Por Arthur Guimarães, Carlos de Lannoy, Leslie Leitão, Fernanda Rouvenat e Marco Antônio Martins


VÍDEO: Executivo afirma que Dr. Jairinho pediu agilidade para emissão de atestado de óbito de Henry

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Um novo depoimento dado à polícia indica que o vereador Dr. Jairinho (afastado do Solidariedade) tentou fazer com que o corpo de seu enteado, o menino Henry Borel, não fosse encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).

A testemunha é um alto executivo da área da saúde. Em depoimento prestado na tarde de quarta-feira (7), ele afirma que recebeu mensagens do vereador durante a madrugada de 8 de março. O contato teria sido feito pouco mais de uma hora após Jairinho chegar com a namorada, Monique Medeiros, mãe do garoto, e a criança - já morta - ao Hospital Barra D'Or.

O casal alegou que o menino sofreu um acidente em casa e que estava "desacordado e com os olhos revirados e sem respirar" quando os dois o encontraram no quarto e o levaram para o hospital. Laudo do IML apontou que Henry Borel sofreu agressões e tinha lesões em várias partes do corpo.

O Jairinho e Monique foram presos nesta quinta-feira (8) por atrapalharem as investigações do caso e por ameaçarem testemunhas para combinar versões. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que Henry foi assassinado. Falta esclarecer como o crime foi cometido.

A defesa do casal ainda não se manifestou sobre a prisão. Jairinho e Monique também não falaram ao serem detidos.

Henry Borel: veja o momento em que Dr. Jairinho e Monique são presos

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Mensagem de Jairinho pedia 'um favor'

De acordo com informações obtidas pelo Bom Dia Rio, Dr. Jairinho diz, em uma uma das mensagens, que precisava de "um favor".

Em depoimento, o executivo afirmou que o vereador ligou quatro vezes pra ele e que, na última tentativa, exatamente às 7h18, ele atendeu.

Disse que na ligação, Jairinho falou da morte do enteado em tom calmo e tranquilo, sem demonstrar qualquer emoção. O executivo disse que o vereador falou pra ele: 'aconteceu uma tragédia'.

Menos de dois minutos depois, eles desligaram e Jairinho voltou a mandar mensagem. Deu o nome do menino e emendou: “Agiliza. Ou eu agilizo o óbito. E a gente vira essa página hoje”.

Mensagem do Dr. Jairinho a executivo da área de Saúde — Foto: Reprodução/TV Globo

Executivo disse que ligou para hospital sem saber detalhes

O executivo contou em depoimento que, sem saber dos detalhes do ocorrido, ligou para o hospital para entender o que estava acontecendo e pedir que o corpo do menino fosse liberado com brevidade por causa do sofrimento da mãe, relatado pelo vereador.

Três minutos mais tarde, às 7h25, Jairinho reiterou: “Vê se alguém dá o atestado. Pra gente levar o corpinho. Virar essa página”.

O executivo entrou em contato com um diretor médico do hospital e recebeu a explicação que, diante do caso, não seria possível dar um atestado de óbito sem que o corpo fosse examinado no IML, como pretendia Jairinho.

"A criança chegou em PCR - parada cardiorrespiratória -, apresentando equimoses pelo corpo".

O executivo respondeu a mensagem minutos depois dizendo: “óbito sem causa definida. Pais separados. Pai deseja que leve o corpo ao IML. Padrasto é médico e quer que dê o atestado.”

VÍDEO: O que se sabe sobre a morte do menino Henry Borel, no Rio

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Vereador insistiu, mas hospital negou

Depois da explicação, o vereador ainda insistiu em novas tentativas de telefonema e mensagens. Ele chegou a apelar, dizendo que era um pedido da mãe. Mas o hospital não forneceu o atestado de óbito.

À polícia, o executivo contou que não atendeu mais as ligações do vereador por ter ficado completamente desconfortável com o pedido, com a situação e com o comportamento do Dr. Jairinho.

Jairinho e Monique disseram à polícia que levaram o menino ao hospital depois que o encontraram caído no quarto, com os olhos revirados e dificuldade de respirar.

Arte mostra a cronologia do dia da morte de Henry Borel e o que o laudo da necropsia aponta — Foto: Infografia: Amanda Paes e Elcio Horiuchi/G1

Histórico de agressões

Antigos vizinhos de Dr. Jairinho e da ex-esposa dele relatam agressões

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Amigos e vizinhos de um condomínio onde Jairinho morou com a ex-mulher, Ana Carolina Ferreira Netto, mãe de dois filhos do vereador, relataram uma rotina intensa de gritos e pedidos de socorro. “Todo mundo sabia que ele batia nela ali”.

Uma testemunha próxima do casal disse que, depois da separação, Dr. Jairinho tentou invadir o prédio. Uma das brigas aconteceu, segundo registro na polícia, no fim de 2013.

O laudo de exame de corpo de delito realizado pela ex-mulher em 2014, cinco dias depois da agressão, descreve quatro equimoses ou hematomas e afirma que há vestígios de lesão à integridade corporal ou à saúde da pessoa examinada, com possíveis nexo causal e temporal ao evento alegado.

Segundo o laudo, o instrumento que produziu a lesão foi uma ação contundente. O inquérito sobre a agressão sofrido pela ex-mulher do vereador foi arquivado sem investigação.

Resumo do caso Henry Borel

  • Henry Borel chegou sem vida a um hospital da Zona Oeste do Rio na madrugada do dia 8, com hemorragia e edemas.
  • Ele foi levado ao hospital pelo padrasto, vereador Dr. Jairinho, e pela mãe, Monique Medeiros. O casal alegou que o menino sofreu um acidente e que estava "desacordado e com os olhos revirados e sem respirar" quando o encontraram no quarto, no apartamento onde estavam;
  • Laudos da necropsia de Henry e da reconstituição no apartamento do casal afastam essa hipótese;
  • O documento informa que a causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática [no fígado] causada por uma ação contundente [violenta].
  • A polícia diz que, semanas antes de ser morto, Henry foi torturado por Jairinho. Monique sabia;
  • Nesta quinta (8), Dr. Jairinho e Monique foram presos temporariamente, suspeitos de tentar atrapalhar as investigações;
  • A defesa ainda não se manifestou sobre a prisão. Jairinho e Monique não falaram ao serem detidos.

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