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Fase 'Piloto' da Lava-Jato apura propina da Odebrecht no governo de Beto Richa no Paraná

Grupo político teria percentual de faturamento por 30 anos, aponta investigação
Beto Richa foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná Foto: Reprodução/Twitter
Beto Richa foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná Foto: Reprodução/Twitter

RIO — A 53ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta terça-feira, foi batizada de "Piloto" em referência a um esquema de propina na gestão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), que comandou o estado de 2011 a março deste ano. "Piloto" era o codinome do atual candidato ao Senado na planilha de pagamentos do Grupo Odebrecht. O tucano, a mulher, Fernanda Richa, e o ex-chefe de gabinete Deonlison Roldo foram presos em Curitiba no âmbito das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público do Paraná (MP-PR).

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Há cinco dias, o juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato em primeira instância, autorizou o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal a prosseguirem as investigações para identificar possíveis envolvidos em esquema de corrupção no governo do Paraná. A decisão foi tomada após o recebimento da denúncia contra o ex-chefe de gabinete de Richa.

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Na denúncia, os procuradores acusam Deonilson Roldo e o empresário Jorge Theodocio Atherino de terem recebido R$ 3,5 milhões em propina na licitação para concessão e obras da rodovia PR-323, vencida pelo consórcio Consórico Rota das Fronteiras, liderado pela Odebrecht. O ex-diretor do Departamento de Estradas e Rodagens do Estado do Paraná Nelson Leal Júnior, em delação premiada, descreveu em depoimentos o esquema de corrupção no Paraná e revelou uma "briga da propina" entre integrantes do governo, divididos quanto à obra de duplicação da rodovia.

"De um lado José Richa Filho (irmão de Beto Richa) queria favorecer o Grupo Bertin, enquanto Deonilson Roldo queria favorecer o Grupo Odebercht", afirmou Moro no despacho em que determinou a continuidade das investigações em novo inquérito, separado da denúncia já apresentada contra Roldo e Atherino.

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O contrato da obra foi fechado em 2014 por R$ 7,2 bilhões. Segundo transcrição no despacho do juiz, Leal Júnior afirmou que a Odebrecht teria se comprometido a pagar R$ 15 milhões em vantagens indevidas e que a briga entre Roldo e José Richa Filho teria ocorrido porque a Contern tinha prometido pagar R$ 34 milhões, valor superior ao prometido pela concorrente. Apesar do valor menor da Odebrecht, o negócio teria sido fechado em função do compromisso com as demais empresas do consórcio, que gerava ganhos futuros.

A defesa do ex-governador Beto Richa informou em nota que as as alegações do Ministério Público Federal não apresentam qualquer sustentação e que não houve recursos públicos, federais ou estaduais, aportados na licitação. Disse ainda que Beto Richa " sempre pautou suas ações baseado nos princípios legais".

GRUPO POLÍTICO TERIA PERCENTUAL DE LUCROS POR 30 ANOS

Leal Júnior disse ainda que Beto Richa e o empresário Jorge Theodocio Atherino têm relação próxima e que teriam investimentos imobiliários em conjunto, especificamente em loteamentos. No despacho, Moro afirma que o delator aponta Beto Richa como sócio oculto de Atherino e sugere que arrecações ilícitas feitas durante a gestão de Richa teriam servido para investimentos em empreendimentos imobiliários.

O colaborador afirmou que, a pedido de Beto Richa, Deonilson Roldo teria inclusive conseguido a entrada no consórcio liderado pela Odebrecht das empresas Tucmann, Gel Engenharia e America. O filho do dono da America, segundo ele, era assessor de Richa. Em troca do favorecimento, essas empresas teriam se comprometido a destinar um percentual do faturamento ao longo de 30 anos para o grupo político.

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A ação contra Deonilson Roldo envolve Atherino e mais 10 pessoas, a maioria delatores. Foram descritos pelo Ministério Público Fedral pagamentos de R$ 3,5 milhões, saídos do departamento de propina da Odebrecht. Deste total, pedido a título de contribuição para campanha eleitoral de 2014, R$ 2,5 milhões teriam sido sido identificados como "Piloto", codinome atribuído às doações em caixa 2 para Beto Richa. Parte dos valores foi depositada em dinheiro em contas de Roldo e da empresa dele, a Start Agência de Notícias.

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O caso havia sido enviado para a Justiça Eleitoral, que arquivou o inquérito relacionado a suposto crime eleitoral, uma vez que os recursos não teriam sido direcionados para a campanha, mas sim, em benefício pessoal dos envolvidos. Moro afirmou que os crimes envolvem lavagem de dinheiro e que as provas foram colhidas no âmbito da operação Lava-Jato, nos arquivos do departamento de propina da Odebrecht.

A defesa do ex-governador, em nota após a denúncia contra Roldo, informou entender que as alegações do Ministério Público Federal "não apresentam qualquer sustentação". "A obra de duplicação da rodovia PR-323 nunca aconteceu. Também nenhum recurso público, de origem federal ou estadual, foi aportado na licitação. Não houve também qualquer direcionamento em licitação".