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Sergio Abranches

Abranches e o farol do Fenemê

Sergio Abranches

Um dos caras que eu mais admiro na vida é o Sérgio Abranches. Por vários motivos: o parentesco com Guimarães Rosa não tem nada a a ver; o fato de ser de Curvelo, perto de Cordisburgo, também não; isso de ser considerado um intelectual completo, menos ainda; só porque ele é um escritor maravilhoso? Nem pensar, afinal, é só ler o romance “Que Mistério Tem Clarice”. Do livro “O Pelo Negro do Medo”, nem falo. Não falo por causa deste danado de parágrafo, que releio sempre, como uma espécie de exercício para aprender a escrever bem. Leiam. Pelo menos dez vezes, por favor: 

O Pelo Negro do Medo

Formado sociólogo e cientista político, por extrema gentileza, estendeu seu anzol ao meio ambiente e ali cultivou uma fazenda criativa, holística e destinada a clarear horizontes. O porto seguro da Rádio CBN foi o lugar escolhido. Deu frutos e distribuiu sementes, ao final. 

Mas a veia bailarina da origem o mandou de volta para a ciência política onde, lá no início do século passado, cunhou, pela primeira vez, em uma tese de mestrado, o termo “presidencialismo de coalização”. Mas naquela época não era isso que hoje se tornou no Brasil: uma mistura política de interesse próprio e corrupção, tendo como base os mandatos eletivos. Uma doença sem vacina que se espalhou pelo mundo e, claro, não por causa do bom Sérgio. Cuidadoso, ele tratou de inventar o troço e depois foi cuidar da sua roça - tarefa cumprida, lá pras bandas de Santos Dumont, Minas Gerais. 

No meio do caminho, a sorte. Há 27 anos, encontrou Miriam, outra mineira, de Caratinga, e decidi espalhar livros ao redor da cama baixa, rés do chão. Ao invés de santos, rituais e orações, livros. Um calhou de cultivar com letras mornas a vocação do outro e a literatura se impôs, serena e absoluta. A sorte no lugar da pedra. Mas se pedra fosse, haveriam de encontrar jeito de contorná-la e dar seguimento ao caminho. Ambos tem esta arte. E não teria sido ela a pedir este livro, no primeiro olhar? 

Bem atrasado mas obediente, o bom Sergio Abranches entrega finalmente o ouro, a ela e a nós. O sub-título dá o mote ao título: “Raízes e Evolução do Modelo Político Brasileiro”. E nos traz a compreensão da dificuldade da tarefa empreendida - cabe um caminhão de conceitos, histórias e previsões, em volumetria indefinida. Por isso, até hoje, ninguém se atreveu a pegar carona neste Fenemê. Agora é correr para a livraria e comprar o “Presidencialismo de Coalizão”, com a certeza que os faróis do citado acima estarão ligados, prontos para jogar luz neste endemoniado túnel que a política brasileira se meteu. 

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