Por Vivian Reis, G1 SP


Operários trabalham nas obras da estação Chucri Zaidan da linha 17-ouro do monotrilho na Zona Sul de São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Na iminência da Copa na Rússia, o monotrilho da Linha 17-Ouro do Metrô de São Paulo não teve sequer uma estação entregue. A obra, cuja inauguração chegou a ser anunciada para antes do Mundial de 2014, sofreu uma série de problemas nos últimos anos – o que fez com que a previsão de seu funcionamento passasse de 2013 para julho de 2019.

A inclusão do monotrilho como promessa para a Copa 2014 ocorreu em 2010, quando o então ministro do esporte Orlando Silva assinou com o governo do estado e a Prefeitura da capital uma série de compromissos, a chamada Matriz de Responsabilidades.

O documento foi assinado por todas as cidades-sede e trazia uma série de medidas necessárias para que o município pudesse sediar o evento, entre elas obras de transporte, melhorias nas vias próximas ao estádio, entre outras.

Como na época o palco cotado para os jogos era o Morumbi, na Zona Sul, a Matriz, inicialmente, focou na região do estádio do São Paulo:

  • Mobilidade urbana, com a construção do monotrilho da Linha 17-Ouro até março de 2013;
  • Reforma do estádio do Morumbi;
  • Urbanização no entorno do estádio do Morumbi;
  • Investimento na infraestrutura do Aeroporto Internacional de Guarulhos;
  • Ações para o Turismo.

Inicialmente, os trens movidos a eletricidade e com pneus de borracha em via elevada da Linha 17 levariam os passageiros do Aeroporto de Congonhas ao estádio do Morumbi.

A linha teria 18 estações ao longo de 18 km de extensão com conexões para a Linha 1-Azul do Metrô no Jabaquara e 9-Esmeralda da CPTM no Morumbi.

Os planos para a Linha 17, porém, tiveram de ser alterados a partir de outubro de 2011, quando foi anunciado que o estádio que sediaria os jogos seria a futura Arena Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste.

Nova Matriz

No ano seguinte, o governo do estado solicitou ao Ministério dos Esportes a retirada do monotrilho e das obras no Morumbi da Matriz de Responsabilidades.

A versão final do documento, sem a Linha 17 nem as obras no bairro da Zona Sul, foi concluída em dezembro de 2012 e publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Operário caminha em frente às obras da futura estação Chucri Zaidan do Monotrilho Linha 17-Ouro na avenida Berrini, na zona sul de São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Investimentos

Com a mudança na Matriz de Responsabilidades, o governo afirma ter conseguido cumprir os compromissos acertados na última versão do documento, que foram:

Em nota ao G1, o governo do estado informou que investiu R$ 610,5 milhões em obras de mobilidade urbana para contribuir com logística dos espectadores do evento, sendo R$ 459,9 milhões do Tesouro do Estado e R$ 150,6 milhões da Prefeitura de São Paulo.

Esse investimento, segundo o governo, foi aplicado em seis obras viárias do Complexo Itaquera, na compra de nove trens para a frota do Expresso da Copa, e com a renovação das composições da Linha 3-Vermelha do Metrô.

A Linha 17-Ouro, contudo, continua em obras.

Mapa das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô de São Paulo — Foto: Karina Almeida/Editoria de Arte/G1

Linha 17-Ouro

Desde a mudança da arena da Copa, a construção da linha sofreu alterações, como a entrega das obras em três etapas. Os valores da obra, por outro lado, aumentaram e os prazos foram sucessivamente ampliados.

Nos últimos quatro anos, investigações foram abertas a pedido dos ministérios públicos federal (MPF) e estadual (MP) pela falta de um projeto básico.

O Metrô teve problemas com os consórcios contratados, paralisando as obras por seis meses. As obras sofreram vários questionamentos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), sendo que um deles está relacionado ao avanço do custo. Inicialmente, a obra foi orçada em R$ 1,39 bilhão. Agora, deve chegar a R$ 3,5 bilhões.

Até maio de 2018, nem uma estação foi concluída.

Obra na linha Ouro do monotrilho — Foto: TV Globo/Reprodução

Em nota, o Metrô afirma que “a linha 17-Ouro foi planejada e projetada para ser uma importante ligação do Aeroporto de Congonhas com a rede metro ferroviária de São Paulo, independentemente da realização da Copa do Mundo de Futebol 2014”.

O Metrô explica que a retirada da Matriz da Copa alterou o cronograma das obras e, além disso, em janeiro de 2016, “o contrato com as construtoras que abandonaram parte das obras foi reincidido”, atrasando ainda mais o andamento do serviço.

De acordo com o Metrô, a execução do trecho prioritário, entre Congonhas e a estação Morumbi da CPTM, está em andamento e deve ser entregue em 2019.

“Nos outros dois trechos –entre as estações Morumbi da CPTM e São Paulo-Morumbi, e entre as estações Jabaquara e aeroporto de Congonhas– o início da implantação está suspenso até que sejam equacionadas questões referentes às ampliações viárias com a Prefeitura de São Paulo, além das desapropriações necessárias para o prosseguimento dessas obras”, conclui a nota.

Governo busca empréstimos para concluir as obras do monotrilho na capital

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Outras promessas

Além das obras da Matriz de Responsabilidades e da Linha 17 do Metrô, outros projetos de mobilidade foram prometidos para a Copa. Veja abaixo.

Expresso Aeroporto


Embora não estivesse presente na Matriz de Responsabilidades, o então governador Geraldo Alckmin afirmou num discurso em maio de 2012 que Expresso Aeroporto, inicialmente previsto para o ano de 2005, estaria pronto em 2014 para a Copa. O trem ligaria Cumbica até a estação da Luz com passagem de R$ 30.

Em 2013, contudo, a CPTM cancelou o projeto, pois, segundo o governo, à época os investidores ficaram mais atraídos pela proposta do governo federal de implementar o Trem de Alta Velocidade (TAV), com conexões entre os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Campo de Marte.

Em contrapartida, o governo estadual prometeu aumentar o traçado da Linha 13-Jade da CPTM até o aeroporto. A linha de trem foi inaugurada somente em março de 2018. Nela, os passageiros podem embarcar em trens expressos.

Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) informa que a iniciativa do Expresso Aeroporto foi apresentada em 2002. “A ideia era que houvesse duas linhas – um Expresso Aeroporto e o Trem de Guarulhos da CPTM".

“Em 2011, com as indefinições sobre o TAV, a CPTM pediu para desvincular o Trem de Guarulhos do projeto Expresso Aeroporto. Em 2012, houve a desvinculação e a CPTM pôde mudar o projeto e contemplar o Aeroporto de Guarulhos, criando a linha 13-Jade. Posteriormente, o projeto Expresso Aeroporto foi descartado junto ao projeto Expresso ABC, que está contemplado no projeto dos trens intercidades”, completa a STM.

Estação Aeroporto-Guarulhos da CPTM — Foto: Kleber Tomaz/G1

Trem-bala entre Rio e São Paulo


Em 2007, a possibilidade de um trem-bala entre Rio e São Paulo era discutida a um custo estimado de pelo menos US$ 9 bilhões. A obra, de 500 km de extensão, demoraria oito anos. Seriam sete estações: centro do Rio de Janeiro, Aeroporto do Galeão, Aparecida do Norte, Guarulhos, Campo de Marte, Viracopos e no centro da cidade de Campinas.

Em 2009, a ex-presidente Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, disse que o trem-bala ficaria pronto para a Copa de 2014. Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava os termos do processo de concessão para sua construção, que já considerava um sucesso.

A previsão de que ele ficasse pronto, no entanto, passou a ser 2016. Em 2012, o governo federal adiou o prazo para 2020. Em 2013, apenas um consórcio se interessou pelo projeto e o leilão para concessão foi adiado pela terceira e última vez por tempo indeterminado.

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