Alguns nasceram em famílias como qualquer outra do Brasil e tiveram que, desde cedo, lutar contra barreiras sociais, raciais, de sexo ou mesmo limitações físicas. Outros cresceram em lares privilegiados, filhos de celebridades ou empresários, mas, mesmo assim, não aceitaram a zona de conforto e resolveram ser protagonistas da própria vida. Não importa. De todos os backgrounds possíveis, em um país tão plural (e desigual), os jovens talentos entrevistados para esta reportagem — todos com menos de 30 anos — já têm feitos que impressionam e boas histórias para contar. De uma forma ou de outra, eles injetam a dose de otimismo que precisávamos em um país que por vezes parece preferir o retrocesso à inovação.
Há a menina da Zona Oeste que gostava de dançar e hoje é uma artista plural que ajuda a empoderar garotas como ela. O empreendedor precoce que resolveu aproveitar a fama dos pais para fazer filantropia. A moça apaixonada por computadores que capacita mulheres em um campo em que elas ainda são poucas. A menina que lavava 800 copos por noite e hoje é uma mixologista premiada. O poeta que conseguiu multiplicar o amor pela leitura usando o Instagram. A fotógrafa brasileira que, com nada além de um iPhone, capturou Hillary Clinton e Aretha Franklin. A modelo que chegou à “Vogue” francesa com a beleza que supera gêneros. A jovem negra que, mesmo jamais tendo enxergado cores, sentiu na pele o preconceito racial e hoje tira minorias da invisibilidade.
Se há uma geração perdida, não é a deles, por mais que sobrem acusações de “narcisismo” ou “impaciência” quando se fala dos millennials, aqueles que nasceram entre meados da década de 1980 e o começo dos anos 2000.
Aos 24 anos, o empresário Daniel Peres Chor, uma das nossas estrelas de capa, tem como um de seus desafios entender a própria geração. E faz a defesa dela:
— Não é melhor nem pior, apenas diferente. Acho errado dizer que o millennial é narcisista, porque todo jovem sempre foi assim. Já a impaciência é verdadeira: nascemos no mundo da facilidade tecnológica, por isso não gostamos de ficar presos a um determinado espaço ou a uma função específica.
Um retrato do seu tempo é a blogueira de moda carioca Luiza Sobral, de 27 anos. O gosto por roupas e a desenvoltura nas redes virou um negócio graças aos seus 275 mil seguidores. Se alguém pode ver futilidade no meio das fotos perfeitas, ela avisa que é hora de rever conceitos.
— Quem fala isso é porque realmente lhe falta conhecimento. Já existe até graduação em mídias digitais para atender a essa demanda — avisa ela, que descreve sua geração como “consciente” e “informada”.
É também o que sente a atriz e cantora Lellêzinha. Com apenas 20 anos, a performer do Dream Team do Passinho fala com desenvoltura sobre a experiência de ser jovem no meio da crise que tomou o país nos últimos anos.
— Estamos mais preocupados, pensando mais em quem vamos votar, e isso gerou uma crise: Mais do que uma crise financeira, a crise é dos “maiores” (os políticos em Brasília) em descobrir que a gente está ligado nas coisas.
Essa noção de que há mais consciência agora do que antes é compartilhada pela empreendedora Camila Achutti (mais sobre ela a seguir). Aos 26 anos e responsável por capacitar jovens para o mercado, ela já vê diferença entre si e as meninas apenas alguns anos mais novas do que ela.
— Quando eu era adolescente, não sabia o que era empoderamento. Agora, já percebo uma maturidade na discussão entre as meninas — avalia.
No meio de tanta precocidade, Camila oferece algumas palavras de consolo para quem já passou da flor da idade:
— Hoje, todo mundo precisa ter uma grande ideia e ajudar o planeta. Isso gera uma ansiedade, mas cada carreira é de um jeito. Se você tem mais de 30 anos, não se sinta pressionada.
LELLÊZINHA
Aos 20 anos, Lellêzinha está acostumada a ser a mais nova aonde quer que vá. A jovem, que cresceu em uma comunidade da Praça Seca, na Zona Oeste, prepara-se para estrear na série “Mister Brau” ao lado do ídolo, Lázaro Ramos. Mas sua mais recente conquista foi passar a pagar o curso de inglês da irmã caçula.
— Muitas pessoas entenderam que merecem o que é bom também, em vez de aceitar só a sobra — avalia ela, que é referência para outras meninas com seu visual que valoriza a negritude.
ZECA VELOSO
Ser um filho de famoso doido para se autoafirmar não é um clichê do qual sofre Zeca. O rapaz, que tem como pais Caetano Veloso e Paula Lavigne, prefere a humildade, mesmo após ter criado um hit, a balada “Todo homem”. O talento foi revelado durante uma turnê ao lado do pai e dos irmãos, que ele descreve como sua “primeira experiência profissional”.
— Não acho que tinha outro caminho (além de ser compositor). Talvez seja o que eu faça de melhor, mesmo não sendo muito habilidoso.
ENZO CELULARI
Os pais, Cláudia Raia e Edson Celulari, por um tempo acharam que Enzo seria músico. Mas, depois que o rapaz de 20 anos ajudou a mãe a lançar um e-commerce, ele tomou gosto pelos negócios. Ao lado de dois sócios, abriu o Dadivar, instituto que quer mudar a forma de fazer filantropia. Em menos de um ano, já há parcerias firmadas com celebridades e empresas. E ele sonha alto:
— Hoje somos um instituto sem fins lucrativos, mas não sou contra ganhar dinheiro com um negócio social.
LUIZA SOBRAL
O que começou como um hobby virou a profissão da carioca Luiza Sobral. Hoje é uma das poucas influenciadoras digitais do Rio a ter alcance nacional. Ela dá a sua receita para não transformar a presença nas redes em uma ostentação cansativa:
— As pessoas querem ver a vida real e o consumo consciente faz parte do dia a dia. É bacana conhecer a história das grandes maisons , mas também é importante mostrar marcas brasileiras com preços justos e acessíveis — defende.
DANIEL PERES CHOR
Neto de José Isaac Peres, fundador da Multiplan, Daniel conta que em casa só existiam três assuntos: shopping, política e remédio. Muito novo para os remédios, ele fala dos dois primeiros. O rapaz concilia um posto na empresa da família com a sua Bazzah, empresa que investe na curadoria de neomarcas cariocas.
— Meu avô me ensinou que, se fosse esperar a crise passar para fazer algo, não tinha nada. Falta crença, mas há gente empenhada em fazer do Rio um polo de inovação — garante.
NATHALIA SANTOS
A youtuber carioca Nathalia, de 25 anos, brinca que é “a menina de todas as cotas”:
— Sou negra, mulher, favelada, e, ainda, cega! — diz ela, que não deixou nada a impedir, no entanto, de conquistar o diploma de Jornalismo na ESPM.
— Faculdade é uma coisa banal para muita gente, mas eu sou uma das primeiras da minha família a se formar — orgulha-se ela, que já foi comentarista no programa de TV “Esquenta” e comanda o canal “Como assim, cega?”, referência na luta pelas pessoas com deficiência.
— O que está acontecendo agora é que estamos sendo ouvidos. O próximo passo é a gente entender que cada um tem responsabilidade, tanto a sociedade quanto o governo.
JESSICA SANCHEZ
ão entrava bebida na casa de Jessica, 28 anos, que é filha de mórmons. Foi durante o tempo como garçonete que ela descobriu o talento para a mixologia, que lhe rendeu prêmios internacionais.
— Queriam uma menina no bar, mas não para fazer drinque, e sim lavar copo — conta ela, hoje dona do seu próprio gastrobar, o Vizinho, na Barra.
CAMILA ACHUTTI
Camila, 26 anos, era a única mulher na sua turma de Ciência da Computação na USP. Hoje, ela possui duas start-ups, a Ponte 21 e a Mastertech, além do site Mulheres na Computação. Ela já vê mudanças para elas no mercado e na academia.
— O comentário machista já não passa. Tivemos uma mudança qualitativa, agora falta a quantitativa — avalia.
RODRIGO SALVADOR
Rodrigo ainda estava na faculdade de Administração quando fundou ao lado do sócio André Simões a Passei Direto, start-up que já captou R$ 27,5 milhões. No futuro, ele cogita apoiar “partidos sérios”, dispostos a solucionar os problemas da educação nacional.
— O estudante brasileiro trabalha, dorme pouco e estuda no ônibus.
ANAVITÓRIA
Ana Clara Caetano Costa, de 23 anos, e Vitória Fernandes Falcão, de 22, formam a dupla Anavitória, um dos maiores fenômenos recentes da música nacional.
As meninas de Araguaína, no Tocantins, se conheceram no colégio e conquistaram um Grammy Latino de melhor canção em língua portuguesa pelo hit “Trevo (Tu)”.
Para Ana, a grande diferença da geração dela é a autonomia para pensar de forma independente:
— Sinto meus pais muito presos nos próprios ideais. Não se permitem viver as coisas por causa dos seus valores.
VALENTINA SAMPAIO
Nascida em uma vila de pescadores no Ceará, a embaixadora da L’Oréal Paris de 21 anos já foi capa da “Vogue” francesa e desfilou com Helen Mirren e Jane Fonda. Uma coleção de feitos, se pensarmos que o Brasil é o país que mais mata transexuais.
— Os padrões de antigamente têm ficado mais flexíveis — garante.
JOÃO DOEDERLEIN
Conhecido nas redes como @akapoeta, o brasiliense de 21 anos já teve suas poesias do Instagram compartilhadas por celebridades, além de um livro publicado pela Paralela. Ele diz se sentir responsável por seus 746 mil seguidores.
— Tento entender o meu lugar de fala; não acho que possa escrever sobre feminismo. Quando é o caso, cedo espaço para outras pessoas falarem.
LUISA GEISLER
Mesmo prestes a lançar o quarto livro e depois de uma indicação ao Jabuti, a gaúcha de 28 anos ainda hesita em se apresentar como escritora nas fichas de hotéis. Ela explica:
— A gente tem esse estereótipo do jovem estilo Zuckerberg, que chega botando o pé na mesa, mas a maioria é bem tímida. Ainda mais as mulheres, que são criadas pra não incomodar e fazer barulho. E escrever é justamente isso.
LUISA DÖRR
A gaúcha de 29 anos começou na fotografia fazendo retoques em imagens de casamentos.
No ano passado, sua conta no Instagram foi descoberta por uma editora da “Time”, que a levou aos EUA para fotografar mulheres pioneiras, como Hillary Clinton e Aretha Franklin, apenas com um iPhone.
— O olhar feminino é fundamental para dar voz a uma representação mais real e menos fetichista delas.
ETIENE MEDEIROS
Nem uma cirurgia fez a pernambucana de 28 anos parar: ainda se recuperando da operação no ombro, Etiene fala sobre seus sonhos para o futuro, após ter conquistado um feito inédito para o país no ano passado: ela foi a primeira brasileira a vencer o campeonato mundial de natação.
— Penso em fundar um instituto. O primeiro passo é promover uma educação familiar para o esporte.
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