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Bolsonaro repudia invasão da embaixada da Venezuela e GSI diz que governo não incentivou ação

Ocupação que durou 14 horas constrange Planalto no dia de abertura da cúpula do Brics em Brasília; Eduardo Bolsonaro havia apoiado ato
Apoiadores do presidente Nicolás Maduro protestam em frente à embaixada da Venezuela Foto: Gabriel Shinohara / O Globo
Apoiadores do presidente Nicolás Maduro protestam em frente à embaixada da Venezuela Foto: Gabriel Shinohara / O Globo

BRASÍLIA - O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República chamou de "invasão" a ocupação da Embaixada da Venezuela em Brasília por 15 partidários do líder opositor venezuelano Juan Guaidó nesta quarta-feira. No comunicado, o órgão também classificou de "inescrupulosos e levianos" aqueles que divulgaram informações de que o governo brasileiro teria apoiado a invasão. Os invasores permaneceram durante 14 horas na missão diplomática e se retiraram no início da noite. Ficou acertado que eles sairiam pelos fundos e escoltados pela Polícia Militar. Em seguida, os próprios policiais tirariam os carros dos apoiadores de Guaidó que estavam estacionados dentro da embaixada.

"Como sempre, há indivíduos inescrupulosos e levianos que querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade. O Presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da Embaixada da Venezuela, por partidários do sr. Juan Guaidó", disse a nota do GSI.

Pouco depois da divulgação da nota, o presidente Jair Bolsonaro usou o seu perfil no Facebook para repudiar a invasão da representação diplomática "por pessoas estranhas à mesma". "Já tomamos as medidas necessárias para resguardar a ordem, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", escreveu o presidente. Por temor de represálias, o governo determinou o fechamento da embaixada e de todos os consulados do Brasil na Venezuela.

A nota do GSI demonstra que a invasão provocou irritação no governo, principalmente por coincidir com a cúpula dos líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que acontece entre esta quarta-feira e amanhã em Brasília. A inviolabilidade das missões diplomáticas é um dos pilares das relações internacionais, e cabe aos governos anfitriões zelar pela segurança delas. Além disso, os demais países do Bric reconhecem Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela, ao contrário do Brasil, que reconhece Guaidó como "presidente interino".

Mais cedo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) havia tuitado em favor da ocupação, dizendo que "ao que parece está sendo feito o certo, o justo", já que o Brasil reconhece Guaidó como "presidente interino" da Venezuela. Ele também disse ao GLOBO que iria à embaixada para dar apoio aos partidários de Guaidó, o que acabou não ocorrendo.

O chanceler do governo Maduro, Jorge Arreaza, disse no Twitter que a embaixada foi invadida à força e responsabilizou o governo brasileiro pelo que ocorresse: "Fazemos responsável o governo do Brasil pela segurança de nosso pessoal e instalações diplomáticas. Exigimos respeito à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", escreveu.

Segundo o GSI, as forças de segurança tanto da União quanto do Distrito Federal estavam tomando providências para que a situação se resolvesse pacificamente e retornasse à normalidade. O batalhão Rio Branco, da Polícia Militar, está no local, mas não pode entrar na embaixada.

Depois de divulgar a nota atribuindo a invasão da embaixada a "partidários do senhor Juan Guaidó", o GSI divulgou uma nova versão do comunicado, excluindo essa informação. Na nova versão, o relato do GSI permanece reconhecendo que a embaixada foi invadida, mas o ato não é mais atribuído a pessoas ligadas a Guaidó.

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O governo de Maduro não tem embaixador no Brasil desde 2016, quando chamou Alberto Castelar de volta em protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff, mas mantém um encarregado de negócios, Freddy Meregote . Da mesma forma, o Brasil mantém um encarregado de negócios em sua embaixada em Caracas.

Na manhã desta quarta-feira, um comunicado divulgado pela “embaixadora” designada por Guaidó para o Brasil, María Teresa Belandria , afirmou que um "grupo de funcionários" da embaixada teria entrado em contato com os representantes do governo autoproclamado para informar "que reconhecem Juan Guaidó como presidente" da Venezuela.

Conselheiro de embaixadora indicada por Guaidó gravou vídeo
Conselheiro de embaixadora indicada por Guaidó gravou vídeo

O grupo, segundo o comunicado, “entregou voluntariamente” a sede diplomática da Venezuela no Brasil à oposição. Funcionários que estavam dentro da representação diplomática teriam sido notificados da ação e convidados a aderir ao movimento, "garantindo todos os direitos trabalhistas". O líder da ação foi Tomás Silva, nomeado por Guaidó como "ministro conselheiro" no Brasil.

Freddy Meregote , o encarregado de negócios da Venezuela no Brasil, nomeado pelo governo de Nicolás Maduro , afirmou que a embaixada foi invadida, em uma ação calculada para coincidir com a cúpula dos líderes do Brics. No meio da manhã, Meregote foi até a grade da embaixada fazer um pronunciamento e disse que o “imperialismo norte-americano” está por trás da ocupação.

Outras sedes diplomáticas da Venezuela já enfrentaram problemas. Em abril, ativistas americanos que se opunham a Guaidó ocuparam a embaixada em Washington depois de os últimos diplomatas que representavam Maduro deixarem o local. Os manifestantes permaneceram por seis dias, saindo presos pela polícia, chamada pelo representante do líder opositor nos EUA. No domingo, manifestantes atacaram a embaixada venezuelana em La Paz, após Evo Morales, um aliado do governo de Nicolás Maduro, anunciar sua renúncia à Presidência da Bolívia. A embaixadora Crisbeylee González relatou que encapuzados com escudos e dinamite haviam invadido o prédio.