Meio Ambiente
Conheça a incrível fotografia aérea de Yann Arthus-Bertrand
Artista francês revela as belezas e urgências do planeta
3 min de leituraQuase tudo o que se refere ao francês Yann Arthus-Bertrand engloba números expressivos, quase megalomaníacos.
Em seus mais de 40 anos de carreira, o fotógrafo, cineasta e ativista de 73 anos já visitou 130 países. Vendeu 4 milhões de exemplares do livro fotográfico A Terra Vista do Céu (1999), resultado de nove anos de viagens pelo mundo. Para o documentário Human (2015), trabalhou três anos. Entrevistou 2 mil pessoas em 63 países — no YouTube, o filme teve 4 milhões de visualizações. Nos 1,2 mil m² do Grande Arco de la Défense, em Paris, ele atualmente expõe 280 fotos e cinco filmes, em sua primeira mostra retrospectiva.
Afinal, o francês começou do alto. Mais especificamente, do alto de um balão. Na casa dos 30, depois de partir com a família para o Quênia para estudar leões, teve de encontrar um modo de complementar a renda, e passou a pilotar balões de ar quente. Dali de cima, conta à GALILEU, descobriu que a Terra “é uma obra de arte, algo muito mais bonito do que se podia imaginar”. Não tardou para deixar de lado a vontade de ser cientista e enveredar pela fotografia.
Arthus-Bertrand logo se tornou referência em matéria de fotografia aérea e da natureza, em especial pelo sucesso de A Terra Vista do Céu. Também passou a ser figura engajada em causas ambientais e sociais. Hoje é embaixador da boa vontade da ONU para o meio ambiente, além de imortal da Academia de Belas Artes francesa. Há quatro anos, a ONG Good Planet, fundada por ele, passou a oferecer nos arredores de Paris oficinas e atividades culturais voltadas à ecologia e ao humanismo.
Estão aí os maiores questionamentos de seu trabalho: por que não conseguimos viver juntos? Por que há tantas guerras e medo de refugiados? Por que estamos acabando com os recursos naturais do planeta?
“Acordo à noite pensando nisso”, diz o francês. “Faço parte daquelas pessoas que nos anos 80 diziam que iam salvar os leões, os elefantes. Os cientistas já falam no fim dos elefantes; eram 200 mil e hoje só há 20 mil.”
Ele também se aflige com o aumento exponencial da população do planeta — quando nasceu, éramos 2 bilhões, agora já somos 7,8 bilhões — e os hábitos da vida contemporânea. “Eu nunca poderia imaginar que em 2019 estaria falando sobre a sexta extinção da vida na Terra, além de irmos em direção a uma mudança climática importante. Essa religião do crescimento, de mais consumo, mais desperdício... Precisamos mudar nossa maneira de viver. Viver melhor com menos. Vivemos numa negação coletiva. Sabemos o que está acontecendo no planeta.”
Questionar padrões sociais é algo que o fotógrafo faz desde cedo. Nascido em uma família abastada de Paris, herdeira de uma joalheria tradicional (a Maison Arthus-Bertrand), ele foi uma criança difícil. Nunca concluiu o Ensino Médio e foi expulso de 14 escolas — ironicamente, hoje 12 colégios na França levam seu nome.
“Eu era um garoto insuportável, detestava a autoridade. Saí de casa com 17 anos e fiquei um ano sem ligar para minha mãe.”
A juventude conturbada contrasta com a personalidade sentimental de Arthus-Bertrand, mas ainda hoje o francês traz certa inquietação: com as políticas sociais e ambientais. A preocupação surge de modo afetuoso nas conversas de Human, em que pessoas do mundo todo falam de percalços, amores e conflitos; nas belas imagens aéreas que mostram a destruição da natureza; ou nos relatos de sonhos e medos de Woman, documentário feito com a ucraniana Anastasia Mikova e que deve sair neste ano.
Seu propósito é mostrar a beleza do mundo, mas também nos impactar. “É muito tarde para sermos pessimistas. Precisamos agir.” Não surpreende, assim, sua obsessão pelo trabalho. “Só penso nisso. Não paro nunca.” Vê-se bem no volume de obras (quase 300) que ele expõe até 1º de dezembro em Legacy, sua retrospectiva em Paris. “A mostra é dedicada às pessoas que me ajudaram. Que sorte tive de ter essa vida extraordinária!”
E isso ele define citando um entrevistado de um de seus trabalhos: “Perguntei a um agricultor em Madagascar qual era o seu sonho. Ele respondeu que queria morrer com o sorriso. Aceitar a vida, a morte, os erros. Ser bem-sucedido na vida profissional não é difícil, mas na vida pessoal ser alguém de bem não é fácil.”