SÃO FRANCISCO — Uma nova espécie de peixe com vibrantes cores rosa e amarelo foi descoberta recentemente no arquipélago de São Pedro e São Paulo, na costa do Nordeste, em águas profundas próximas ao Rio Grande do Norte. Batizado como Tosanoides aphrodite , em referência à deusa grega do amor e da beleza, o animal encantou os pesquisadores brasileiros que participaram da expedição da Academia de Ciências da Califórnia.
Atualização: Inicialmente a matéria informou que a espécie foi descoberta no Morro de São Paulo, na Bahia, mas depois foi feita a correção para o arquipélago de São Pedro e São Paulo, a mil quilômetros da costa de Natal, no Rio Grande do Norte.
LEIA MAIS:
Cientistas descobrem espécie de formiga que explode para defender colônia
Juba cresce em leoa e intriga veterinários de zoológico americano
— Esse é um dos peixes mais bonitos que já vi — afirmou o cientista brasileiro Luiz Rocha. — Foi tão encantador que nos fez ignorar tudo ao nosso redor", acrescentou, referindo-se ao momento em que nem mesmo um tubarão que nadava bem próximo da equipe conseguiu desconcentrá-los. A cena foi registrada num vídeo publicado nas redes sociais da Academia.
— A nossa voz está fininha (no vídeo) porque a essa profundidade (120 metros) temos que respirar uma mistura de oxigênio com hélio! — explicou Rocha em entrevista ao GLOBO nesta quarta-feira.
Segundo o pesquisador, a área observada envolve habitats de corais que se estendem através de uma faixa estreita de oceano a 60 a 150 metros abaixo da superfície. Nesses recifes profundos, onde não é possível fazer o mergulho recreativo, os animais vivem em escuridão parcial, mas estão acima das trincheiras patrulhadas por submarinos e ROVs, que ficam ainda mais embaixo. Dessa forma, a equipe precisa usar equipamentos de alta tecnologia. Apesar de ser uma área de difícil acesso, a biodiversidade de lá também é vulnerável às ameaças da mudança climática.
— Cada vez mais estamos vendo que até nessas profundezas impactos humanos são evidentes. O famoso branqueamento de corais, comum em recifes rasos, também é observado nessas profundidades — disse Rocha, frisando que, no vídeo da expedição, é possível que o tubarão está com uma linha de pesca quebrada em sua boca. — Uma das formas de diminuir o impacto é criando reservas e parques onde não se pesca ou destrói o ambiente — completou.
O peixe afrodite habita fendas rochosas de recifes em áreas escuras e não é encontrado em nenhum outro lugar do mundo, de acordo com uma publicação do periódico "Zookeys" nesta terça-feira.
Segundo a gerente de laboratório Claudia Rocha, os machos são alternados com listras rosa e amarelas, enquanto as fêmeas exibem uma cor sólida, laranja-sangue. Usando um microscópio, a equipe contou as nadadeiras e mediu o comprimento da coluna. Análises de DNA revelaram que a nova espécie é o primeiro membro do gênero que vive no Atlântico.
LEIA TAMBÉM: Descoberta dobra população de raro peixe que ‘anda’ em vez de nadar
"A luz não penetra nessas profundezas, tornando os peixes invisíveis, a menos que sejam iluminados por uma luz como a que levamos enquanto mergulhamos", explicou Hudson Pinheiro, que faz parte de uma equipe de mergulho em águas profundas junto com Rocha.