Economia Petrobras

'Ousadia e prudência': Silva e Luna assume Petrobras com promessa de combustível a preço internacional e acalma mercado

Cerimônia foi transmitida pela internet. Novo presidente agradeceu confiança de Bolsonaro, que o indicou para o cargo
A cerimônia de posse do presidente da Petrobras Silva e Luna contou com a participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Rodolfo Saboia, além do presidente do Conselho de Administração da estatal, Eduardo Bacellar. Foto: Reprodução/Bruno Rosa
A cerimônia de posse do presidente da Petrobras Silva e Luna contou com a participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Rodolfo Saboia, além do presidente do Conselho de Administração da estatal, Eduardo Bacellar. Foto: Reprodução/Bruno Rosa

RIO - O general Joaquim Silva e Luna tomou posse nesta segunda-feira como novo presidente da Petrobras, oficializando a troca no comando da estatal decidida pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro.

A cerimônia foi transmitida pela internet. Quatro funcionários de carreira da estatal também assumiram cargos de diretores executivos, conforme antecipou o GLOBO.

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Participaram da posse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Rodolfo Saboia, e o presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Eduardo Bacellar.

Novo presidente da Petrobras recebe crachá da empresa de Eduardo Bacellar, presidente do Conselho da estatal Foto: Reprodução/Bruno Rosa
Novo presidente da Petrobras recebe crachá da empresa de Eduardo Bacellar, presidente do Conselho da estatal Foto: Reprodução/Bruno Rosa

Em seu discurso, Silva e Luna agradeceu Bolsonaro pela indicação e afirmou aque pretende conciliar os diferentes interesses de acionistas, governo, petroleiros e consumidores em sua gestão.

Discurso acalma o mercado

Destacou também que vai manter a paridade de preços, baseada na cotação do petróleo e do dólar no exterior.

O teor da fala agradou o mercado, que interpretou a troca de comando na empresa como uma intervenção de Bolsonaro na estatal para controlar os preços dos combustíveis. Após a posse, as ações da estatal saltaram na Bolsa de São Paulo, a B3.

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Para analistas, a fala foi uma forma de acalmar os investidores que estão receosos de uma nova mudança na política de preços.

'Ousadia e prudência'

Silva e Luna, que deixou recentemente a direção de Itaipu para assumir a Petrobras, destacou a confiança de Bolsonaro em seu discurso:

O novo presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, lê discurso da posse Foto: Reprodução/Bruno Rosa
O novo presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, lê discurso da posse Foto: Reprodução/Bruno Rosa

- Serei breve. Entendo que quem chega deve chegar ouvindo mais e falando menos. Então vou começar pela conclusão, agradecendo. Agradeço ao presidente Bolsonaro que me indicou para o cargo de presidente. Confesso que me sinto honrado pela confiança e impactado pela responsabilidade. Entendo que essa sensação me mantém num ponto de equilíbrio entre a ousadia e a prudência.

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Ele continuou:

- É fazer tudo isso conciliando interesses de consumidores e acionistas; valorizando os petroleiros; buscando reduzir volatilidade, sem desrespeitar a paridade internacional; perseguindo a redução da dívida; investindo em pesquisa e desenvolvimento; e contribuindo para a geração de previsibilidade ao planejamento econômico nacional.

Impossível fazer 'omelete sem quebrar ovos'

Para Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec RJ, Silva e Luna falou em conciliar interesses de acionistas, governo, petroleiros e consumidores, o que na prática não é uma missão fácil.

— Evidente que não é possível equilibrar todos esses interesses e fazer um omelete sem quebrar os ovos, por isso permanece um pouco de desconfiança. Em algum momento ele terá que desagradar a algum desses lados. Mas foi uma boa surpresa, porque as expectativas eram muito mais no sentido de um discurso pró-governo, sem tantas concessões para o setor privado — afirma Braga.

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Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, também elogiou o trecho da fala do general que propõe reduzir a volatilidade dos preços praticados sem abrir mão da política de paridade internacional. Porém, ele ressalta que essas duas ações tendem a "apresentar antagonismos".

— Uma vez que a mudança no comando da petrolífera fora motivada pela insatisfação do Executivo com a política atual de preços, acreditamos que uma definição sobre os rumos da nova abordagem quanto à política de preços será o primeiro e principal desafio da nova gestão — destaca.

Diretoria renovada por novo conselho

Os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis desde meados de fevereiro desgastaram o então presidente da estatal, Roberto Castello Branco , que acabou sendo demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Ele no entanto cumpriu mandato até este mês, quando foi formalmente destituído. Antes de sair, a Petrobras elevou o preço do gás às distribuidoras em até 39% , o que levou a novas críticas de Bolsonaro que preocuparam investidores.

Silva e Luna e os quatro novos diretores tiveram seus nomes aprovados pelo Conselho de Administração da empresa em reunião realizada na sexta-feira. No encontro, um dos membros eleitos como representante de minoritários na assembleia de acionistas realizada há uma semana apresentou um pedido de renúncia ao cargo de conselheiro.

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Na cerimônia de posse, o general afirmou que vai se "inteirar, no mais curto prazo, do que for possível" com diretores e conselheiros da estatal "para alinhar percepções e avançar com a "cooperação e o comprometimento de todos".

'Meu passado é apenas referência', avisou

Silva e Luna disse que "quando o homem avança o que vai à frente é o seu passado".

- Mas o passado é apenas uma referência. O que se quer do novo presidente da Petrobras, imagino, é o novo que se espera que ele produza, em equipe, alinhado com a missão da empresa, liderando um time capaz de vencer desafios, nessa complexa conjuntura, entregando resultados.

Ministro fala em continuidade

O ministro de Minas e Energia também falou em continuidade. Em seu discurso, Bento Albuquerque enalteceu o currículo de Silva e Luna:

- Estou convicto de que sua formação vai contribuir para a continuidade  dos objetivos estratégicos da Petrobras -  disse, ao destacar a experiência "ampla e diversificada" do novo presidente da Petrobras. E desejou sorte: - Boa sorte, meu amigo.

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Em seu discurso, Bento Albuquerque citou a manutenção dos investimentos da companhia para os próximos anos,  o plano de desinvestimentos, a abertura do mercado de gás e redução de dívida, entre outros exemplos:

- Destaco os projetos de desinvestimento para reduzir a dívida e aumentar a capacidade de investimento - disse o ministro.