Por G1


Manifestantes protestam em Teerã, no Irã, contra a morte do general Qassem Soleimani em um ataque americano em Bagdá, no Iraque — Foto: West Asia News Agency/Nazanin Tabatabaee via Reuters

O ataque de drones que matou o líder Qassem Soleimani em 2 de janeiro aconteceu depois de uma semana de ações ofensivas entre o Irã e os Estados Unidos em território do Iraque. Ele era o general que comandava a atuação iraniana em outros países, e a sua morte foi ordenada pelo presidente americano, Donald Trump.

Dias depois, em 7 de janeiro, duas bases no Iraque que abrigam forças americanas e iraquianas foram atingidas por mais de uma dúzia de mísseis iranianos. A Guarda Revolucionária do Irã assumiu a responsabilidade pelos lançamentos dos mísseis em ambas as bases.

Assassinato de líder iraniano é capítulo de maior tensão entre Irã e EUA desde a revolução

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Veja a cronologia dos fatos:

Guga Chacra relembra histórico das relações entre Estados Unidos e Irã

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  • Sexta-feira, 27 de dezembro

Uma base militar de aliados dos EUA no Iraque foi atacada com mais de 30 mísseis. Um americano que não era do exército, mas que prestava serviços para as forças armadas, foi morto. Outros quatro americanos e dois iraquianos ficaram feridos.

Os EUA apontaram como culpada uma milícia chamada Kataib Hezbollah, apoiada pelo Irã.

  • Domingo, 29 de dezembro

Os americanos realizaram ataques em resposta e mataram 24 pessoas em bases de milícias no Iraque e na Síria.

Essas milícias iraquianas apoiadas pelo Irã são uma força importante: elas têm um grande número de representantes no Parlamento do Iraque.

Elas atuam no Iraque, mas são financiadas e orientadas pelo Irã. Quando os EUA impõem sanções aos iranianos, essas organizações reagem com ataques no Iraque, onde há presença de americanos.

  • Terça-feira, 31 de dezembro

Membros dessas milícias invadiram a embaixada dos EUA em Bagdá, a capital do Iraque. Na ocasião, Trump acusou os iranianos de estarem por trás dos protestos.

A embaixada ficou sitiada por pouco mais de 24 horas. Os líderes das milícias pediram para que ela fosse liberada na quinta-feira (2), e a ordem foi imediatamente cumprida.

  • Quinta-feira, 2 de janeiro

Os EUA executaram o ataque por drones no aeroporto de Bagdá, no Iraque, que matou Soleimani.

  • Sexta-feira, 3 de janeiro

Autoridades iranianas prometem vingança pela morte do general, considerado um dos mais importantes do país.

  • Sábado, 4 de janeiro

Trump diz que tem na mira 52 alvos no Irã e que não hesitará em atacá-los caso os iranianos atinjam algum americano. Entre esses alvos, estariam pontos importantes da cultura iraniana.

Mais tarde, foguetes atingiram três locais diferentes no Iraque, incluindo uma base aérea que abriga forças norte-americanas e uma área próxima à embaixada dos EUA em Bagdá, sem causar mortes.

  • Domingo, 5 de janeiro

O Irã anunciou que o seu trabalho de enriquecimento de urânio não respeitará mais o acordo nuclear de 2015, que fixava o processo de enriquecimento em 3,6%, e que sua produção não terá mais limites.

Esse tipo de urânio é usado para produzir combustível para reatores nucleares, mas, potencialmente, pode servir para a produção de armas nucleares.

O parlamento do Iraque pediu ao governo para encerrar as atividades de tropas estrangeiras no país e os EUA anunciaram uma pausa nas operações contra o Estado Islâmico em terras iraquianas.

Líder supremo do Irã e o presidente iraniano falam em vingança após ataque dos EUA

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Ataque a bases aéreas no Iraque — Foto: Amanda Pães e Roberta Jaworski/G1

  • Terça-feira, 7 de janeiro

Duas bases no Iraque que abrigam forças americanas e iraquianas foram atingidas por uma dúzia de mísseis, segundo o Pentágono. A Guarda Revolucionária do Irã assumiu a responsabilidade pelos lançamentos dos mísseis. Não houve registro de feridos.

  • Quarta-feira, 8 de janeiro

Um Boeing 737 800 caiu poucos minutos após decolar do aeroporto de Teerã. As 176 pessoas que estavam a bordo morreram. Três dias depois, o Irã admitiu que derrubou a aeronave, sem intenção, com um de seus mísseis.

Após o ataque às bases americanas, o presidente Trump disse que o Irã "parecia estar recuando" e não mencionou retaliações militares. O chefe de estado americano lançou novas sanções.

  • Quinta-feira, 9 de janeiro

O chefe da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária do Irã afirmou que o bombardeio contra as bases americanas no Iraque dá início a uma série de ataques contra os Estados Unidos no Oriente Médio.

Veja histórico recente do conflito entre Irã e EUA

A semana de conflitos e o ataque que matou Qassem Soleimani ocorreu em um contexto de escalada de tensão entre os Estados Unidos e o Irã.

Os dois países têm uma relação de confronto há décadas, e os desentendimentos e confrontos indiretos aumentaram desde que Trump assumiu o governo.

  • 2018: EUA deixa acordo nuclear

Em 2015, quando o presidente americano era Barack Obama, o Irã assinou um acordo nuclear com Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China.

O governo iraniano aceitou limitar o enriquecimento de urânio e ser supervisionado por inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU), em troca do fim de sanções econômicas.

Trump venceu as eleições em 2016, e uma de suas promessas de campanha era justamente acabar com esse tratado, sob a justificativa de que dois temas não estavam contemplados:

  • o fim de seu programa de mísseis;
  • e o envolvimento em conflitos no Oriente Médio –coordenados justamente por Soleimani.

Em maio de 2018, Trump tirou os Estados Unidos formalmente do acordo e, desde então, impôs novas sanções e tem ameaçado países que importam petróleo iraniano.

Desde então, o Irã passou a descumprir os compromissos que havia pactuado no acordo nuclear de 2015.

  • junho 2019: crise dos petroleiros e iminência de guerra

Em junho de 2019, incidentes levaram os dois países à iminência de um conflito armado. Trump chegou até a ordenar bombardeios, mas recuou em cima da hora.

Aquele conflitou se iniciou quando dois navios petroleiros que navegavam perto do Irã foram atacados. Os EUA apontaram os iranianos como responsáveis. O Irã negou.

Cerca de uma semana depois, o Irã revelou que derrubou um drone americano em seu território – os iranianos afirmam que a aeronave não tripulada sobrevoava perto de seu litoral.

Os EUA contestam essa versão iraniana: disseram que o drone estava sobre águas internacionais. Trump, então, resolveu retaliar e ordenou um ataque a alvos em terra no Irã, mas cancelou a iniciativa.

Na ocasião, os iranianos afirmaram que um conflito iria se espalhar pelo Oriente Médio e seria incontrolável.

  • setembro de 2019: incêndio em refinaria saudita

Em setembro de 2019, mísseis atingiram instalações de um complexo de óleo e gás na Arábia Saudita que pertencem à Aramco, uma empresa estatal.

A ação provocou incêndios de grandes proporções e derrubou pela metade produção de petróleo e gás na Arábia Saudita.

Os americanos afirmaram que os iranianos estavam por trás, e o Irã, novamente, disse que não eram os autores.

Os EUA acusaram os iranianos mesmo com a reivindicação de um outro grupo, os houthis. São rebeldes que lutam na guerra civil no Iêmen, um país no sul da Península Arábica.

Os houthis são apoiados pelo Irã no conflito. Eles disseram ter enviado dez drones para atacar as instalações da Aramco.

Há décadas relação entre Irã e EUA estão desgastadas

As relações entre Irã e Estados Unidos começaram a se desgastar ainda na década de 1950, quando serviços secretos americanos ajudaram na derrubada do chefe do governo iraniano Mohammed Mossadegh, com o objetivo de evitar a estatização das jazidas de petróleo do país. Posteriormente, os EUA apoiaram o governo do xá Reza Pahlevi, que passou a governar de forma absoluta.

Em 1979, a Revolução Islâmica forçou o xá a deixar o país. Sob a liderança do xiita aiatolá Khomeini, é fundada a República Islâmica. Em novembro, estudantes iranianos invadem a embaixada americana em Teerã, tomando como reféns 63 funcionários diplomáticos.

Em 1980, os EUA suspenderam as relações diplomáticas com o país. Em setembro, tropas do então presidente iraquiano, Saddam Hussein, invadem o sudoeste do país, o Ocidente fica do lado do Iraque na guerra que dura até 1988.

Clique aqui e veja outros momentos importantes da relação entre os dois países.

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