Cora Rónai
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Cora Rónai

Jornalista e escritora.

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Cora Rónai

Por Cora Rónai


É muito reconfortante começar a leitura de “Vitória, a rainha”, de Julia Baird, pelo fim: lá estão mais de 120 páginas de notas, referências bibliográficas e um meticuloso índice remissivo, prova de que autora e editores fizeram com cuidado o dever de casa. Em compensação, é um alívio começar pelo começo, onde se encontram uma lista de personagens bem elaborada, mapas e uma árvore genealógica que são de grande ajuda para quem se perdeu entre tantos nomes. Minha recomendação, porém, é começar pela página 423, onde a “Nota da autora” explica como a obra foi produzida. Depois das suas quatro páginas, o livro ganha uma outra perspectiva.

Julia Baird revela como os arquivistas do Palácio de Windsor, onde fez parte da pesquisa, quiseram extirpar partes do texto — prova de como é difícil, ainda hoje, desfazer velhos mitos, como o da velha rainha viúva e... vitoriana. O que ela nos oferece, em contrapartida, é a visão humana de uma mulher que viveu em circunstâncias únicas.

Depois desse livro, Vitória deixa de ser estátua, cachoeira e nome de estação ferroviária, e passa a ser gente.

Publicado pela Objetiva e traduzido por Denise Bottman, é o presente ideal para mães que gostam de biografias e de histórias bem contadas.

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Confesso: comecei a ler “O pó do herdeiro”, de Sandra Hempel, por causa da capa, ocupada toda ela por um vidrinho verde cujo rótulo traz os detalhes do conteúdo: “Uma história sobre envenenamento, assassinato e o início da ciência forense moderna”. Dá para resistir? Jornalista especializada em questões sociais e saúde, Sandra usa um assassinato de grande repercussão na Inglaterra vitoriana para nos contar, entre outras coisas muito interessantes, como já foi fácil comprar veneno, e como eram tênues, até outro dia, as provas “científicas” que determinavam a condenação ou absolvição dos réus. Ainda que o tema não combine com o almoço de domingo, este livro, editado pela Record e traduzido por Alessandra Bonrruquer, é um ótimo presente para mães curiosas, que gostam de ciências e de policiais.

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“Caderno de memórias coloniais” é o segundo livro de Isabela Figueiredo publicado pela Todavia: uma infância a olhos semicerrados idílica, manchada pela brutalidade da colonização. São pequenos textos, reflexões, crônicas, recortes do cotidiano, unidos pela intensidade da narrativa. Impossível não se comover com tanta vida. Para as mães que não têm medo de olhar para o mundo.

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A coluna é pequena, e os bons livros são muitos: chega a ser injustiça destacar apenas três. Há pilhas de tesouros nas livrarias, novas edições de “Matadouro número cinco”, de Kurt Vonnegut, um dos meus favoritos de todos os tempos, em edição da Instrínseca com tradução de Daniel Pellizzari; e no outro lado do espectro emocional, de “Poliana” e de “Poliana Moça”, nas traduções de Paulo Silveira, com um projeto gráfico encantador da Nova Fronteira, perfeito para presente. Há também “Eles e elas, contos da Broadway”, de Damon Runyon, com seus gângsteres e tipos estranhos, tão difícil de achar em português, em grande tradução de Jayme da Costa Pinto, com todo o capricho da Carambaia. Para mães nostálgicas, que adoram reencontrar velhos conhecidos — e todas as mães que amam um bom e belo livro.

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