Saúde Sociedade

China coloca 18 milhões de pessoas sob quarentena para frear coronavírus

Além de Wuhan, epicentro da crise, Huanggang também foi isolada; Ezhou, município vizinho, suspendeu sistema ferroviário
Pessoas aguardam em fila com máscaras por atendimento em hospital de Wuhan, na região central da China, onde a doença foi registrada pela primeira vez Foto: STRINGER / REUTERS
Pessoas aguardam em fila com máscaras por atendimento em hospital de Wuhan, na região central da China, onde a doença foi registrada pela primeira vez Foto: STRINGER / REUTERS

PEQUIM — A China colocou mais uma cidade em quarentena nesta quinta-feira na tentativa de conter a disseminação do novo coronavírus , que já deixou 25 mortos no país. Huanggang , onde vivem 7,5 milhões de habitantes, fica a 70 quilômetros de Wuhan , considerada o epicentro do surto — todas na província de Hubei. A medida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não tem precedentes.

ENTENDA : O que sabemos do coronavírus até agora?

A despeito do isolamento, a China confirmou na tarde desta quinta-feira a primeira morte fora de Hubei, na região central do país. Uma paciente de 80 anos morreu em Hebei, no Nordeste chinês.

Ontem, as autoridades da China já haviam anunciado o isolamento de Wuhan, que foi concretizado na manhã desta quinta-feira. Em Huanggang, todos os transportes serão interrompidos e seus acessos, fechados até novo aviso ao final do dia, anunciou o prefeito local. As cidades somam, juntas, 18 milhões de habitantes.

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Duas cidades menores, Chibi e Zhijiang, nos arredores de Wuhan, suspenderam o sistema de transporte público. Além disso, o governo restringiu as viagens realizadas às duas localidades. Uma terceira cidade, Ezhou, que fica entre as cidades de Wuhan e Huanggang, informou que interrompeu seu sistema ferroviário.

Não há, até o momento, imposição de quarentena. Na tarde desta quinta-feira, no horário local, o governo chinês anunciou que o procedimento seria estendido para as três cidades. A municipalidade de Xiantao, localizada no Sudoeste de Wuhan, fechou os acessos a uma auto-estrada.

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A província de Hubei anunciou nesta quinta-feira algumas restrições que valem para toda a região. Agências de viagem foram proibidas de atender clientes e organizar passeios turísticos. Viagens de negócios também foram suspensas. As instituições de ensino, incluindo desde o jardim de infância até a faculdade, só retomarão as aulas após o feriado do Ano Novo Lunar.

O governo chinês teme que o índice de transmissão do novo vírus cresça de forma exponencial na medida que centenas de milhões de habitantes deixam suas cidades para viajar dentro e fora do país para o feriado do Ano Novo Lunar, que começa no próximo sábado.

Estações fechadas

Em Huanggang, o governo determinou o fechamento de cinemas e cafés. Além disso, pediu aos moradores que não deixem suas casas salvo "circunstâncias especiais". Na manhã desta quinta-feira, boa parte da rede de transportes de Wuhan já havia sido suspensa.

Alguns veículos chineses reportaram, no entanto, que algumas companhias aéreas permaneciam operando na cidade de 11 milhões de habitantes após o início da vigência da quarentena, às 10h no horário local (1h da manhã em Brasília). A população já foi avisada para não deixar suas residências.

A mídia estatal, no entanto, divulgou fotos da estação de trem de Hankou, em Wuhan, praticamente deserta e bloqueada por portões, bem como cancelas interrompendo rodovias e vias expressas ao redor da cidade. Guardas estão patrulhando as principais estradas da cidade, segundo informou à Reuters um morador.

Em meio ao isolamento em Wuhan, residentes iniciaram uma busca por suprimentos, esvaziando prateleiras de supermercados e enchendo tanques de combustível de seus carros. Muitos também procuraram hospitais.

OMS elogia medidas

Pouco antes do começo da quarentena envolvendo a enorme cidade, na manhã desta quinta-feira, se formaram longas filas de veículos nas rodovias, enquanto peritos checavam a temperatura das pessoas que partiam da cidade.

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O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, avaliou que as medidas tomadas pela China na cidade de Wuhan irão diminuir os riscos de contaminação mundial. Ainda sobre as medidas tomadas pelo governo chinês sobre a cidade epicentro do vírus, Ghebreyesus ressaltou que são "medidas muito corretas".

Quase metade das províncias do país está em alerta, incluindo megalópoles como Xangai e Pequim. Em Macau, capital mundial dos jogos de azar, funcionários dos cassinos são obrigados a usar máscaras desde que um caso foi registrado na cidade.

Seguindo o pedido do presidente chinês Xi Jinping para "deter" a epidemia, Li anunciou medidas preventivas, como ventilação e desinfecção em aeroportos, estações ferroviárias e shopping centers. Sensores de temperatura corporal também serão instalados em locais movimentados, disse ele.

As políticas adotadas pelo governo chinês representam uma mudança radical em comparação à condução da crise da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), que matou 648 pessoas na China entre 2002 e 2003. À época, o país foi acusado de alertar a população muito tardiamente e de ocultar a gravidade da situação.

— As autoridades chinesas expressaram uma vontade de colaborar de maniera mais rápida e transparente do que na epidemia da Sars. É uma atitude muito diferente de 2003, ainda que persistam perguntas sobre o número exato de casos. Há a probabilidade de estarem subestimados — disse à Agência AFP Antoine Flahault, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra.

Entenda o coronavírus
1
2
O início
O que é
Em dezembro do ano passado, uma pneumonia de causa desconhecida começou a se espalhar por Wuhan, na região central da China. Os primeiros casos foram vistos entre visitantes e trabalhadores de um mercado onde são comercializados animais silvestres e frutos do mar
O coronavírus (Co-V) é uma família de vírus a qual pertencem as cepas que causaram, por exemplo, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).
634
pequim
CHINA
pessoas
infectadas
Wuhan
(Mers)
(Sars)
18
mortes
3
4
Os sintomas
Transmissão
Dor de cabeça
Normalmente ocorre pelo ar, por meio de grandes gotículas expelidas na respiração, ou por contato direto ou indireto com secreções
Nariz entupido
Tosse e garganta
inflamada
Febre e
mal estar
5
Prevenção
Por enquanto, as formas mais letais dos coronavírus não têm vacina nem cura. Mas algumas ações básicas podem ser tomadas para evitar o contágio:
Lavar frequentemente as mãos
Cobrir boca e nariz para espirrar ou tosssir
Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talhetes, pratos e copos
Manter ambientes bem ventilados
Evitar contato próximo com pessoas que tenham sintoma de infecção respiratória
Entenda o coronavírus
1
O início
Em dezembro do ano passado, uma pneumonia de causa desconhecida começou a se espalhar por Wuhan, na região central da China. Os primeiros casos foram vistos entre visitantes e trabalhadores de um mercado onde são comercializados animais silvestres e frutos do mar
pequim
634
CHINA
Wuhan
pessoas
infectadas
18
mortes
2
O que é
O coronavírus (Co-V) é uma família de vírus a qual pertencem as cepas que causaram, por exemplo, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).
(Mers)
(Sars)
3
Os sintomas
Dor de cabeça
Nariz entupido
Tosse e garganta
inflamada
Febre e
mal estar
4
Transmissão
Normalmente ocorre pelo ar, por meio de grandes gotículas expelidas na respiração, ou por contato direto ou indireto com secreções
5
Prevenção
Por enquanto, as formas mais letais dos coronavírus não têm vacina nem cura. Mas algumas ações básicas podem ser tomadas para evitar o contágio:
Lavar frequentemente as mãos
Cobrir boca e nariz para espirrar ou tosssir
Não compartilhar objetos de uso pessoal,
como talhetes, pratos e copos
Manter ambientes bem ventilados
Evitar contato próximo com pessoas que
tenham sintoma de infecção respiratória

Na ocasião da Sars, as autoridades chinesas demoraram meses para anunciar o surto e impediram, inicialmente, o acesso de especialistas da OMS à província de Guangdong, onde surgiu o problema. Agora, Pequim parece decidida a não repetir os erros de 2003.

Os próprios meios de comunicação estatais reconhecem que, na era das redes sociais, as agências governamentais "não podem ocultar a informação, embora desejem fazê-lo".

Para Zhong Nanshan, um cientista renomado de 83 anos que foi apontado como líder da Comissão Nacional de Saúde chinesa a despeito da idade avançada, a epidemia de 2003 não se repetirá. À época, Nanshan foi o principal rosto do combate à epidemia de Sars.

Casos subestimados

Hoje, o governo da China publica atualizações periódicas sobre o vírus e sua disseminação. Há 17 anos, ocorreu exatamente o contrário. O primeiro registro da Sars ocorreu em novembro de 2002, mas as autoridades chinesas só reconheceram o aparecimento da doença em fevereiro de 2003.

Um funcionário do Departamento de Estado americano concordou com a avaliação, sob condição de anonimato:

— Há sinais alentadores que indicam a compreensão do governo chinês acerca do problema, mas seguimos preocupados quanto à transparência das autoridades da China.

O número de casos reportados por Pequim diverge das estimativas de pesquisadores estrangeiros. Cientistas do Imperial College of London (Reino Unido) avaliam que o caso de infecções está na casa dos 4 mil, muito além dos 634 anunciados pela China.

Os demais casos foram registrados em Taiwan , Hong Kong , Tailândia , Japão , Coreia do Sul , Cingapura , Vietnã , Arábia Saudita e Estados Unidos . Um caso suspeito foi identificado no México . Aeroportos como o de Sydney ( Austrália ) e o de Heathrow, em Londres ( Reino Unido ) instalaram áreas de desembarque exclusivas para voos vindos de regiões afetadas pela doença.

Na China, quase 1,4 mil pessoas estão sob observação. Em caráter emergencial, a Organização Mundial de Saúde ( OMS ) reuniu especialistas nesta quinta-feira, em Genebra, na Suíca e decidiu que "não é hora " de declarar a crise como uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Esse procedimento aconteceu com a gripe H1N1, em 2009, o vírus Zika, em 2016, e a febre Ebola, que devastou parte da África ocidental de 2014 a 2016.