Mundo

Biden anuncia plano para o clima de US$ 2 trilhões

Pacote propõe aumentar significativamente o uso de energia limpa nos setores de transporte, eletricidade e construção civil
O candidato democrata à Casa Branca e vice-presidente Joe Biden no evento de lançamento do seu programa climático em Wilmington, Delaware Foto: OLIVIER DOULIERY / AFP
O candidato democrata à Casa Branca e vice-presidente Joe Biden no evento de lançamento do seu programa climático em Wilmington, Delaware Foto: OLIVIER DOULIERY / AFP

WILMINGTON, EUA — Joe Biden, candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA, anunciou nesta terça-feira um novo plano de investimentos de US$ 2 trilhões (R$ 10,677 trilhões) em quatro anos para aumentar significativamente o uso de energia limpa nos setores de transporte, eletricidade e construção civil, parte de um conjunto de propostas destinadas a combater as mudanças climáticas e, simultaneamente, criar oportunidades econômicas e construir infraestrutura.

O plano promete zerar as emissões de carbono decorrentes da produção de energia elétrica em 15 anos, e foi apresentado em um evento de campanha na cidade natal de Biden, Wilmington, em Delaware. A proposta para o clima apresentada é mais agressiva do que aquela que o candidato adotou durante as primárias presidenciais democratas, em um aceno aos progressistas dentro do partido que clamam por ações rápidas ante a emergência climática.

Analítico: Um debate na campanha de Biden contra Trump que teria reflexos dora dos EUA

O vice-presidente freqüentemente se refere às mudanças climáticas como "uma ameaça existencial", e enfrentou pressão da esquerda para adotar políticas mais ambiciosas.

— Esses são os investimentos mais fundamentais que podemos fazer para a saúde e a vitalidade em longo prazo da economia, da saúde e da segurança física do povo americano — disse ele, criticando repetidamente o presidente Donald Trump em questões como o clima e pandemia. — Quando Donald Trump pensa em mudança climática, a única palavra que ele consegue dizer é "fraude". Quando penso em mudanças climáticas, a palavra em que penso é "emprego".

Seu plano climático prevê que o país produza 100% de eletricidade limpa até 2035, adiantando a meta original em 15 anos — um marco que ele adotou dos ex-rivais à indicação democrata à disputa pela Presidência Jay Inslee e Elizabeth Warren, esta uma das expoentes da ala mais à esquerda no partido.

Leia mais : Após Inpe alertar sobre desmatamento na Amazônia, governo exonera coordenadora de monitoramento

Biden também gastaria mais dinheiro em um prazo menor, com seus US$ 2 trilhões sendo empregados ao longo de quatro anos, de acordo com uma cópia do plano divulgado por sua campanha. Ele propunha anteriormente gastar US$ 1,7 trilhão em uma década.

A proposta é a segunda grande iniciativa no plano de recuperação econômica de Biden. Na semana passada, ele anunciou uma política industrial nacionalista, com o objetivo de fortalecer a manufatura americana e atrair eleitores da classe trabalhadora que abraçaram Trump. O plano prevê um aumento significativo dos gastos do governo federal, com investimentos de US$ 700 bilhões (R$ 3,7 trilhões)  no desenvolvimento e na pesquisa de produtos fabricados no país, e busca competir com a agenda “Os Estados Unidos primeiro” de Trump, oferecendo a sua própria versão de nacionalismo econômico.

Até a pandemia de coronavírus, a economia era o principal trunfo de Trump na campanha à reeleição. O presidente frequentemente defende investimentos maciços em infraestrutura, mas ainda não enviou qualquer tipo de projeto ao Congresso dos EUA.

Aliados do presidente denunciaram o plano de Biden como uma ameaça para empregos no setor de energia, e a campanha do republicano procurou vincular a proposta ao Green New Deal, o plano climático da ala progressista do Partido Democrata que Biden não endossou completamente. O novo plano acena a esses eleitores.

— Este não é um plano do status quo — disse o governador Jay Inslee, de Washington, um importante ambientalista que concorreu à indicação presidencial democrata com uma plataforma de combate às mudanças climáticas e depois endossou Biden.

Dois congressistas republicanos de estados produtores de energia, Steve Scalise, da Louisiana, e Mike Kelly, da Pensilvânia, criticaram a proposta de Biden em uma teleconferência realizada pela campanha de Trump.

Eles acusaram Biden de ceder à ala progressista do partido e afirmaram que, em vez de impulsionar a economia, o plano acabaria com milhares de empregos bem remunerados e aumentaria os custos de eletricidade, com famílias de média e baixa renda sendo as principais afetadas.

O plano promete impulsionar a indústria automobilística dos EUA por meio de incentivos para os fabricantes automotivos produzirem veículos elétricos de emissão zero, e procuraria construir 1,5 milhão de novas casas e unidades de habitação pública com uso eficiente de energia.

Biden argumentou que seu plano climático ajudará a revitalizar a economia do país e criará milhões de novos empregos, um esforço em parte para conquistar trabalhadores sindicais céticos nas indústrias de petróleo e gás.

— É uma escolha falsa sugerir que devemos escolher entre nossa economia e o planeta — disse Biden em um evento de arrecadação de fundos on-line na segunda-feira.

A equipe de Biden descreve o pacote de recuperação econômica como a maior mobilização de investimentos públicos desde a Segunda Guerra Mundial.

A mudança climática é menos preocupante para muitos americanos neste verão no Hemisfério Norte, com o país em grande parte focado na pandemia de coronavírus e na recessão. Menos de 5% dos adultos norte-americanos disseram em uma pesquisa da Reuters/Ipsos de 6 e 7 de julho que o meio ambiente é uma das principais prioridades do país.

Em comparação, 28% listaram a economia ou o crescente desemprego como sua principal preocupação. Outros 16% disseram que era assistência médica.

Segundo uma pesquisa divulgada pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica no ano passado, se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas de acordo com as metas do Acordo de Paris, os Estados Unidos poderão ver um corte de 10,5% em sua renda real até 2100.