Brasil

Bolsonaro afirma que tentará 'aparar' universidades e critica centros acadêmicos

Presidente eleito define espaço de encontro de estudantes como 'ninho de rato' e avalia que opositores vão chamá-lo de 'fascista'
O presidente eleito Jair Bolsonaro Foto: Reprodução
O presidente eleito Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

RIO — O presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou, em um pronunciamento ao vivo em sua página no Facebook, que tentará "aparar" as universidades, em uma crítica ao estado dos centros acadêmicos. Na mesma transmissão, ele também criticou o Enem e afirmou que quer ver a prova antes de sua próxima aplicação, no ano que vem.

— As universidades aqui, pelo amor de Deus, uma parte considerável delas é dinheiro jogado fora — criticou. — Olha o centro acadêmico, é tanta besteira que a gente vê, tem que ir na UnB em Brasília, fui lá em Santa Catarina, o cara... maconha, era camisinha, preservativo no chão, cachaça na geladeira, tudo pichado, parecia um ninho de rato.

Bolsonaro afirmou que mudar este cenário será "difícil".

— Vamos querer aparar as universidades, (vão) me chamar de homofóbico, fascista, ditador... A gente vai tentar mudar isso aí, porque o brasileiro, a maioria do brasileiro que votou em mim, não quer mais isso e ponto final. Eu também não quero isso.

Diretor de movimentos sociais da UNE, Eduardo Morrot condena a fala do presidente eleito e o acusa de incitar ódio nas universidades.

— É um completo absurdo. A política universitária é fundamental para melhorar o ensino superior. O centro acadêmico (CA) é um espaço democrático em que os alunos escolhem representantes de direita ou de esquerda para lutar por melhorias — assinalou Morrot, que é estudante de Relações Internacionais da UFRJ. - Todo discurso do Bolsonaro é baseado no ódio e na ameaça, mesmo que ele não faça isso diretamente, e ele insufla seus eleitores a agir no espaço público. Seu objetivo é calar os estudantes, porque ele sabe que a universidade é um espaço crítico.

Para Morrot, a universidade, "como espaço de pensamento crítico, é sempre estigmatizada", por receber grupos sociais e minorias, como estudantes LGBT.  O estudante recomenda que os centros acadêmicos se envolvam em ações comunitárias, mas reconhece que a falta de recursos para o ensino superior pode ser um empecilho.

João Boechat, presidente da Atlética de Direto UFF, que pendurou a faixa UFF Antifascista no final de outubro, classifica a fala de Bolsonaro como um "absurdo":

— Mais uma vez ele está querendo furar a autonomia universitária. A decisão do STF foi bem categórica em proteger a liberdade de expressão e de cátedra nas universidades. Não cabe esse tipo de informação (que Bolsonaro diz sobre como são os centros acadêmicos). Ele fala dos CAs porque foram um bastião de resistência na ditadura e estão sendo agora contra o cerceamento de liberdade.

O estudante acredita que o presidente eleito "deveria ser o primeiro a proteger" a circulação de ideias, já que este princípio está previsto na Constituição.