Candidatos à Presidência querem menos IR para empresas

Entre cinco presidenciáveis, também é consenso a taxação sobre lucros e dividendos

por Fernanda Krakovics / Sérgio Roxo / Daniel Gullino / Cleide Carvalho / Adriana Mendes

Montagem dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) - Agência O Globo

RIO e SÃO PAULO - Diante de um quadro de estagnação econômica , os cinco candidatos mais bem colocados na disputa à Presidência pretendem reduzir o Imposto de Renda para as empresas com o objetivo de reativar os investimentos no país. Para compensar a queda de arrecadação projetada com a medida, os presidenciáveis prometem taxar lucros e dividendos corporativos, embora não apresentem números que comprovem a sustentabilidade desta proposta.

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As divergências surgem no caso das mudanças pretendidas no IR da pessoas física. Enquanto Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) propõem nova faixa de isenção até cinco salários mínimos, Ciro Gomes (PDT) defende a correção da tabela pela inflação. Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) não acenam com mudanças no IRPF.

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A necessidade de fazer um ajuste fiscal em 2019 também é entendimento comum, da mesma forma que a possibilidade de unificar tributos, com um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que incidiria sobre o consumo. O presidente eleito começará o ano com déficit projetado de R$ 139 bilhões.

Na última semana, pela primeira vez, a economia dominou fortemente as discussões na corrida eleitoral. O ponto de partida foi a confusão em torno da proposta do economista Paulo Guedes, guru econômico de Bolsonaro, para substituir uma série de impostos por um tributo sobre transações financeiras, nos moldes da CPMF. Guedes foi desautorizado pelo candidato do PSL, após a repercussão negativa.

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A oficialização de Haddad também levantou questionamentos sobre as convicções do petista. Os analistas passaram a buscar respostas sobre o caminho que pretende trilhar: ou seguirá a política fiscal dos primeiros anos do governo Lula, com controle de gastos; ou ampliará ainda mais as despesas, como fez a gestão Dilma.

O GLOBO consultou as campanhas sobre questões ligadas à economia e checou os programas de governo. Alckmin e Ciro se comprometem a zerar o déficit público em dois anos. Como Alckmin, Marina fala em rígido controle de gastos, que só poderiam subir até um limite de 50% do crescimento do PIB. O programa de Bolsonaro fala em fechar ministérios e privatizar como fonte de renda para reduzir o déficit. Haddad afirma que quer “seguir o exemplo do presidente Lula e seu histórico como gestor público”

Alckmin: Contas no verde e teto de gastos

Geraldo Alckmin faz campanha em Salvador. 21/09/2018 - Ciete Silvério / Divulgação

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, promete eliminar o déficit público em dois anos. A campanha do tucano diz que é possível cumprir essa meta sem aumentar a carga tributária, pela via do corte de despesas. Alckmin propõe a manutenção do teto de gastos, a racionalização de custos, a aceleração da eliminação de subsídios e a extinção de políticas públicas ineficientes.

Ele é a favor da taxação dos dividendos, mas, para manter a carga tributária inalterada, propõe a “redução do imposto corporativo para incentivar o reinvestimento”.

Alckmin diz ser contra a recriação de um imposto sobre movimentação financeira. O tucano quer o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), de incidência nacional, em substituição a cinco impostos: IPI, ISS, ICMS, PIS e Cofins.

Bolsonaro: Privatização e imposto único

A proposta tributária da equipe de Jair Bolsonaro prevê alterações na tabela de Imposto de Renda para empresas e pessoas físicas. Hoje, a combinação de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) geram uma tributação de 34% sobre lucros de empresas. A ideia é reduzir para 15%. O IRPF teria alíquota única de 15% e faixa de isenção de cinco salários mínimos. Em contrapartida, dividendos passariam a ser tributados em 15%. A ideia é incentivar o investimento. A base do ajuste fiscal defendido é a privatização de estatais e a redução de ministérios. Sobre reforma tributária, o guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu um imposto único federal.

Ciro: Déficit zero em dois anos e lucro taxado

Ciro Gomes faz campanha em Brasília 21/09/2018 - EVARISTO SA / AFP

O candidato do PDT, Ciro Gomes, promete zerar o déficit fiscal em dois anos com medidas como a redução de 15% das desonerações tributárias e um pente-fino nas despesas. No pacote, entra também a aprovação de uma reforma da Previdência. Ciro defende a criação de um Imposto Sobre Valor Agregado (IVA), que substituiria ICMS, PIS, Cofins, ISS e IPI. E o candidato do PDT estuda a volta da CPMF. A ideia seria cobrar 0,38% sobre transações acima de R$ 5 mil por mês. Ele quer taxar lucros e dividendos em torno de 20% ou adotar uma alíquota progressiva. Em contrapartida, propõe a redução do Imposto de Renda das pessoas jurídicas. Para IR de pessoas físicas, quer corrigir a tabela de acordo com a inflação. Heranças acima de R$ 2 milhões seriam taxadas em cerca de 20%.

Haddad: Mais arrecadação com crescimento

O candidato Fernando Haddad - Rodolfo Buhrer / Reuters

O candidato do PT, Fernando Haddad, diz que vai enfrentar a crise fiscal com a retomada do crescimento e o aumento da arrecadação. Os cortes de despesas, promete o PT, terão como alvo “gastos que concentram renda e isenções tributárias que não contribuem para o desenvolvimento”.

Sem citar um percentual, o plano prevê a “redução das alíquotas de IR das empresas” para ajudar o investimento.

Haddad propõe a implementação gradual de Imposto sobre Valor Agregado (IVA), em substituição aos impostos indiretos. Seu plano não fala em imposto sobre movimentações financeiras. Haddad defende tributação sobre lucros e dividendos e isenção do IR de pessoa física para quem ganha até R$ 4.770.

Marina: Tributação sobre dividendos e queda de IR

Marina Silva participa de encontro com ambientalistas, em São Paulo - Marcelo Chello / Agência O Globo

Para lidar com o déficit fiscal, a candidata da Rede, Marina Silva, promete rígido controle do gasto público, com crescimento limitado a 50% do aumento do PIB. Seu programa de governo fala também em revisão das renúncias fiscais e suspensão da criação de Refis para aumentar a arrecadação. Ela propõe a “tributação sobre dividendos, com redução simultânea do IR de empresas e elevação da alíquota sobre herança”.

Como reforma tributária, Marina propõe a implantação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), reunindo PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. No seu programa, não há menção a imposto sobre movimentação financeira. Marina também quer aumentar a base de tributação sobre a propriedade.

Análise: As contas não fecham com facilidade

Unanimidade entre candidatos, a necessidade de reforma tributária tem como obstáculo a garantia de que não haverá perda de arrecadação. Na avaliação de analistas, os cálculos apresentados até agora pelos candidatos são vagos. A ideia de reduzir a carga tributária sobre empresas e compensar com impostos sobre dividendos, por exemplo, não fecha a conta, dependendo da simulação.

Na estimativa do professor de contabilidade tributária do Ibmec-RJ Paulo Henrique Pêgas, a redução da carga de IRPJ e CSLL sobre empresas, de 34% para 15%, não é necessariamente compensada por uma alíquota igual sobre dividendos. Ele calcula que a perda com a redução seja da ordem de R$ 88 bilhões. No entanto, considerando a tributação sobre dividendos na mesma proporção, o ganho é de apenas R$ 48 bilhões.

— Simplesmente baixar para 15% sobre empresas e cobrar 15% sobre dividendos parece muito básico — afirma o especialista, que considera necessário, neste caso, aumentar a alíquota do IR sobre pessoas físicas.

Além das mudanças nas regras do IR, a adoção de alguma forma de imposto único também gera incertezas. A maioria prevê a implantação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), em diferentes variações. Bolsonaro considera outro tipo de imposto único, que, em vez de incidir sobre consumo, tributaria movimentações financeiras. Ciro também fala em CPMF.

Para o advogado Luiz Gustavo Bichara, especialista em Direito Tributário, taxar transações financeiras pode aumentar a carga tributária.

— É factível ter uma alíquota baixa, alcançando uma base muito maior. Desonera produção, desonera folha. Mas tem que ter um teste. Na História brasileira, a gente tem lembrança de novos tributos não substituírem antigos — observa.