Por Mateus Rodrigues e Letícia Carvalho, G1 DF


Cavalo rabiscado com tinta e canetinhas em atividade da Hípica de Brasília — Foto: Ana Paula Vasconcelos/Arquivo pessoal

O Ibama decidiu advertir a Hípica de Brasília por abuso animal, referente à atividade em que crianças foram convidadas a pintar um cavalo da instituição durante uma colônia de férias. A hipótese de maus-tratos, mais grave, foi descartada após análise.

Segundo a nota técnica emitida pelo órgão ambiental, a atividade "foi considerada reprovável e sujeita a autuação". Na advertência, o Ibama classifica a dinâmica como uma "conduta delituosa, que não deverá ser repetida".

Como não houve sequela aos animais, e como a escola tem histórico de resgatar bichos apreendidos em situações de maus-tratos, a advertência não foi acompanhada de multa ou alguma punição mais grave.

Em nota ao G1, a Escola de Equitação da Sociedade Hípica de Brasília confirma o recebimento da advertência do Ibama, e diz que "que tem 20 dias para entregar as demais documentações exigidas na conclusão preliminar do órgão".

"Em nossos 41 anos de experiência e notoriedade no meio hípico nacional e internacional, reafirmamos o nosso compromisso de cuidado com todos os nossos animais, assim como nosso repúdio a qualquer indício de maus tratos, e nos comprometemos a tomar todas as atitudes necessárias para que a lei seja cumprida e que o bem estar dos animais seja preservado", afirma a hípica.

Documentos sobre cavalo pintado em hípica serão enviados até sexta (27)

Documentos sobre cavalo pintado em hípica serão enviados até sexta (27)

Projeto pedagógico?

Segundo o Ibama, o projeto pedagógico da atividade somente foi escrito para atender à notificação do órgão. Quando as crianças participaram da recreação proposta pela Hípica de Brasília, o documento ainda não tinha sido elaborado.

“[...] Também informou que não possuía projeto pedagógico escrito quando a atividade foi realizada, mas que o solicitou para o atendimento à notificação. Visando formalizar a data de protocolo, informou que solicitou inserir no projeto a data retroativa”, apontou o Ibama no processo de advertência.

No documento, o órgão informou que não observou “malícia” por parte do diretor da Hípica, mas argumentou que a atividade não tinha um projeto pedagógico que fundamentasse a iniciativa.

De acordo com o Ibama, além da inexistência do projeto, a proposta era “extremamente simples” e questões importantes não foram tratadas:

  • por que a pintura se sobrepõe ou é necessária, apesar de outras possibilidades de aproximação;
  • avaliação dos resultados da atividade;
  • o porquê de sua realização no último dia quando caso, não se mostre eficiente para a aproximação entre crianças e o cavalo, não haverá outra oportunidade;
  • avaliação de qual foi a percepção das crianças, inclusive de respeito pelo animal, ou se essa percepção se alterou após a atividade.

"[..] Depreende-se que a atividade se resumiu a uma proposta de pintar o cavalo. Uma atividade lúdica, mas sem uma proposta pedagógica elaborada e específica que a respaldasse. Assim, não existiu proposta pedagógica que afaste o uso inadequado que a população denunciou", escreveu o Ibama na decisão.

Polêmica

A atividade, considerada pedagógica pela hípica, foi vista por ONGs de direitos dos animais como maus-tratos. Uma fiscalização preliminar apontou que o cavalo Thor estava em boas condições, mas o Ibama pediu que a instituição submetesse o programa pedagógico a uma análise.

Na imagem compartilhada pela advogada e ativista Ana Paula Vasconcelos, é possível ver que as tintas se espalharam pelo dorso, pelas patas e pelo focinho do animal.

"Eles tiveram a brilhante ideia de colocar o cavalo como tela de pintura, dizendo que seria atividade pedagógica. Disseram que era um cavalo resgatado, mas isso não justifica. A crueldade é a mesma", diz Ana Paula.

No dia seguinte à reportagem do G1, a Escola de Equitação da Hípica de Brasília divulgou novas imagens da atividade. O vídeo (veja acima), segundo a instituição, mostra a tranquilidade do animal e a "aproximação lúdica" das crianças.

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