Por Abrahão de Oliveira, Ana Carolina Moreno, Luciana Cantão, Mariana Aldano, Gabriel Larangeira, Pedro Favali, Roberson Kimura, SP1


Entenda como uma epidemia se propaga e por que o distanciamento é fundamental

Entenda como uma epidemia se propaga e por que o distanciamento é fundamental

Desde 17 de março, a Covid-19 já matou pelo menos mil pessoas só no estado de São Paulo por causa da doença. Até o último domingo (19), as estatísticas oficiais somavam 1.015 vítimas fatais, sem contar as mortes ainda suspeitas, um número não divulgado pelo governo.

Apesar da média de 30 mortes por dia, as autoridades dizem que o "pico" da epidemia, ou seja, o pior momento dela, ainda está por vir.

Mas quando ele vem, e qual será a quantidade de mortos que ele vai provocar, é uma questão incerta, segundo o médico infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

"Vocês não conseguem prever com exatidão o pico", afirmou Uip a jornalistas na semana passada.

O coordenador disse, porém, que isso é uma notícia boa. "Isso significa que nós estamos conseguindo alargar e achatar a curva. Quanto mais diluída essa curva for, melhor para o sistema de saúde."

"Agora, nós vamos ter o pico. Nós vamos estar diante ou de uma montanha ou de um pico do Everest. Isso é algo que obviamente nós estamos vendo no decorrer do dia a dia", afirmou.

Especialistas ouvidos pela TV Globo explicam que, numa epidemia, os cálculos que podem ajudar a acompanhar o comportamento da doença são mais complexos do que uma simples soma diária (entenda na reportagem no vídeo acima).

Veja abaixo as perguntas e respostas sobre o comportamento do coronavírus:

Por que a simples soma de casos não explica a evolução da doença?

Segundo Vítor Sudbrack, mestrando do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR, o motivo é que, em uma epidemia, a doença se espalha pelo contágio, por isso, o número de novos casos depende do número de casos já existentes.

“Epidemias são exemplos de reação em cadeia: quanto mais pessoas estão infectadas, mais pessoas se infectam. Então de cada pessoa infecta outras 3, iríamos de 1 para 3, para 9, para 27... assim por diante”, explicou Sudbrack.

"E esse tipo de comportamento é o característico de um crescimento exponencial."

Qual é a diferença entre crescimento linear e crescimento exponencial?

A diferença, segundo Sudbrack, é que o número de novos casos num crescimento linear é constante. “Então a gente esperaria mais 100 casos todos os dias, por exemplo, o que faria 100, 200, 300...”, afirmou.

“Já no crescimento exponencial o que é constante é a porcentagem de aumento (que se chama taxa de variação), por exemplo, uma taxa de +100% daria 100, 200, 400, 800...”

Como está o crescimento exponencial do coronavírus em São Paulo?

Segundo análises divulgadas pelo governo paulista, o comportamento da epidemia no estado mostra um crescimento mais lento do que em países como a Itália e os Estados Unidos, onde o sistema de saúde entrou em colapso poucas semanas após o início da transmissão comunitária.

Para David Uip, isso é um sinal de que a quarentena imposta pelo governo desde 24 de março tem surtido efeito para retardar o contágio das pessoas.

Segundo ele, no início da transmissão comunitária, por volta de 12 de março, uma pessoa infectada chegava a passar a doença para até seis outras pessoas.

Atualmente, diz ele, as estimativas mostram que esse número caiu para cerca de metade.

Por outro lado, pesquisadores alertam há semanas que o estado ainda não consegue rastrear adequadamente o crescimento da doença por causa da fila de testes da Covid-19.

O governo estima que até o fim do mês a fila seja zerada e o resultado dos exames seja divulgado com mais rapidez.

O que isso tem a ver com o número de mortes pela doença?

Segundo os especialistas, o número de mortos no estado está diretamente vinculado à velocidade da transmissão da doença, mesmo que a maior parte dos doentes só tenha sintomas leves ou moderados.

O motivo é o momento em que todas essas pessoas ficarão doentes. Quanto menos novos casos uma comunidade tem ao longo dos dias, menos casos graves ela vai acumular.

Assim, menos pessoas terão necessidade de atendimento em um leito de UTI, e a estrutura hospitalar vai poder atender à demanda.

Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital Bela Vista, em SP, para tratamento de vítimas da Covid-19. — Foto: Divulgação/PMSP

se muitas pessoas buscarem atendimento médico com falta de ar ao mesmo tempo, não haverá equipamentos como ventiladores mecânicos suficientes para ajudar todas elas.

Roberto Kraenkel, professor de física teórica da Unesp, ressalta que, segundo as projeções, sem as medidas de isolamento social praticadas em São Paulo "o número de leitos teria acabado no dia 6 de abril".

O que é o 'pico' da epidemia e como saberemos se chegamos lá?

Segundo Sudbrack, da Unesp, o pico acontece quando o número de novas pessoas infectadas por dia é igual ao número de pessoas recuperadas por dia. "Assim, a quantidade líquida de novos casos é nula."

O pesquisador explica que, teoricamente, o pico é um único dia, pois logo depois o número de novos infectados passa a ser menor que o número de recuperados. "Então o número de casos correntes começa a diminuir".

No entanto, ele ressalta que, na prática, o pico é na verdade um "platô" com duração de alguns dias.

Isso ocorre por causa de "variações naturais nos números observados", já que nem todos os infectados desenvolvem sintomas, e nenhum país tem capacidade de testar 100% de sua população.

David Uip diz que a mudança nas previsões da chegada do pico acontece entre as autoridades paulista por causa dos exemplos observados da nova doença em países onde a epidemia começou antes.

"Nós sabemos porque nós aprendemos. Nós vimos o que aconteceu na China, na Coreia, no Irã, na Itália, na França, na Inglaterra e agora nos EUA", afirmou Uip à TV Globo.

"É um momento ímpar na história da humanidade. Então eu entendo que é muito difícil, e agradeço a colaboração de todos."

Dicas de prevenção contra o coronavírus — Foto: Arte/G1

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