Estratégias para compensar as lacunas na aprendizagem causadas pela pandemia da convid-19 partiram praticamente de iniciativas locais, sem correspondência até agora do governo federal, destacaram especialistas na Live do Valor desta quinta-feira. Mas para os convidados – Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, e Tatiana Filgueiras, vice-presidente de educação e inovação do Instituto Ayrton Senna –, apesar de esse esforço descentralizado ter papel fundamental para minimizar as perdas, o Ministério da Educação precisará assumir o papel de coordenação nacional diante dos impactos futuros que o distanciamento das aulas ocasionará a crianças e jovens.
“O que vemos em todo o mundo é que o papel de um órgão central para dar as diretrizes é muito importante. Quais são as diretrizes sanitárias? Como vai ficar o calendário? Vai compor este ano no seguinte, ou não?”, questionou Mizne. Segundo ele, no Brasil, a posição do Ministério da Educação foi de negacionismo da pandemia de covid-19. “Houve uma posição do MEC de não reconhecer a pandemia”, disse.
“É um fato, ele [o ministro Abraham Weintraub] não participou. Isso deixou Estados e municípios com a responsabilidade de fazer tudo sozinhos. Realmente as escolas estão nas cidades, são de controle de municípios e Estados. Então não é impossível fazer. Tanto que houve uma resposta muito boa, com apoio da sociedade civil. Mas faz muita falta essa coordenação”, observou o consultor.
Mizne ressaltou o papel do Conselho Nacional de Educação, como órgão que tomou a dianteira na formulação de ações de enfrentamento. “Quem acabou assumindo o papel normativo foi o Conselho Nacional de Educação, que tem emitido normativas e diretivas importantes. “Agora, a gente espera que, mesmo tardiamente, o MEC chegue a esse tema”.
Para Tatiana Filgueiras, vice-presidente de educação e inovação do Instituto Ayrton Senna, esse aspecto é o que fará diferença entre o Brasil e outros países que enfrentam a pandemia, como os da União Europeia. “Há um consenso entre esses países que é a presença forte dos governos federais na regulação das políticas macro”. Falhas nesse aspecto, ressaltou, podem aumentar drasticamente a desigualdade na educação.
Tatiana observou, contudo, que países como o Brasil também não podem apenas pensar em políticas educacionais de forma macro e centralizada, pois o tema requer debate e consenso no âmbito do pacto federativo. “Essa conversa precisa acontecer”, frisou.