Esportes

Floresta dos Atletas da Rio-2016 ainda está em forma de mudas, guardadas em viveiro

Plantio deveria ocorrer em agosto de 2017, após compromisso na Abertura
Em vasos. Cerca de 13.500 mudas, de 207 espécies da Mata Atlântica, foram plantadas pelos atletas em tubos e transferidas para viveiro; a ideia era mostrar uma floresta desenvolvida, com flores e frutos na abertura de Tóquio-2020 Foto: Agência O Globo
Em vasos. Cerca de 13.500 mudas, de 207 espécies da Mata Atlântica, foram plantadas pelos atletas em tubos e transferidas para viveiro; a ideia era mostrar uma floresta desenvolvida, com flores e frutos na abertura de Tóquio-2020 Foto: Agência O Globo

Já não dá mais para ser floresta. Ainda assim, Marcelo Carvalho, diretor da Biovert Engenharia Ambiental e Florestal, responsável por cuidar das mudas plantadas pelos atletas do mundo inteiro na Cerimônia de Abertura dos Jogos do Rio, em 2016, quer evitar vexame internacional. Isso porque a promessa do Comitê Rio-2016 de plantar a Floresta Bosque dos Atletas, no Parque Radical, dentro do Completo Esportivo de Deodoro, não avançou mesmo com o compromisso assumido para 2,5 bilhões de pessoas, ao vivo, durante a transmissão da festa.

LEIA TAMBÉM: Medalhistas no Rio enfrentam oscilação rumo a Tóquio-2020

Dois anos após Rio-2016, gastos com manutenção chegam a R$ 44 milhões

A ideia era plantá-la há um ano, em agosto de 2017, e mostrá-la desenvolvida, com flores e frutos na Cerimônia de Abertura dos Jogos de Tóquio, em julho de 2020, ao custo de R$ 3,1 milhões. São cerca de 13.500 mudas, de 207 espécies da Mata Atlântica, algumas ameaçadas de extinção, como pau-brasil, cedro e palmito-jussara.

LEIA MAIS: A dois anos dos Jogos de Tóquio, COB não faz projeção de medalha

Raia brasileira tem novas atrações no Pan-Pacífico de Tóquio

— Nem calculo mais o prejuízo ou o gasto para mantê-la. Já saí desta seara. Quero apenas plantá-la — lamenta Carvalho, que não recebeu nenhum tostão pelo trabalho iniciado antes mesmo dos Jogos, quando elaborou a pesquisa das sementes, colheita dos frutos e retirada das mesmas. — Não posso largar as mudas. Lá na frente vão dizer que a culpa é minha. Tenho de ir até o fim.

Por isso e mesmo sem perspectiva de plantio, Carvalho vai trocando as mudas de vasos para acompanhar o crescimento lento, em viveiro em Silva Jardim, no Estado do Rio de Janeiro. Ele diz que tem mudas com 1,80 metro.

— Daqui a pouco vou levar uma árvore para replantar.

Jogo de empurra

O Tribunal de Contas da União chegou a abrir processo há um ano e determinou que o Comitê Rio-2016 apresentasse um plano de ação, com a ciência da Prefeitura. O acórdão, porém, foi objeto de recurso, e está suspenso. Na última quarta-feira, em reunião na sede do TCU no Rio, o secretário Márcio Pacheco, da Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro, sugeriu que a floresta fosse incluída no plano de legado de Deodoro que até hoje não está concluído (assim como o da Barra da Tijuca). Esta proposta será analisada pelo Ministério do Esporte, que esteve neste encontro e tratou, com outros agentes, sobre legado a longo prazo. O custo, neste caso seria da pasta.

Mudas estão em vasos e são trocadas quando necessário. Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Mudas estão em vasos e são trocadas quando necessário. Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

O problema é que a Biovert não tem contrato assinado com o Rio-2016. E por isso Ricardo Trade, diretor executivo do órgão desde junho de 2018, alega que este projeto não foi um compromisso assumido pelo comitê e não irá realizá-lo.

Como o “início” da floresta fez parte da Abertura do Jogos, festa do Rio-2016, mas trata-se de um legado para a cidade, o TCU entende que também é de responsabilidade da Prefeitura e da União. Foi iniciativa do TCU discutir este tema que estava numa espécie de limbo, sem que nenhum agente tivesse o assumido.

— Não temos nada assinado e, mais do isso, não tenho recurso para implementar legado. Legados são compromissos de governo e do COI (Comitê Olímpico Internacional) — afirma Trade, que conta que o órgão tem dinheiro para sobreviver até outubro mas que os compromissos assumidos em contratos serão levantados e honrados. — Tem coisa líquida e certa, como limpar o Parque Olímpico e entregar o terreno, ajustes em arenas, mas plantar árvore, não! Se tivesse contrato seria obrigado a incluir no cálculo da dívida. Tenho de ser frio e escolher minhas batalhas.

Marcelo Carvalho: "Não posso largar as mudas. Lá na frente vão dizer que a culpa é minha" Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Marcelo Carvalho: "Não posso largar as mudas. Lá na frente vão dizer que a culpa é minha" Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

O órgão, que hoje se resume a 12 pessoas, ainda contrata empresa de auditoria externa para levantar o valor da dívida (deve chegar a R$ 200 milhões). Trade afirma que não sabe qual o valor mas que “tem ideia de orelhada”.

—  Este foi meu erro, não ter contrato. Mas este é um compromisso moral.  A ideia da floresta fez parte do show, estava no material de divulgação do comitê — diz Carvalho.

Já a Prefeitura esclareceu que não poderia arcar com este custo e que seus técnicos não encontraram solução para executar a obra (precisaria de licitação). A opção, segundo a Subsecretaria de Meio Ambiente, é via Medida Compensatória. Explica que esta possibilidade “está sendo analisada”.

Neste caso, o custo seria das empresas que tivessem de seguir a medida obrigatória de compensação ambiental. Quando não são passíveis de serem cumpridas no próprio local de determinados empreendimentos, normalmente envolvem intervenção em áreas públicas. As empresas teriam de contratar a Biovert:

— Esta é uma questão em que alguém tem de abraçar a causa, assim como eu abracei — encerra Carvalho.