A molecada da Brandina encheu de orgulho os moradores da comunidade. Quem não acompanhou a pé o desfile em carro aberto dos jogadores – eles desceram a favela na caçamba de uma picape – tratou logo de aparecer na sacada ou na janela das casas para registrar o momento. Como se diz na quebrada, a molecada representou!

A festa teve início ainda no estádio, após a cobrança final de Léo, na disputa de pênaltis contra o Campo Belo – no tempo normal, houve empate em 2 a 2.

Mas ganhou força mesmo quando os quatro ônibus com os torcedores e outros tantos veículos "invadiram" a favela. Concentrados na esquina da Avenida José Bonifácio, torcedores e jogadores aguardaram o aval de Palá, fundador do projeto e técnico da equipe, para descer as ruas e vielas da comunidade.

O jardineiro tem o respeito de todos por, há 28 anos, dar uma alternativa para que crianças e jovens fiquem longe dos perigos da rua.

– Eu tive filho que jogou bola no projeto, a gente vê a luta dele, muitas vezes sozinho. Todo mundo hoje está feliz porque as pessoas podem ver que aqui tem muita gente batalhadora, honesta. Não é porque é periferia que a gente não tem direito na sociedade, emocionou-se a aposentada Nalva Chagas, 61 anos, 32 deles vividos na favela.

Time sensação da temporada 2019, o Flamengo inspirou a comemoração da Brandina. Ainda durante o campeonato, o treinador ouviu gritos de “Mister, Mister”, em alusão ao português Jorge Jesus.

Teve também muito "Vapo", comemoração criada pela volante Gerson, e até a música “Em dezembro de 81”, que celebra a conquista rubro-negra do Mundial sobre o Liverpool, ganhou uma versão especial para a decisão.

No ano de 91
Que começou sua história
Palá com sua humildade
Montou um time da hora

Na Brandina não existe outro
Só 'nós' fez final no Majestoso
E agora seu povo
Pede um título de novo,

Dá-lhe dá-lhe dá-lhe Branda
Pra cima deles Brandina

Dá-lhe dá-lhe dá-lhe Branda
Pra cima deles Brandina

E, enquanto o churrasquinho organizado pela comunidade não saía, os heróis do título devoraram cachorros-quentes, preparados pela mãe do goleiro Eduardo e do camisa 10 Paulo. Responsável por abastecer os jogadores de ataque, o meia também foi o garçom na distribuição dos lanches.

Ajoelhados, à beira do gramado, teve jogador que nem viu a cobrança final de Léo. Mas, quando o zagueiro Léo converteu a última cobrança, todo mundo explodiu de alegria!

Na roda para agradecer o título, o técnico Palá exaltou o comprometimento de cada um na competição e a humildade de quem mora na favela.

Com o troféu na mão, o volante Henrique mandou o recado pra galera!