Operação da PM em morros de Santa Teresa e Catumbi teve maior número de vítimas fatais em 12 anos

Parentes denunciam execução em ação da PM com 13 mortos nas favelas do Fallet, Fogueteiro, Coroa e Prazeres na sexta-feira
Um perito recolhe uma roupa na casa em que dez pessoas foram mortas, no Morro do Fallet. Segundo a PM, as vítimas haviam entrado em confronto com o Batalhão de Choque, mas moradores denunciam execução Foto: Pilar Olivares / REUTERS

RIO — Com grande quantidade de sangue no chão e nas paredes, onde também havia marcas de tiros de fuzil, uma casa no Morro do Fallet, em Santa Teresa, é o ponto de partida da perícia que investiga a morte de 13 pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico durante uma operação da Polícia Militar , realizada na manhã de sexta-feira. No imóvel, estavam mortos dez integrantes de uma facção criminosa que, nos últimos dias, tenta retomar o controle da venda de drogas na região, onde também estão localizadas as comunidades da Coroa, do Fogueteiro e dos Prazeres. Neste último morro, ocorreram as outras três mortes.

LEIA MAIS: Famílias de suspeitos mortos no Fallet não poderão enterrá-los no Catumbi por determinação de facção rival

Segundo a Polícia Militar, houve confronto no momento em que equipes do Batalhão de Choque chegaram ao local. As versões sobre o encontro dos corpos são contraditórias. A PM informa que eles “foram encontrados em vias da comunidade”. No entanto, há imagens dos cadáveres dentro do imóvel da Rua Eliseu Visconti, no Fallet, e parentes das vítimas também asseguram que todos estavam no mesmo local. Os PMs contaram ainda terem encontrado os suspeitos com o uso de drones, depois de receberem informações do Disque-Denúncia.

Vítimas não identificadas

Foi a operação policial com maior número de vítimas nos últimos 12 anos. Em 2007, 19 morreram no Complexo do Alemão. A Delegacia de Homicídios, que investiga o caso, já apreendeu as armas usadas pelos policiais para submetê-las a uma perícia. No início da noite, os corpos foram levados para o Instituto Médico-Legal, e apenas três das vítimas haviam sido identificadas: Vitor dos Santos Silva, de 15 anos, Roger dos Santos Silva, de 17, e Enzo de Souza Carvalho, de 18. Foram apreendidos quatro fuzis, 14 pistolas e três granadas,e 11 pessoas estão presas sob a suspeita de envolvimento com o tráfico.

Todas as vítimas foram levadas pelos próprios policiais para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, mas, de acordo com a Secretaria de Saúde, já estavam mortas quando médicos as receberam. Fotos dos cadáveres feitas por funcionários da unidade mostram que quatro suspeitos foram baleados nas pernas e no tronco, e um levou um tiro no rosto. Um chegou sem roupa ao hospital. Peritos vão examinar os corpos para saber se as feridas apresentam sinais de execução.

. Foto: Editoria de arte

Guerra entre facções

Segundo a PM, há uma guerra entre facções na região. No início da semana, integrantes do Comando Vermelho, que domina as bocas de fumo nas favelas Fallet, Fogueteiro e Prazeres, invadiram o Morro da Coroa. A área, até então, era dominada pelo Terceiro Comando Puro. Nos últimos dias, houve vários confrontos nessas comunidades.

A Polícia Militar informou ainda que, além dos dez suspeitos que estavam na casa do Fallet, três foram mortos ao reagirem a uma incursão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Morro dos Prazeres.

Parentes ouvidos pelo GLOBO disseram que os baleados na operação tinham ligação com o tráfico, mas acusaram a polícia de execução. Segundo eles, os que foram mortos no Fallet haviam fugido para a casa da Rua Eliseu Visconti quando o Batalhão de Choque chegou. Imagens registradas dentro do imóvel mostram cadáveres no chão antes de serem colocados na caçamba de viaturas e levados para o Souza Aguiar.

— Ninguém era inocente. Mas, se nossos filhos foram executados, os policiais têm que pagar. A PM tem que prender, não matar quem está rendido — disse a mãe de um dos mortos.

VEJA TAMBÉM: Mortos em decorrência das chuvas no Rio são enterrados; conheça suas histórias

Uma mulher disse que deixou seus dois filhos em casa para ir ao supermercado e, quando voltou, encontrou Maicon, de 17 anos e David, de 22, mortos. Ela acredita que os filhos foram mortos enquanto dormiam. Os moradores da favela afirmam, no entanto, que ambos era traficantes. Eles ainda não foram identificados oficialmente.

— Tinham sono pesado — conta a mãe. — Quero saber o que aconteceu.

Segundo a PM, os policiais “foram recebidos a tiros e houve confronto. Após cessarem os disparos, dez criminosos feridos foram encontrados em vias da comunidade e socorridos”.