Promotora que manifestou apoio a Bolsonaro na eleição de 2018 deixa o caso Marielle

Promotora que manifestou apoio a Bolsonaro na eleição de 2018 deixa o caso Marielle

Uma das promotoras do Rio encarregadas do caso Marielle Franco pediu afastamento nesta sexta (1º).

A decisão foi anunciada no fim da tarde depois de dois dias de reuniões. O Ministério Público informou que, em razão dos acontecimentos recentes, a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho optou voluntariamente por não atuar mais no caso.

Carmen Eliza foi uma das promotoras do Gaeco que pediram à Justiça a inclusão dos áudios do condomínio de Jair Bolsonaro e a perícia dos áudios no processo. Ela participou da entrevista coletiva do MP, na quarta-feira (30), para dizer que a voz que aparece na gravação é a de Ronnie Lessa, o acusado de matar Marielle e Anderson. E não a voz do presidente Jair Bolsonaro.

As promotoras informaram que a prova técnica desmentiu o depoimento que o porteiro deu à polícia dizendo ter ligado para casa 58, a do presidente.

O Jornal Nacional mostrou na terça-feira que o depoimento do porteiro não condizia com a realidade, porque Jair Bolsonaro, então deputado, estava em Brasília naquele dia. E registrou presença em duas votações.

“Toda a cadeia foi exaurida de diligência pelo Ministério Público e pela polícia. Nada ficou sem se fazer diligências. Tudo foi esclarecido. E graças a todas as diligências possíveis que foram realizadas, nós chegamos à conclusão técnica de que aquela voz que autorizou a entrada de um dos co-réus na ação penal é a voz do outro réu na ação penal”, disse Carmen Eliza Bastos de Carvalho (30/10), promotora de Justiça.

Os questionamentos sobre a imparcialidade da promotora no caso surgiram depois que apareceram fotos em que Carmen Eliza apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência.

A Folha de S. Paulo e o site The Intercept publicaram as fotos de uma rede social da promotora em que ela usa uma camiseta com o rosto de Jair Bolsonaro e a frase: “Bolsonaro presidente”.

Em outra postagem, de 1º de janeiro, Carmen Eliza fotografou a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro e escreveu na legenda: "há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas, como se fosse uma vitória."

Em outra foto, Carmen Eliza aparece abraçada com o deputado Rodrigo Amorim, do PSL do Rio, que quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, no ano passado.

Em nota, a promotora diz que a Constituição garante a livre manifestação de opção política e ideológica. E que jamais atuou sob qualquer influência política ou ideológica.

A TV Globo apurou que no primeiro encontro para tratar da saída da promotora quinta (31) à noite, houve momentos tensos, com gritos e discussões. O afastamento de Carmen Eliza já era dado como certo, ontem, mas a promotora ainda se recusava a sair do caso.

A Corregedoria-Geral do Ministério Público informou que, diante da repercussão relativa às postagens da promotora, foi instaurado procedimento para análise.

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais deu uma entrevista coletiva, nesta sexta, em Brasília, e criticou pontos da perícia feita pelo Ministério Público do Rio. A Associação questionou a forma e a rapidez com que o trabalho foi concluído.

Na quinta (31), o Jornal Nacional mostrou que os peritos responderam às perguntas das promotoras em apenas 2h25min. Perguntas que só foram feitas um dia depois de o Jornal Nacional revelar o depoimento do porteiro.

“Foi uma análise muito superficial, não contemplou todos os vestígios disponíveis e foi feita de uma forma muito célere. Então, talvez, fosse necessário um aprofundamento maior, colher outros tipos de vestígios, sejam eles os vestígios físicos que estavam na guarita, computador, circuito interno de TV, uma identificação de locutor talvez mais robusta. O Ministério Público, nesse caso específico, flexibilizou o conteúdo probatório, poderia ter feito um pedido de perícia oficial para os órgãos competentes, Polícia Civil ou Polícia Federal, a depender da abrangência do caso”, destacou Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais.

A Associação Nacional dos Peritos Criminais criticou ainda a forma como o arquivo foi manuseado desde o dia do crime. “É preocupante do ponto de vista na análise da perícia. A gente entende aquilo como uma evidência que precisa ser apurada dentro do bojo de uma investigação, e qualquer contato com essa evidência antes do exame pericial é sempre temerário. É como um local de crime que você tem um corpo e você movimenta o corpo, muda ele de lugar”, disse.

O Ministério Público do Rio informou que a voz do porteiro não foi objeto de perícia na ação penal - e que isso ainda será tratado em outras diligências. O MP disse também que só vai tomar outras medidas depois que a Procuradoria-Geral da República notificar oficialmente o arquivamento da consulta sobre a menção ao nome do presidente Bolsonaro por falta de elementos de comprovação.

O Ministério Público reafirmou ainda que o pedido de perícia foi enviado no dia 15. Que não há impedimento legal em apresentar as perguntas aos peritos só após o envio do material, o que foi feito na última quarta-feira.

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