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Economia

MP do Emprego: relator quer retirar taxação do desempregado e incluir quem tem mais de 55 anos

Deputado Christino Áureo afirmou que vai buscar recursos na proposta orçamentária de 2020 para financiar programa
Deputado Christino Áureo, relator da MP do emprego Foto: Douglas Gomes / Divulgação
Deputado Christino Áureo, relator da MP do emprego Foto: Douglas Gomes / Divulgação

BRASÍLIA - O relator da medida provisória (MP) que cria o Emprego Verde-Amarelo na comissão mista instalada esta semana,  deputado Christino Áureo (PP-RJ), afirmou nesta quinta-feira que vai buscar na proposta orçamentária de 2020, em discussão no Congresso, recursos para substituir a taxação do seguro-desemprego, prevista no texto como forma de subisidiar a contratação de jovens de 18 a 29 anos. Ele adiantou ainda que pretende incluir no programa trabalhadores com mais de 55 anos — que foram anunciados e depois excluídos pelo governo —, o que, estima, teria impacto de R$ 5 bilhões a R$ 7 bilhões, menos da metade da projeção da equipe econômica.

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- Existem manifestações de diferentes bancadas da Câmara e do Senado que não receberam bem a ideia de financiar a partir das contribuições previdenciárias cobradas de pessoas desempregadas. Esse item  tem uma chance muito grande de não prosperar no relatório – disse o relator, em entrevista exclusiva ao GLOBO.

Ao ser indagado se há espaço orçamentário para compensar a perda na arrecadação, decorrente da isenção da contribuição patronal das empresas que aderirem ao programa, respondeu que o Orçamento é uma escolha política. Segundo ele, há  expectativa em relação ao aumento das receitas da União no próximo ano, decorrente da recuperação econômica e da redução das despesas com o combate às fraudes no INSS.

- Com isso, você tem uma brecha no Orçamento para acomodar a despesa, até porque não preciso tratar disso na MP, criar essa fonte. O que vou apresentar no relatório é uma renúncia teórica das contribuições. Não preciso vincular uma fonte orçamentária - explicou.

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O relator também não pretende liberar os trabalhos aos domingos de forma irrestrita _ outro ponto polêmico da MP. Ele afirmou que isso só deverá ser permitido para determinados setores. Entre eles, entretenimento, serviços (sobretudo os de entrega por aplicativos) e  turismo.

- Sinto que há uma aceitação de um contingente grande de trabalhadores, desde que garantido o seu descanso semanal ou que o emprego esteja assegurado. Isso ocorre em todos os setores que já fazem um esforço grande para trabalhar aos domingos  - disse o parlamentar.

O relator destacou  que não vê  redução de direitos trabalhistas no Programa Verde-Amarelo, como a diminuição da multa de 40% do FGTS nas demissões à metade e da contribuição mensal para o Fundo de 8% para 2%, porque se trata de um acordo temporário e  específico. Pela proposta, os contratos na nova modalidade terão duração de até dois anos, sem possibilidade de renovação. Ele antecipou ainda que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) terá uma trava para evitar fraudes.

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-  Acho essa discussão supérflua porque esses novos empregados não serão submetidos a sua vida toda a uma situação diferenciada. Ao fim de 24 meses, o contrato migra automaticamente para as condições da CLT - observou.

Para o relator, as dificuldades políticas na base do governo prejudicaram o discurso de defesa do programa e atrasaram em um mês a instalação da comissão mista do Congresso que  vai analisar a MP.  Áureo, contudo,  não considera a batalha da comunicação em relação ao pacote de estímulo ao emprego  uma  “causa perdida”.  Para contornar o problema,  a estratégia é permitir um amplo debate na comissão com todos os envolvidos: representantes das empresas, dos trabalhadores e do governo.

Ele disse também que  o empregador não precisa ter receio de contratar na nova modalidade, ainda que a MP perca a validade em 2020, porque ela já está valendo:

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- Nós vamos trabalhar para dar a segurança necessária. Deve haver uma série de discussões dentro da MP, mas há convergência em relação à questão da empregabilidade.

Segundo o relator, com a instalação da comissão mista,  a MP vai tramitar normalmente e não será devolvida ao Executivo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pediu um estudo da consultoria jurídica, que concluiu que não há nada  inconstitucional que justifique a devolução da proposta ao governo, afirmou Áureo.

De acordo com o cronograma inicial, o colegiado tem até 20 de fevereiro para deliberar sobre o texto, sendo que, a partir do dia 6 daquele mês, a tramitação ocorrerá de forma acelerada, em caráter de urgência.