologia Behup fez uma pesquisa sobre a aceitação de rastreamento por smartphones entre os brasileiros. A maioria dos respondentes (51,8%) afirmou ser contrária ao monitoramento, por parte do governo, de localização das pessoas por meio do celular para controlar a epidemia de Covid-19.

Os favoráveis foram 30,5%, e 17,8% não souberam responder.

Mesmo sem identificação das pessoas, há 43,1% de respondentes desfavoráveis à proposta, mais do que os que se disseram a favor (40%) –cerca de 16,9% não sabem responder.

Foram ouvidas 1.589 pessoas, no dia 16 de abril.

Acompanhamento de tendência

Em São Paulo, há uma iniciativa que tenta determinar quantas pessoas conhecem alguém que esteve com a doença.

Não se trata de um rastreamento de contato, que tem uma função epidemiológica. É uma pesquisa de percepção da Covid-19, explica Carlos Torres Freire, diretor de pesquisa da Fundação Seade.

Desde o começo da epidemia, cerca de 300 pessoas recebem um telefonema automatizado. O intuito é saber quantos desses respondentes conhecem alguém infectado ou mesmo que tenha apresentado alguns do sintomas da doença causada pelo coronavírus.

"A pesquisa não é uma medida de incidência da doença, mas é uma ferramenta para que possamos acompanhar a tendência", afirma Torres Freire.

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