01/06/2015 19h39 - Atualizado em 01/06/2015 19h39

Prefeito se desculpa por descaso com moradores de Gramacho, no RJ

Alexandre Cardoso disse que falta de segurança pública impede melhorias.
Até quinta-feira, G1 exibe em série de reportagens sobre a vida no lixão.

Do G1 Rio

O prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, pediu desculpas ao admitir o descaso aos moradores de Gramacho após o fechamento do aterro sanitário, que completa três anos na quarta-feira (3). Era pra lá que ia a maior parte do lixo produzido na Região Metropolitana do Rio e as promessas de melhoria e urbanização após o fechamento não foram cumpridas, como o G1 mostra na série de reportagens especiais "A vida no lixo".

Em entrevista ao RJTV, o prefeito de Caxias disse que orçou um projeto de R$ 150 milhões para mudar a realidade dos moradores que permaneceram em Gramacho após o fechamento do aterro. A proposta seria a construção de 1,1 mil novas casas, postos de saúde, pavimentação de ruas e até ciclovia. Ele afirmou que o projeto só pode sair do papel se houver segurança pública.

 

“O que nós temos que fazer é pedir desculpas, porque não é possível aquilo ser tratado com o descaso que foi. Ali tem 2 mil pessoas que foram abandonadas, que estão morando nas piores condições”, admitiu o prefeito Alexandre Cardoso.

Segundo o prefeito, a máfia do lixo comandada por traficantes de drogas mantém 2 mil pessoas trabalhando na clandestinidade. Elas receberiam o lixo trazido por caminhões que deixam de levar os resíduos para aterros legalizados onde pagam até R$ 75 por tonelada. Em Jardim Gramacho, paga-se apenas R$ 40. “Tem conluio do tráfico, da pessoa que joga o lixo clandestino e das pessoas que ganham esse dinheiro”, disse o prefeito.

A Polícia Militar informou que não recebeu denúncia de crime organizado controlando o despejo de lixo clandestino em Jardim Gramacho, mas disse que vai apurar as informações.

A comunidade de Gramacho nasceu e cresceu em torno daquele que já foi considerado o maior lixão da América Latina, que atraiu centenas de pessoas que passaram a ganhar a vida coletando matérias recicláveis. 

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arte gramacho infográfico (Foto: Editoria de Arte / G1)

Em 2012, às vésperas da maior conferência da história da ONU, a Rio+20, a Prefeitura do Rio decidiu fechar o aterro e indenizar 1,7 mil catadores. Cada um deles recebeu R$ 14 mil. Mas nem todas as pessoas que moram em Gramacho viviam do lixo e permaneceram em situação difícil.

Para a catadora Sandra Rodrigues, que vive no bairro há 36 anos, o maior problema dali é a falta de água potável. Ela nunca teve água encanada em casa. “A água a maioria das vezes vem da captação da chuva para fazer tudo, beber, lavar roupa, cozinhar, tudo”, reclamou.

Já a catadora Silvana da Silva diz que falta tudo na região, não somente a água. “Ônibus parece que tem um só no Jardim Gramacho. Não tem área de lazer nenhuma. Postos não têm médico, demora para marcar consulta”, contou.

Mesmo após o fechamento do aterro, o lixo continua garantindo o sustento de muita gente em Jardim Gramacho. Pelo menos 280 famílias dependem diretamente da separação dos materiais recicláveis.

“A recuperação do bairro foi prometida pra início imediato após encerramento [lixão], mas já se passaram três anos e não começou nenhuma obra”, disse Glória dos Santos, diretora da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano Jardim Gramacho.

No último sábado (30), os moradores fecharam a rodovia Washington Luiz exigindo melhorias no bairro. “Falta os políticos olharem para nós e verem que aqui são seres humanos que vivem”, desabafou a catadora Sandra Rodrigues.

População vive no meio do lixo na comunidade Quatro Rodas.  (Foto: Marcos de Paula / G1)População vive no meio do lixo na comunidade Quatro Rodas. (Foto: Marcos de Paula / G1)
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