O presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, criticou a rapidez com que a perícia nas gravações da portaria do condomínio do presidente Jair Bolsonaro foi realizada.
“Aparentemente, do que se extraiu da imprensa, foi uma análise muito superficial, não contemplou todos os vestígios disponíveis e foi feito de uma forma muito célere. Talvez fosse necessário um aprofundamento maior, colher outros tipos de vestígios, sejam eles vestígios físicos, que estavam na guarita, como o computador, circuito interno de TV, uma identificação de locutor talvez mais robusta, enfim, um rigor cientifico maior dentro de uma cadeia de custódia para que se tenha uma conclusão aprofundada dos fatos”, disse Camargo, a jornalistas, nesta sexta-feira (1º de novembro).
Documentos entregues pelo MP à Justiça mostram que a análise foi feita pouco antes dos procuradores darem uma entrevista, na quarta-feira (30), afirmando que o porteiro do condomínio teria mentido ou se enganado nos dois depoimentos prestados à Polícia Civil, nos quais afirmou que foi o “seu Jair” quem autorizou a entrada no condomínio de um dos envolvidos no crime, Élcio de Queiroz, horas antes do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ).
Para Camargo, não é possível fazer, “com rigor científico”, uma perícia técnica em poucas horas. “Um exame desses é bem mais prolongando, bem mais longo. Fazer um parecer, uma análise técnica superficial, preliminar, é possível fazer. Mas para um laudo pericial, com a profundidade científica que se exige para o processo penal, é um tempo rápido para se ter uma conclusão como essa”, disse.
Segundo ele, o tempo padrão de uma perícia é 30 dias. “O prazo padrão é, normalmente, 30 dias. Não quer dizer que vai levar 30 dias, pode ser um pouco antes, mas o padrão é 30 dias.”
Ele também defendeu que, de maneira geral, é possível recuperar dados apagados de uma gravação – algo que a análise técnica feita pelo MP-RJ não levou em consideração.