RIO - Município com mais mortes violentas no país, de acordo com o Atlas da Violência 2018, divulgado nesta sexta-feira, Queimados tem casos emblemáticos de homicídios. A pesquisa, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, analisou dados de 309 cidades do Brasil e pôs o município da Baixada Fluminense no topo da lista, com taxa de 134,9 mortes violentas a cada cem mil habitantes. Os números são de 2016, mas o histórico de violência em Queimados não se limita a um ano específico.
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Em dezembro do ano passado, Paulo Álex Machado, de 20 anos, voltava de uma festa quando teve o carro roubado. No caminho para a delegacia, onde registraria queixa, ele cruzou novamente com os bandidos que levaram o veículo. Os criminosos atiraram; Paulo morreu na hora e sua mãe, Genilva Tavares, foi baleada.
— Meu filho caiu em cima de mim. Não sabia se estava vivo ou não. Conseguimos colocá-lo num carro e levá-lo a um hospital. Só lá percebi que também tinha sido baleada — conta Genilva, nascida e criada em Queimados. — A cidade está cada vez pior. Depois das 22h, não se vê mais carros da PM nas ruas. O caso do meu filho é prova disso. O roubo foi por volta das três da madrugada, e eles percorreram a cidade cometendo crimes até cruzar nosso caminho. Se houvesse policiamento, não teria acontecido.
O estado ainda carrega outro dado negativo: dos 123 municípios onde estão concentradas metade das mortes violentas no Brasil, 33 são do Rio ou da Bahia (cerca de 27% do total). A pesquisa considera mortes violentas a soma de agressões, intervenções legais e óbitos com causa indeterminada, tomando como referência a cidade de residência da vítima.
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Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e coordenador do atlas, afirma que a adoção de políticas comprometidas e efetivas pode ser a solução para quase todos os municípios analisados pela equipe. Segundo ele, é preciso investir em uma polícia baseada na inteligência e também em programas sociais e educacionais.
— Esses dois pilares praticamente não existem aqui no Rio. Temos bons policiais, mas eles trabalham sem condições adequadas. Os PMs precisam ser protegidos, para que possam defender a sociedade. Há muitos jovens sem oportunidade em áreas mais pobres do estado, sem emprego e sem estudo, tornando-se, assim, presas fáceis da criminalidade. A falência econômica do estado só agravou essa realidade.
O estudo conclui também que há uma relação entre as condições educacionais, de oportunidades laborais e de vulnerabilidade econômica e a prevalência de mortes violentas.
“Há muitos jovens sem oportunidade em áreas mais pobres do estado, sem emprego e sem estudo, tornando-se, assim, presas fáceis da criminalidade”
— Vivemos em um profundo pessimismo, com descrença na segurança pública e nas autoridades. Muitas pessoas acham que não tem mais solução e colocam a violência como forma de resolver os seus problemas — afirma Cerqueira.
O sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, disse que o resultado do Atlas retrata o cenário de abandono vivido pela Baixada. O especialista considera os resultados preocupantes:
— Os índices de criminalidade sempre foram mais elevados na Baixada, que historicamente é o grande foco de violência no Rio, e sempre foi uma região abandonada, com baixos investimentos. É o exemplo básico do descaso público.
Japeri, também na Baixada, ficou em 6º lugar no Atlas da Violência 2018, atrás de Queimados, Eunápolis (BA), Simões Filho (BA), Porto Seguro (BA) e Lauro de Freitas (BA). Na outra ponta, os três mais pacíficos são: Brusque e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina; e Atibaia, em São Paulo.