• Naiara Albuquerque
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Estudo não especifica quais os sorotipos de dengue que podem trazer imunidade ou resistência ao zika (Foto: Centers for Disease Control/ Creative Commons)

Estudo não especifica quais os sorotipos de dengue que podem trazer imunidade ou resistência ao zika (Foto: Centers for Disease Control/ Creative Commons)

O conhecimento que temos sobre algumas doenças, como o zika e a dengue, está mudando rapidamente. No Brasil, um estudo liderado pela Universidade Federal da Bahia, a UFBA, feito em parceria com universidades e instituições espalhadas pelo mundo, descobriu interações importantes entre esses vírus. O estudo foi publicado nesta quinta-feira, 7, na revista Science.

Federico Costa, professor de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e um dos responsáveis pelo estudo no Brasil, explica que a intenção dos pesquisadores era entender quais eram os fatores que poderiam favorecer ou não a infecção do vírus da dengue em relação ao do zika. Entre as instituições envolvidas com o projeto estão a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Yale. 

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A pesquisa foi desenvolvida na comunidade de Pau da Lima, em Salvador, e teve início ainda em 2015, data do começo da epidemia de zika no Brasil que afetou milhares de pessoas, principalmente, na região nordeste do país.

O zika ficou conhecido também por causar a malformação de fetos, nascidos com microcefalia. O vírus afeta crianças e adultos e é difícil de ser diagnosticado, já que pode aparecer sem causar muitos sintomas. As altas taxas de contágio de pessoas pelo zika, em regiões como o Nordeste, foi seguida pelo surto de chikungunya, doença que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
 

A pesquisa foi feita na comunidade de Pau da Lima, em Salvador (Foto: Albert Ko/ Divulgação)

A pesquisa foi feita na comunidade de Pau da Lima, em Salvador (Foto: Albert Ko/ Divulgação)

Como o estudo foi feito

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo trabalham com a comunidade de Pau da Lima desde 2003. Na época, conta Costa, o foco do trabalho era o de entender o impacto de outras doenças epidemiológicas, como a leptospirose. Foi graças a esse esforço que o estudo foi possível. “Só conseguimos responder a algumas perguntas [sobre o vírus zika e dengue] porque ja estávamos preparados para capturar fenômenos de doenças que afetam essas comunidades”, explica Costa à GALILEU.

Além da estrutura, a colaboração da comunidade, doando sangue e tempo para a pesquisa, foi essencial. “A comunidade reconhece que esses estudos podem ter um impacto na saúde em geral, para áreas vulneráveis e urbanas não apenas em Salvador e Brasil, mas no mundo todo”, conta Costa

Os números do estudo são surpreendentes. Durante o surto de zika, em 2015, 1.453 pessoas participaram do projeto. Desse número, 73% foram infectadas pelo zika. Seis meses após a fase inicial do surto, os pesquisadores notaram que a transmissão do vírus diminuiu rapidamente. Foi então que os pesquisadores questionaram o que poderia ter protegido o restante das pessoas que participaram do estudo de não se infectar pelo zika, mesmo diante das elevadas taxas de transmissão do vírus.

Uma das respostas a essa pergunta, como conta Costa, é porque muitas pessoas que haviam contraído a dengue acabaram não sendo infectadas pelo zika. “Notamos que as pessoas que tinham anticorpos para dengue apresentavam menor risco para se infectar pelo vírus zika”.

Segundo Costa, o estudo não especifica quais os sorotipos de dengue que podem trazer imunidade ou resistência ao zika, mas essas descobertas podem mudar, e muito, o modo como lidamos com essas doenças.

No Brasil, a vacina contra dengue já está sendo testada em humanos. “Esse tipo de estudo é muito importante. Essa descoberta permitirá, no futuro, avaliar se essas vacinas [contra dengue] possam conferir alguma imunidade para o zika”, comemora o pesquisador. O estudo, como conta Costa, pode influenciar, no Brasil, as estrategias de imunização da dengue, e potencialmente da zika caso uma vacina venha a ser desenvolvida. “É bem possível que o zika também tenha algum efeito sobre a dengue”, finaliza.

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