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Política Brasília

Governo ameaça tirar cargos de deputados federais infiéis

Ministro da Secretaria-Geral de Governo, Luiz Eduardo Ramos, diz a parlamentares que quer 'desmontar o centrão'
Plenário da Câmara dos Deputados na votação da MP da Liberdade Econômica. Foto: Jorge William / Agência O Globo
Plenário da Câmara dos Deputados na votação da MP da Liberdade Econômica. Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Secretaria-Geral de Governo, Luiz Eduardo Ramos , afirmou em reuniões com parlamentares nesta semana que quer "desmontar o centrão" da Câmara dos Deputados, revendo indicações de parlamentares para cargos.

Ele contou a interlocutores ouvidos pelo GLOBO que está analisando toda votação na Câmara para saber se os deputados que ganharam cargos votaram com o governo, e chegou a citar nominalmente os "infiéis" que estavam a ponto de perder postos nos estados.

Houve "infidelidade" em partidos que geralmente votam com o governo nas votações da reforma da Previdência, na proposta derrotada de manter o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no Ministério da Justiça, na derrubada pelo Congresso de vetos presidenciais, entre outros.

Apesar de o governo não ter destravado todas as indicações feitas por parlamentares neste ano, há deputados que mantiveram indicados que já estão posicionados desde o governo de Michel Temer. Há situações desse tipo no Ibama, Incra e Funasa, entre outros. Há, também, quem tenha aliados no governo e tenha conseguido novos nomes.

Em agosto, o DEM emplacou um nome no comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o PP indicou o novo presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), dois dos cargos mais cobiçados do governo.

Partidos como DEM, PP, PL, SD, PSD, PRB e os demais da centro-direita têm optado, neste governo, por não compôr uma base formal. Por isso, as orientações nas votações são decididas caso a caso. Líderes veem essa estratégia como uma decorrência natural da atitude do governo, que não cedeu cargos de primeiro escalão no início do mandato e tem dificuldade de dialogar com dirigentes partidários.

Procurado, Ramos disse que seu monitoramento dos votos não se trata de uma ameaça e sim uma política que se pauta pela "ética e pelo bem público". Afirmou também que é inaceitável que um deputado com "dois ou três cargos federais" faça discursos contra o governo na Câmara.

— Se o indicado não estiver alinhado com o governo Bolsonaro, se for atender aos interesses políticos dele próprio, não pode estar lá — afirmou.  — Se eu atendi (a indicação) do deputado, é porque a pessoa concorda com o governo e tem que votar com a pauta do governo. Se não vota, não é governo.

Ramos foi cobrado também pela execução das verbas para prefeituras prometidas a deputados que votaram a favor da reforma da Previdência. Deputados indicaram municípios que poderiam ser favorecidos com esse dinheiro mas, por enquanto, relatam que quase nada foi pago.

A promessa é de ao menos R$ 10 milhões por deputado, mas tudo indica que os R$ 40 milhões no ano, garantidos pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em uma primeira ocasião, não irão se concretizar.

Ramos se justifica a deputados alegando restrições de orçamento e reconhece que o governo prometeu mais aos grandes partidos do que aos nanicos. Nesta segunda-feira, o líder do Podemos, José Nelto (GO), disse ao GLOBO que só o centrão (DEM, PP, PL, SD) estava recebendo.