Os gritos de "Aldeia resiste", ouvidos em quase todas as manifestações no Rio, se materializaram nesta segunda (5). Um protesto que comecou às 16h30 virou festa quando a secretária de Cultura do estado, Adriana Rattes, deixou às 19h30 o antigo Museu do Índio, chamado de "Aldeia Maracanã" pelos indígenas, pedindo a saida dos policiais militares que faziam a segurança do local. Fisicamente, o lugar que havia sido invadido mais cedo era ocupado oficialmente e, aparentemente, de modo definitivo. A autoridade permitiu que os índios passassem a noite e adiantou que o local será transformado em um centro cultural indígena. A vigília, no entanto, será exceção, já que o centro não poderá servir de moradia. Nos próximos dias, ainda segundo ela, o tombamento do antigo Museu do Índio será assinado pelo governador Sérgio Cabral.
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Antes disso, líderes de 18 etnias, a própria Rattes e outras autoridades vão definir como o espaço será gerido, numa reunião que vai acontecer nesta terça (6). A proposta inicial do governo era ter por trás uma organização pública ou não-governamental, mas a ideia é refutada pelo advogado Aarão da Providência, que defende algumas das tribos.
"Eles querem que tenha uma ONG (na gestão), já foi falado o nome de Darcy Ribeiro, mas essa discussão não passa aqui. Se não houver protagonismo indígena na gerência e no pensamento desse centro, não faz sentido" disse Aarão.
Após a invasão de cerca de 10 índios, o grupo de cerca de 50 pessoas que ficou do lado de fora teve a entrada liberada. O comandante do 4º BPM (São Cristóvão), coronel Ronald Santana, chegou a negociar a saída de manifestantes, enquanto um advogado do grupo defendia a permanência no prédio.
Demolições suspensas
Nesta segunda, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anunciou que a Escola Municipal Friedenreich não será mais demolida, para obras da Copa do Mundo no entorno do Complexo do Maracanã. A instituição era apontada como uma das melhores do ensino no Rio. Cabral já havia desistido de demolir o Estádio de Atletismo Célio de Barros e Parque Aquático Júlio Delamare, também no Maracanã, na semana passada. As demolições foram alvos de protestos no Rio.
cânticos (Foto: Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress)
Entenda o caso
Indígenas desocuparam o antigo Museu do Índio em março, após confronto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar. Os PMs utilizaram spray de pimenta e gás lacrimogêneo para dispersar o grupo.Manifestantes revoltados, muitos com os rostos pintados, ocuparam as vias no entorno e bloquearam a Radial Oeste nos dois sentidos. Antes do confronto, a PM tentou negociar a desocupação do museu.
Entre os manifestantes havia estudantes, integrantes de grupos sociais e até ativistas do Femen. Uma delas, de seios de fora, foi detida pouco antes da invasão. Revoltada, ela gritava "assassinos". O fotógrafo do jornal "O Globo" Pablo Jacob foi atingido na perna por granada de efeito moral.
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.
Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.
O edifício com área de cerca de 1.600 m² está desativado há 34 anos. O grupo de indígenas que ocupava o prédio estava no local desde 2006. Eles batizaram o museu de "Aldeia Maracanã". Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.