• Camila Achutti*
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Jorge Paulo Lemann, durante conferência anual do Instituto Milken, em Los Angeles, no dia 30 de abril de 2018  (Foto: Dania Maxwell/Bloomberg via Getty Images)

Jorge Paulo Lemann, durante conferência anual do Instituto Milken, em Los Angeles, no dia 30 de abril de 2018 (Foto: Dania Maxwell/Bloomberg via Getty Images)

Durante uma conferência em Los Angeles, Jorge Paulo Lemann foi questionado sobre como ele via inovação mesmo estando em indústrias tradicionais como alimentação e cerveja. Eu imaginei que ele responderia algo como "É natural e também estamos investindo, temos uma série de iniciativas e blá blá blá". Essa é a resposta que a maioria dos empresários multibilionários daria. E é aí que o senhor Lemann prova que é diferente. O empresário de 78 anos começou falando sobre a vida dele. Em suas palavras: "Eu sou um dinossauro apavorado, especialmente depois dessa conferência. Eu assisti a um painel sobre alimentos ontem e eles só falaram sobre novos produtos e novas formas de produzir. Depois, fui a outro painel sobre inteligência artificial onde todo mundo falava muito sobre análise de dados e coisas assim”.

É isso Lemann. Está todo mundo com medo, os dinossauros então, estão apavorados. E sabe porque? Estamos em transição. Instabilidade e incerteza dão medo mesmo. Bora reconhecer e lidar com toda essa enxurrada de inovação e mudança. No passado, uma marca era tudo. Se você conquistasse o reconhecimento do mercado, era só investir para ganhar eficiência produtiva e sentar na cadeira para usufruir dos retornos em mais ações de marketing. Mudou, tá!? O mundo aconchegante do Lemann “de marcas antigas e volumes grandes, em que nada mudava drasticamente" e no qual "você podia apenas focar em ser mais eficiente e tudo ficava bem” (nas palavras dele), deu lugar ao mundo exponencial, digital e descentralizado.

O pulo do gato, digo, do dinossauro, está em reconhecer. Isso faz dele um dinossauro diferente, que tem mais chances de sobreviver, pois reconheceu o medo, encarou, reconheceu a incapacidade. Está correndo atrás com testes e experimentos e não tenta ser o dono da verdade. O empresário confessou "estamos correndo para fazer ajustes”, já que, por muito tempo, as suas marcas estavam "presas às mesmas formas de fazer as coisas". Temos a Zx Ventures, por exemplo - a divisão da Ambev para errar mais barato, usando o nome bonito de “obter a agilidade de uma startup”. "A missão da Zx é lidar com essas rupturas é ‘disrupt’ nós mesmos. Contratamos gente nova, de todos os tipos: gente mais jovem, gente mais voltada para o digital, mais voltada para dados, e queremos que esse seja um modelo que a gente possa replicar nas nossas outras empresas. Estamos lutando."

E quando já tínhamos achado que ele tinha destilado toda a sua esperteza e nos dado uma lição daquelas, veio a cereja do bolo:
- Pergunta: “Sr. Leman você e seus colegas serão capazes de tocar mudanças tão inovadoras, se essa não é a especialidade de vocês?"
- Resposta: “Eu tive várias carreiras na minha vida. Fui jogador de tênis, um cara de finanças, eu tenho sempre me adaptado. Tenho 78 anos, mas estou pronto e eu estou lutando. Eu não vou deitar e me fingir de morto.”

Obrigada Lemann por seguir nos ensinando! Fingir de morto e esperar passar não é mais uma solução. A máxima "eu não vou estar vivo para ver" talvez seja verdade se você pretende morrer nos próximos 3 meses.

* Camila Achutti é CTO e fundadora do Mastertech, professora do Insper e idealizadora do Mulheres na Computação

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