Rio Bairros

Jogadoras de futebol da Portuguesa lutam para se manter no time

Equipe ficou em quarto lugar no campeonato estudal deste ano
O técnico Sias Rangel com as jogadoras da Associação Atlética Portuguesa: em casa, muitas enfrentam resistência ao esporte Foto: Marcelo de Jesus / Agência O Globo
O técnico Sias Rangel com as jogadoras da Associação Atlética Portuguesa: em casa, muitas enfrentam resistência ao esporte Foto: Marcelo de Jesus / Agência O Globo

RIO —  As jogadoras do time feminino da Associação Atlética Portuguesa, tradicional clube da Ilha, sentem diariamente a dificuldade de estar num espaço destinado aos homens. A convenção, enraizada culturalmente, é reproduzida pelo técnico Sias: “Aos meninos, a bola. Às meninas, o balé”. Elas subverteram a sina em busca do tal sonho — não por acaso, um substantivo presente na boca de todas — de viver do futebol.

— É paixão. Nada se compara a você fazer uma boa partida. Só falta oportunidade — diz Jéssica Souza Gomes, de 28 anos, goleira e capitã do time. — Trabalhei três anos como frentista, sentindo aquele cheiro forte de combustível. Lá na frente talvez faça diferença na minha saúde, porque eu não me cuidava. Às vezes caía combustível na pele... Quis sair disso. Sei que é difícil, mas não impossível.

A atual equipe passou a jogar oficialmente em 2017. Este ano, a disputa das semifinais e o quarto lugar no torneio estadual foram comemorados como vitórias — uma vaga no Campeonato Brasileiro é uma das principais metas para 2019. Como a maioria das jogadoras mora na Baixada, os treinos costumam ocorrer em Nilópolis, às terças e quintas. Nenhuma delas recebe salário ou qualquer outro benefício, mas todas continuam por amor ao esporte e por encarar o time como um começo.

— Como as competições em outros estados acontecem em semestres diferentes, tentamos emprestar atletas para clubes que pagam salário, mas não é garantido — diz o técnico Sias. — Quero o melhor para elas. É um time querido no bairro. Sempre dá público quando jogamos aqui, e fizemos boas partidas. Na última, ganhamos do Cabo Frio por 3 a 0.

Para as mulheres, o desejo de seguir a carreira é muitas vezes motivo de resistência dentro de casa.

— Meus pais nunca me impediram, mas jamais deram apoio. Lembro de minha mãe dizer: “Você vai fazer o que lá? Comer a grama?”. Sempre tive que correr atrás do meu sonho — conta a volante Danielli Pedro, de 21 anos, que faz faculdade de Gastronomia.

Para se manter em campo, as jogadoras precisam se desdobrar. A lateral Laura Eduarda, de 20 anos, é motorista de transporte escolar e relata brigas com a mãe para continuar no futebol. A meio Roniere Nascimento, de 23, largou o trabalho como costureira para disputar o estadual. A lateral Bel Souza, de 19, já se virou como camelô e cuidadora de crianças.

— Até desacreditei do meu sonho, apesar de saber que tinha capacidade. Foi minha avó quem me convenceu a apostar. Ela disse: “Você não vai trabalhar mais”. De vez em quando, faço um bico para ajudar. Muitas amigas desistiram por não terem condições e não acreditarem nelas mesmas — conta Bel.

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